Especialista do Hospital Paranaense de Otorrinolaringologia, referência no segmento, fala sobre a inovação que revolucionou a vida de milhares de pessoas

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que 10% da população brasileira é composta de pessoas que apresentam alguma deficiência auditiva, sendo que quase 3 milhões de brasileiros têm surdez profunda. Essa lesão pode ser bem significativa na idade adulta, principalmente entre os idosos, uma vez que pode levar à demência se não detectada. Segundo a Constituição Federal, são proibidos atos de discriminação à pessoa humana. O Estatuto do Deficiente, em seu artigo 4°, informa que: “toda pessoa com deficiência tem direito a igualdade de oportunidade com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

Apesar da garantia legal, os deficientes auditivos totais ou parciais enfrentam dificuldades no seu dia a dia e no mercado de trabalho. A surdez profunda é uma deficiência que afeta a personalidade e o convívio social do paciente, impactando no dia a dia. Desde os anos 70, uma técnica utilizada no país, inicialmente pelo Professor Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, contribui para que dezenas de milhares de pessoas com problemas auditivos tenham uma vida muito perto da normalidade: o implante coclear monocanal. Hoje a técnica evoluiu para multicanal, com vários eletrodos e resultados bem melhores.

A técnica começou a ser estudada na década de 1930, porém somente em 1957 os pesquisadores Djourno e Eyries compilaram os efeitos da estimulação do nervo auditivo em um indivíduo surdo com a colocação de fio metálico no nervo auditivo de um paciente submetido à cirurgia do nervo facial. Segundo o paciente, o ruído gerado era parecido com o som produzido por uma “roleta de cassino”. A partir deste momento, a tecnologia envolvendo implantes cocleares desenvolveu-se rapidamente.

Uma das principais referências na área é o Instituto da Audição e do Equilíbrio do Hospital Paranaense de Otorrinolaringologia (IPO), de Curitiba (PR), que recebe centenas de pacientes todos os dias em busca das melhores técnicas relacionadas ao diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças e distúrbios relacionados aos ouvidos, o nariz e estruturas dentro do pescoço (como garganta e cordas vocais). “Estima-se que 20% das pessoas têm problemas auditivos e de equilíbrio sem saber, por isso, quanto mais precoce for o diagnóstico e início do tratamento, maiores são as chances de sucesso”, conta o otorrinolaringologista do IPO, Rogério Hamerschmidt, que já realizou mais de mil cirurgias na área.

O implante coclear

O implante coclear trata-se de uma prótese eletrônica cirurgicamente implantada na orelha interna. É composto por duas unidades, uma externa, usada pelo paciente conforme sua vontade, contendo um microfone, um processador de fala e uma antena transmissora; e uma unidade interna, cirurgicamente implantável, que contém um receptor/estimulador e um fino cabo de eletrodos. “A cirurgia é rápida e segura, com poucas intercorrências ou complicações, sendo que na maioria imensa das vezes conseguimos a inserção completa de todos os eletrodos com respostas adequadas para o nervo auditivo”, explica o médico. A decisão sobre o implante coclear unilateral, bilateral simultâneo ou bilateral sequencial se baseia sempre em vários critérios audiológicos e anatômicos. “A decisão deve ser sempre tomada com toda a equipe multidisciplinar e levando muito em conta a vontade do paciente, ressaltando a importância da experiência acústica com aparelhos auditivos convencionais, principalmente em crianças”, finaliza.

foto: divulgação

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