Marca que tem em suas raízes a ancestralidade da mulher preta prepara um desfile inspirado no Recôncavo Baiano, nas mulheres que movem o mundo da fé, do axé, do samba de roda e da resistência

Para sua segunda coleção apresentada na São Paulo Fashion Week, sendo a primeira em formato presencial, Mônica Sampaio resgatou todas as referências que há seis anos solidificaram o propósito de sua marca, a Santa Resistência. Um trabalho de pesquisa que une a ancestralidade da mulher preta, a moda africana e a região do Recôncavo Baiano, onde nasceu, na cidade de São Félix. A coleção “Joias do Recôncavo” entra na passarela do evento no dia 19 de novembro, às 15h, como parte do projeto Sankofa.

“Jóias do Recôncavo” traz a história e as belezas da região

O Recôncavo Baiano é formado por um conjunto de cidades antigas, da época da colonização, sendo uma delas São Félix, onde nasceu Mônica. A cidade natal da estilista fica bem ao lado da cidade de Cachoeira que, juntas, formam o epicentro dessa região.

Foi lá que nasceram o samba de roda e grandes artistas da MPB como Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Também são de lá Maria Quitéria e Ana Nery e onde temos a origem dos primeiros cultos afro, junção das nações Jeje e Nagô, trazidas com os escravizados ao Brasil.

Uma região que ainda conta com quilombos e saberes ancestrais, e guarda a Irmandade da Boa Morte, uma verdadeira joia reconhecida pela UNESCO como patrimônio imaterial da humanidade. Um matriarcado de mulheres pretas que, por meio da fé, construíram um legado de arte, cultura, empoderamento e empreendedorismo feminino desde o Brasil colônia até os dias de hoje. Nascidas nas senzalas, elas lutaram por liberdade formando a 1ª confraria feminista do Brasil, de mulheres pretas e de axé, como hoje são conhecidos os cultos afro-brasileiros.

“Sabemos que todas as tribos africanas, que nos forneceram escravos, tinham as suas religiões particulares, as quais estavam longe de se constituírem em fator de integração. Assim, o tráfico de escravos dispôs o campo para o intercâmbio linguístico, sexual e religioso entre escravos e ex-escravos, resultando daí sincretismo religioso entre os santos católicos e os orixás africanos. O foco de irradiação do culto Jeje-Nagô foi a Bahia, com focos menores em Pernambuco e Maranhão. O novo culto viveu precariamente, sujeito à repressão policial, até a independência do Brasil. A partir de 1830, observa-se o início de uma nova fase do culto organizado de origem africana. E a Bahia de todos os santos chamou-se, também, Bahia dos Orixás”, trecho do texto de Florisvaldo Sampaio, físico nuclear e pai de Mônica Sampaio, no qual ele relata em detalhes a história da região com a religião.

Um história contada na passarela

Menina de Oyá, Mônica Sampaio, retorna ao lugar onde nasceu para falar de mulheres guerreiras que por dois séculos, mantêm a fé e a força. Mulheres pretas, que amam, trabalham, resistem e encantam.

“Nosso desfile faz uma homenagem a essas mulheres além de um resgate de minhas próprias raízes. A ideia é narrar como mulheres pretas com fé mantiveram os laços familiares, construíram sua história e deixaram um legado cultural que hoje é patrimônio imaterial da humanidade”, conta Mônica Sampaio.

“Joias do Recôncavo” da Santa Resistência desfila no dia 19, exatamente um dia antes da data histórica do 20 de novembro, Dia da Consciência Negra (em homenagem a zumbi dos palmares), ao som percussivo do grupo Afrodescentes, projeto social de São Félix, com casting 100% de mulheres pretas.

“Levaremos para a passarela a nossa arte representando as mulheres pretas da região. Elas que são as verdadeiras joias do recôncavo”, destaca a estilista que apresenta 17 looks divididos em três blocos:

  1. Memórias de Oya

Mônica inicia sua história com a paisagem do recôncavo. Looks em cores fortes, contrastantes e estampas, como um degradê que reproduz o pôr-do-sol em São Félix e a flor do deserto contrastanto com o verde típico da região. Esta última é quem abre o desfile colo de fuxicos feito por artesãs de São Félix, uma técnica criada por mulheres pretas que ganhou popularidade em todo o país.

  1. Mulheres do Recôncavo

Sua narrativa continua com o sol do recôncavo encontrando o céu da Bahia em uma cartela de composições inusitadas de azul royal e laranjas, além de imagens de São Félix e de Cachoeira nas estampas em shapes longilíneos nos vestidos e um toque de alfaiataria preta. Nos acessórios, biojoias da CerraD’Ouro, com técnica de embalsamamento de flores, folhas e sementes naturais recolhidos quando caem ao chão, com perfume das joias de crioula, uma das criações oriundas da Irmandade da Boa Morte.

