Por Marcelo Tertuliano*
Boa parte dos problemas das empresas é a falta de capital para custear a totalidade de seus projetos. Assim, é comum que tanto os líderes quanto suas equipes tendam a pensar que, com mais recursos financeiros, com mais dinheiro em caixa, criar-se-ia a situação ideal para que estes investimentos se concretizassem e, como num passe de mágica, a produção atingiria toda a sua plenitude. Porém, quem trabalha em companhias onde não falta dinheiro para custear a produção sabe que essa não é uma verdade absoluta. Não mesmo…
Observo que existem alguns pontos que impedem a concretização de projetos tanto quanto – ou até mais – do que a falta de recursos. Posso abordar alguns deles para reflexão de quem trabalha em companhias que independem da captação de verbas para a produção. Sei que muitos profissionais se identificarão com situações que presenciei ou vivo e que são comuns a muitos líderes, gestores e equipes. Vamos a elas:
As áreas não se entendem – Não se sabe por que a produção não atinge o patamar desejado, a meta não é cumprida e, então, inicia-se uma caça às bruxas. A culpa é do RH, que não contratou os profissionais necessários para a execução do trabalho? Ou é da Produção, que não solicitou essa contratação? Ou, então, é de outros departamentos, que não se entendem, não conversam e não se alinham? O certo é que a produção pode não estar dentro da meta pelo fato de as áreas não trabalharem em sinergia, em conjunto, harmonicamente, e isso atrapalha o desempenho de toda a empresa. Promover esse entrosamento, a conexão exata para que o rumo seja tomado, não é tarefa fácil, mas, é necessária e se faz urgente. E são os gestores que devem chamar suas equipes à responsabilidade de exercer seus papéis no trabalho, porque não dá para esperar que ‘o outro’ faça aquilo que deve ser feito.
Falha na conexão entre líder e equipe – Se os gestores são capazes de motivar as equipes a fazer o trabalho que tem de ser feito, de maneira a alcançar resultados concretos, ao líder cabe se fazer entender, porque é ele quem direciona todo o projeto. Ele deve ser um facilitador estratégico, que propicia o acesso às informações e ferramentas necessárias para que a produção se amplie, ao mesmo tempo em que seja receptivo a ouvir o que as equipes lhe trazem de feedback. Aprender com as equipes faz o líder mais engajado também, com conexão direta com as áreas e conhecedor de mais atividades que lhe propiciam uma visão 360o.
A confiança anda em baixa – Se você precisar se ausentar, tem a garantia de que o trabalho será bem feito? Ou acredita que, em sua ausência, haverá problemas? Seja você um analista, gestor ou líder, necessita trabalhar com confiança em sua equipe, em seus pares. Um grupo de trabalho coeso se dirige para o mesmo objetivo e sabe das potencialidades e limitações de cada um, buscando ajuda, assumindo erros, contornando problemas e se apoiando, mutuamente. É fundamental que todos tenham a mesma vontade de vencer, de entregar e de produzir para que essa confiança se instale, de maneira espontânea, mas, com condições baseadas na objetividade, em critérios práticos, que levem aos resultados.
Não há ajuste entre a expectativa e a realidade – Existe todo um discurso em torno da produtividade e sabemos que uma dimensão importante da medida do nosso sucesso é a entrega. Quando a empresa mantém níveis de crescimento, mas essa entrega, porém, não condiz com as expectativas dos acionistas, é necessário rever imediatamente processos para superar os desafios. Eu não gosto de perder e não quero perder. E desconheço quem goste ou quem o queira. Então, é eficaz usar essa energia da perda como motivação para trabalhar.
Obviamente, a falta de financiamento para produção de projetos é um entrave poderoso e perigoso, um inimigo de qualquer empresa, que não deve ser ignorado. Mas, aqui, não me refiro às empresas que lutam em busca de financiamentos ou de investidores que acreditem em seus potenciais, estou falando de companhias já estabelecidas e que têm problemas que já passaram, há muito tempo, desta fase. Hoje, elas encaram desafios de outras naturezas, que podem fazer com que o potencial de inovação, produção e gestão desses recursos seja aproveitado aquém do desejado justamente porque outros fatores, como os aqui citados, atrapalham todo o desenvolvimento da companhia e, em cascata, sua produtividade. E, neste cenário, realmente, não há dinheiro que baste para ampliar a produção.
*Marcelo Tertuliano é Administrador de Empresas, com 23 anos de experiência na função financeira, dos quais, 15 anos em posições de liderança. Atualmente está à frente da área financeira de uma grande mineradora em Moçambique.