A pandemia do novo coronavírus abalou o mercado da moda e deve causar mudanças para empresas e consumidores

Ainda é cedo para falar em números, mas os impactos da pandemia do novo coronavírus no mundo da moda já são evidentes. Desfiles e eventos cancelados, grandes marcas fabricando máscaras, lojas fechadas, consumidores em casa – e, na maior parte do tempo, de pijamas. Um cenário marcado por questionamentos e que antecede uma mudança intensa no mercado, segundo especialistas.

“Tudo vai mudar depois do novo coronavírus porque as premissas, crenças e propósitos vão precisar mudar. A gente vai ter que se adaptar a um novo ‘normal’”, afirma Luanna Toniolo, a proprietária do brechó online TROC.

Segundo ela, os consumidores estão repensando diversos aspectos de suas vidas e, consequentemente, do consumo – que tende a ser mais consciente daqui para a frente. “As pessoas passaram a se perguntar ‘por que eu vou comprar’ e não ‘o que eu vou comprar’. Faz sentido eu ter tudo isso?”, explica. “Isso acaba impactando diretamente o mundo da moda porque você tem uma desaceleração de consumo”.

A pesquisadora em tendências, Mariana Smolka, concorda. Para ela, que também atua como professora no curso de Moda do Centro Europeu, o novo coronavírus trouxe reflexões essenciais à tona. “É importante este momento da quarentena que estamos passando, ele faz a gente repensar. Será que preciso de mais coisas, sendo que o que importa mesmo é a família, é a saúde?”, questiona. “O consumo por consumo, neste momento de quarentena, é impensável”.

Com a atenção voltada para o essencial, tudo muda na forma de comprar, segundo Smolka. “Tenho um dinheiro, tenho um trabalho. Vem essa pandemia e mostra que nada é garantido. Então, como eu vou gastar este dinheiro?”, reforça.

Sustentabilidade e responsabilidade social ganham força

A supervisora do curso de Moda do Centro Europeu, Mariah Salomão, reforça que outras preocupações deve ganhar forma, entre elas, a sustentabilidade. Ela lembra que a quarentena foi positiva para o meio ambiente: com menos pessoas circulando, a natureza teve tempo para ‘respirar’ e essa constatação vai impactar o mercado. “A moda local, sustentável e consciente se torna urgente”, afirma. “A gente percebe que isso vai ter consequências também na forma de produzir, comprar e consciência do consumidor”, afirma.

Toniolo, que tem experiência nessa área, reforça. “Todo mundo já estava repensando a moda, a necessidade de tantas coleções, dessa velocidade de tendências”, afirma Toniolo. “Os consumidores estão tendo mais consciência, comprando produtos mais duráveis, mais versáteis”.

A chamada moda circular já é, há alguns anos, uma aposta de Toniolo e de sua empresa, a TROC, que vende roupas usadas online. “Quando a Troque chegou, a pergunta era ‘quem vai comprar roupa usada?’. E hoje 95% da nossa base são pessoas que não compravam e passaram a comprar. São mais de 100 mil compras já realizadas”, explica.

Smolka também destaca a responsabilidade social – outra tendência de mercado que deve ganhar força após a crise. De acordo com ela, os consumidores estão percebendo que é possível ajudar empresas locais e pessoas por meio da decisão de compra.

“Ao invés de eu comprar um hambúrguer no McDonald’s, eu vou querer comprar de uma hamburgueria local, artesanal, porque sei que vai estar ajudando uma cadeia menor, ao invés de quem está mais protegido dos impactos econômicos”, exemplifica. “Acho que os consumidores vão valorizar mais a vida. Não só a própria, mas a do próximo. Se eu for consumir, eu quero consumir sabendo que estou ajudando alguém”, enfatiza.

Look do futuro

Com tantas mudanças em curso, nosso look deve ser diferente no futuro. E as palavras de ordem, segundo as especialistas, são: versatilidade, sustentabilidade e propósito.

“Seriam roupas de brechó ou roupas com maior durabilidade e mais versatilidade. A gente já tem pesquisas que mostram que, até 2028, as roupas second hand vão ultrapassar o fast fashion”, afirma Toniolo. “Essa onda já existia, a gente só vai acelerar isso”.

Já Smolka aposta em escolhas pessoais mais práticas. “Acho que depois desse período em que as pessoas estão mais confortáveis – roupas de ficar em casa, pijama -, elas vão repensar. Será que precisamos usar roupa apertada, coisa que machuca?”, brinca.

“No geral, acho que vamos procurar roupas mais confortáveis, tranquilas, flexíveis. Aquelas que você pode fazer um vídeo em casa, ir na padaria ou encontrar com um amigo. Peças mais maleáveis. Tons mais claros e neutros, que você pode combinar e descombinar várias vezes”, afirma.

Para Salomão, além de mudanças, a mudança na nossa forma de comprar e vestir traz oportunidades. “É um momento para novos produtos, uma nova forma de vestir”, afirma. “Existe todo um mercado de acessórios, como as máscaras, que são um novo mercado”.

Segundo ela, quem está começando neste momento difícil deve estar atento a essas tendências. E tudo vai ficar bem. “Acho que quem está começando tem que olhar para essa crise como uma oportunidade e ver o que vai ser necessário daqui para a frente e como isso vai acontecer?”, explica. “Quem está começando agora está começando no pior cenário possível, então, ela só vai crescer”.

Somos um veiculo de comunicação. As informações aqui postadas são de responsabilidade total de quem nos enviou.