• Entre os 33 experts em pesquisa em dor lombar responsáveis pelo artigo na The Lancet está a brasileira Lucíola Costa, profa dra do Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da UNICID – instituição apoiadora do estudo na América Latina
  • O uso excessivo de testes diagnósticos e tratamentos inadequados, como imagens, opióides e cirurgia, reflete que os pacientes em todo o mundo não estão recebendo os melhores cuidados, além de recursos serem desperdiçados

A dor lombar é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, afetando cerca de 540 milhões de pessoas em qualquer momento. No entanto, uma nova série de artigos em The Lancetuma das principais publicações científicas do planeta, destaca a medida na qual a condição é tratada inadequadamente, muitas vezes contra as diretrizes de tratamento de melhores práticas.

A evidência, estudada por pesquisadores em todo o mundo, inclusive a brasileira Lucíola Costa, profa dra do Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da UNICID, sugere que a dor lombar deve ser administrada na atenção primária, com a primeira linha de tratamento sendo educação e conselhos para se manter ativo e no trabalho. A UNICID foi a instituição apoiadora do estudo na América Latina.

No entanto, uma grande proporção de pacientes em todo o mundo é tratada em departamentos de emergência, são encorajados a adotarem longos períodos de repouso e se ausentarem do trabalho. Esses pacientes são comumente encaminhados para exames complexos de imagem como tomografia computadorizada ou ressonância magnética; cirurgias ou até mesmo recebem analgésicos opióides, que são inadequados na maioria dos casos de dor lombar.

“A maioria dos casos de dor lombar responde a terapias físicas e psicológicas simples que mantêm as pessoas ativas e permitem que elas permaneçam no trabalho”, explica o autor da série, Rachelle Buchbinder, Universidade de Monash, na Austrália. “Muitas vezes, no entanto, são tratamentos mais agressivos do benefício duvidoso que são promovidos e reembolsados”. [1]

A série analisa as evidências de países de alta e baixa renda que sugerem que muitos dos erros de países de renda alta já estão bem estabelecidos em países de baixa renda e de renda média. O descanso é frequentemente recomendado nos países de baixa e média renda, e os recursos para modificar os locais de trabalho são escassos.

A dor lombar resulta em 2,6 milhões de visitas de emergência nos EUA a cada ano, com altas taxas de prescrição de opióides. Um estudo de 2009 descobriu que os opióides foram prescritos para cerca de 60% das visitas do departamento de emergência para a dor lombar nos EUA. Além disso, apenas cerca de metade das pessoas com dor nas costas crônica nos EUA foram prescritos para o exercício.

No Brasil, cerca de 13% da população brasileira sofre de dor lombar. Segundo dados do Programa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) do IBGE, a dor lombar é a segunda condição de saúde mais comum no Brasil, ficando atrás apenas de hipertensão arterial.

“O Brasil segue uma tendência mundial perigosa de uso inadequado de testes diagnósticos e intervenções para pacientes com dor lombar. Apesar do conhecimento científico sobre dor lombar ter evoluído enormemente nos últimos anos, os profissionais de saúde permanecem fazendo uso excessivo de exames de imagem sem a devida necessidade, além de intervenções que não são baseadas nas melhores evidências científicas”, explica Lucíola Costa, profa dra do Programa de Mestrado e Doutorado em Fisioterapia da UNICID, uma das brasileiras que participou do estudo publicado pela The Lancet.

“Apesar de haver um grande número de estudos que não recomendam o uso rotineiro de exames de imagem para pacientes com dor lombar é difícil encontrar um paciente que nunca tenha realizado um desses exames. Isso é preocupante porque não há evidências de que exames por imagem da região lombar melhore os resultados do paciente, mas os pacientes encaminhados para exames de imagem são mais propensos a receberem cuidados desnecessários e cirurgia”, completa Lucíola.

Na Índia, estudos sugerem que o repouso na cama é frequentemente recomendado, e um estudo na África do Sul descobriu que 90% dos pacientes receberam medicamentos para dor como sua única forma de tratamento (ver o painel 1, papel 2 para outros exemplos).

“Em muitos países, os analgésicos, que têm efeitos positivos limitados, são rotineiramente prescritos para a dor lombar, com pouca ênfase nas intervenções baseadas em evidências, como exercícios. À medida que os países de baixa renda respondem a esta crescente causa de incapacidade, é fundamental que evitem o desperdício que essas práticas equivocadas implicam “, acrescenta o autor da série, Nadine Foster, Keele University, Reino Unido. [1]

O estudo Global Burden of Disease (2017) concluiu que a dor lombar é a principal causa de incapacitação em quase todos os países de alta renda, bem como a Europa Central, Europa Oriental, África do Norte e Oriente Médio e partes da América Latina, como no Brasil. Todos os anos, um total de 1 milhão de anos de vida produtiva foi perdida no Reino Unido por causa da incapacidade associada a dor lombar; 3 milhões nos EUA; e 300 mil na Austrália (ver GBD para estimativas específicas do país disponíveis [2]).

O peso global da deficiência devido à dor lombar aumentou em mais de 50% desde 1990 e deve aumentar ainda mais nas próximas décadas à medida que a população envelhece.

A dor lombar afeta principalmente os adultos em idade ativa. Raramente pode-se identificar uma causa específica da dor lombar, de modo que a maioria é denominada não específica e evidências sugerem que fatores psicológicos e econômicos são importantes na persistência da dor lombar. A maioria dos episódios de dor lombar é de curta duração com pouca ou nenhuma consequência, mas os episódios recorrentes são comuns (cerca de uma em cada três pessoas terá uma recorrência dentro de 1 ano de recuperação de um episódio anterior) e a dor lombar é cada vez mais conhecida como condição duradoura.

Os autores dizem que os sistemas de cuidados de saúde devem evitar tratamentos nocivos e inúteis apenas oferecendo tratamentos em pacotes de reembolso público se a evidência demonstrar que eles são seguros, eficazes e econômicos. Eles também destacam a necessidade de abordar equívocos generalizados na população e entre os profissionais de saúde sobre as causas, o prognóstico e a eficácia de diferentes tratamentos para a dor lombar.

“Milhões de pessoas em todo o mundo estão recebendo cuidados incorretos para a dor lombar. A proteção do público contra abordagens não comprovadas ou prejudiciais para gerenciar a dor lombar exige que os governos e os líderes de saúde combatam estratégias de reembolso enraizadas e contraproducentes, levando em consideração os conflitos de interesses e más práticas de incentivos financeiros”, diz o autor da série, Jan Hartvigsen, Universidade do Sul da Dinamarca. “Os financiadores devem pagar apenas por cuidados que são comprovadamente eficazes, parar de financiar testes e tratamentos ineficazes ou prejudiciais, e intensificar a pesquisa em prevenção, melhores testes diagnósticos e melhores tratamentos”. [1]

NOTAS AOS EDITORES

[1] Citações diretas dos autores e não podem ser encontradas no texto dos artigos

[2] http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)32154-2/fulltext

https://vizhub.healthdata.org/gbd-compare/

Para saber mais clique no link :  www.thelancet.com/series/low-back-pain

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