Cerca de 20% a 50% dos portadores de Miastenia Gravis apresentam tumor de timo. Em 11% há incidência elevada de timoma com alta mortalidade

O timoma é um tumor no timo, glândula localizada na região do tórax que fica entre os dois pulmões, e próxima da veia cava superior, principal vaso sanguíneo responsável por levar o sangue da parte superior do corpo para o coração. Uma das funções do timo é ajudar a manter o sistema imunológico ativo e, nos portadores de miastenia, ele produz anticorpos que bloqueiam a junção responsável pelo movimento dos músculos, acentuando ainda mais os sintomas de fraqueza muscular e fadiga – principais características da doença. É importante ressaltar que cerca de 20% a 50% dos portadores de Miastenia Gravis apresentam tumor de timo.

Além da Miastenia Gravis, outras doenças autoimunes podem se manifestar em pessoas com timoma, como a Aplasia de células vermelhas – quando o organismo tem capacidade reduzida de produzir glóbulos vermelhos, responsável por levar o oxigênio dos pulmões para os tecidos do corpo – e a hipoglamaglobulinemia, distúrbio caracterizado pela baixa produção de anticorpos que combatem infecções, deixando o indivíduo suscetível a elas. No caso dos miastênicos, outras doenças autoimunes podem se manifestar em paralelo, assim como outros tipos de câncer, além do timoma, como o hematológico, que afeta glóbulos brancos e vermelhos (leucemia, linfomas) e a Síndrome de Lambert-Eaton, geralmente associada ao câncer de pulmão. Logicamente que, quanto mais abalado está o sistema imunológico, maior as chances de outras doenças se instalarem, em especial, em pessoas com miastenia.

A cirurgia de retirada do timo (timectomia) é indicada para pacientes com timomas e hiperplasia do timo (quando há aumento da glândula), já que 40% a 90% dos casos podem ter remissão dos sintomas. De acordo com o Dr. Eduardo Estephan, médico neurologista e diretor científico da Abrami (Associação Brasileira de Miastenia), “é fundamental que haja uma avaliação cuidadosa do paciente, levando em consideração a idade, o sexo, a presença de timomas, a evolução da doença e o grau de comprometimento dos músculos do bulbo ou da musculatura respiratória para fazer o procedimento cirúrgico de forma segura”.

Segundo o artigo denominado “Miasthenia Gravis and Tymoma Surgery: A Clinical Update for the Cardiothoracic Anesthiologist”, traduzido para o português como “Miastenia Gravis e Cirurgia do Timoma: uma revisão clínica para o anestesiologista cardiotorácico” e publicado no Journal of Cardiothoracic and Vascular Anesthesia, todos os tecidos do timo devem ser removidos para melhorar os sintomas, o que pode levar semanas ou meses para alcançar a remissão.

O estudo ressalta que os procedimentos anestésicos para pacientes miastênicos que se submetem à cirurgia de retirada do timo têm peculiaridades importantes. Na avaliação pré-operatória, a dose total do anestésico deve ser diminuída, para anestesia local ou regional, devido a sua ação na transmissão neuromuscular. Para diminuir o risco de intubação prolongada, é prudente usar técnicas de anestesia regional, quando possível, e evitar a ventilação mecânica, pois os autores concluíram que ela está associada a maiores níveis de dor e recuperação pós-operatória mais lenta.

A analgesia peridural tem sido usada com sucesso em pacientes com timectomia, pois essa técnica reduz o consumo de opioides intravenosos e anestésicos gerais, além de estar associada a uma melhor função pulmonar após a cirurgia, acelerando a recuperação dos pacientes.

A conclusão é que as técnicas minimamente invasivas devem ser consideradas, pois reduzem a morbidade e aumentam as chances de recuperação. Além disso, a analgesia pós-operatória deve incluir técnicas de anestesia combinadas com analgésicos não opioides.

“O procedimento cirúrgico em miastênicos precisa ser criterioso, bem como a avaliação clínica e o exame físico, que devem ser complementados com exames laboratoriais, teste de função pulmonar e cardiocirculatória. A administração de medicamentos e a vigilância contínua nos primeiros dias do pós-operatório são fundamentais para a recuperação segura dos pacientes e para o sucesso do tratamento”, finaliza o médico.

Fonte: Dr. Eduardo Estephan

Neurologista do Ambulatório de Miastenia do Hospital das Clínicas (SP), do Ambulatório de doenças neuromusculares do Hospital Santa Marcelina (SP) e do Centro de Cérebro e Coluna (São José do Rio Preto). Atualmente, diretor científico da ABRAMI (Associação Brasileira de Miastenia).

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