  1. Transmutação de Iansã

A trilogia é concluída partindo do brilho intenso do amarelo até o branco da fé das filhas de santo do recôncavo. A coleção evolui para o total white, com Iansã, a orixá que se transmuta em búfalo e borboletas, fechando o desfile com a energia da transformação

Tecidos e cartela de cores

Os tecidos são mesclas de tecidos naturais de algodão e tecnológicos para estampas, malha 100% algodão e toque de seda, renda Guipire, alfaiataria em sarja com tecido 100% sustentável em polinesia laranja e forro em ágatha laranja (tecido sustentável) e laise de bico 100% algodão.

Na cartela de cores encontramos o verde floresta, o azul royal, o laranja, o amarelo queimado e o branco.

A cenografia terá objetos da artista premiada internacionalmente Nádia Taquary, como esculturas e instalações que revelam uma investigação artística de uma poética relativa à história do Brasil, através de um olhar contemporâneo sobre a tradição, a herança africana, ancestralidade diante da opressão e da esperança de liberdade e o poder gerador feminino.

Sobre Mônica Sampaio e a Santa Resistência

Vinda de uma família do Recôncavo Baiano e filha de um físico nuclear, a carioca Mônica Sampaio faz parte da nova geração de mulheres pretas no Brasil, tendo construído uma carreira bem-sucedida ao longo de duas décadas. Foi uma das primeiras mulheres pretas engenheiras eletricistas da Varig, passando por multinacionais e até pelo Exército brasileiro. Aos 45 anos, decidiu seguir o sonho de ter a própria marca de moda e recomeçou a carreira com a Santa Resistência.

A marca já nasceu enaltecendo a estética afro-brasileira, no formato slow-fashion, produzindo peças atemporais, desenhadas, recortadas e costuradas com calma, com alma e com uma cadeia de produção justa e consciente.

A nova coleção dá continuidade a uma pesquisa histórica de modelagens e matérias-primas que dão origem a looks fluidos, peças em alfaiataria e estampas marcantes em cores vibrantes.

Parcerias que viabilizaram as Joias do Recôncavo no SPFW

O desfile da Santa Resistência conta com o patrocínio da Lunelli, uma empresa de malhas, tecidos e estampas de qualidade ímpar e produzidos de forma ecoeficiente. Produtos que estarão presentes nos looks do desfile. E formando a dupla de patrocinadores, a marca também conta com a Prefeitura de São Félix (BA).

Seguindo a tendência de se unir a parceiros de propósito, o desfile também conta com o marcas apoiadoras, como a EcoSimple, pioneira no Brasil na produção de tecidos 100% sustentáveis, com matérias primas naturais e recicladas; a G.Vallone, que tem como propósito o apoio aos novos designers para incentivar e viabilizar o uso de tecidos naturais para tornar o mundo da moda cada vez mais consciente; a Teray Têxtil, uma empresa catarinense que conta com a maior curadoria em tecidos naturais em todo o Brasil; a Tecidos Kite, fabricante e importadora têxtil com perfil inovador e a frente do tempo, se destacando há 19 anos com suas ações no digital e engajada com sustentabilidade – carrega em seu portfólio uma plataforma digital inovadora para compras de artigos; e a linha Eco2Use, que é referência nacional por produzir tecidos eco-friendly sem deixar de lado o apelo fashion nas cores e texturas disponíveis.

Os estilistas do projeto Sankofa do SPFW, do qual faz parte a Santa Resistência, contam com empresas apoiadoras, como a do movimento Sou de Algodão, iniciativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que tem como propósito cultivar a moda responsável no Brasil e busca aproximar as marcas do Projeto de suas tecelagens parceiras; e a Sprint Têxtil que faz estampas exclusivas e tecidos com processos sustentáveis e materiais responsáveis em sua linha Going Green.

As modelos desfilam com biojoias da CerraD’ouro e sapatos da Design Floresta, ambas marcas nascidas e buscam inspiração e matéria-prima no cerrado.

Santa Resistência na 52ª edição da São Paulo Fashion Week

Dia 19 de novembro, às 15h

Coleção: Joias do Recôncavo

Site: www.santaresistencia.com.br

Instagram: @santaresistencia

Facebook: @srsantaresistencia

Ficha Técnica Santa Resistência na 52ª SPFW

Direção Criativa: Mônica Sampaio (@santaresistencia @monicabsm50)

Stylist: Anderson Vescah (@vescah)

Beauty: Liege Wisniewski (@Liegewisniewski)

Assist. Beauty: Letícia Souza, Sol Rocha, Cristiane Silva e Ana Carolina

Hair: Ivana Santos (@ivanajsantos)

Assist. Hair: Daniele Ramires, Karen Karina, Talita Ramos e Pamela Franco

Produção executiva & backstage: Aldo Clécius (@aldoclecius)

Camareira: Edna

Modelistas: Railda Costa (@railda.c), Íris Azevedo (@iris.azevedo.925) e Maria do Carmo

Costureiras: Vânia Maria Gomes, Deolinda dos Santos, Maria Gomes

Plissador: Célio Gorni

Cortador: Edyson José do Carmo

Apoio de corte Italo willian (@italowillian)

Arte Design: APUAN (@apuandesign @okevony @rafaelosants)

Direção de Casting: Anderson Vescah, Mônica Sampaio e Aldo Clécius

Assessoria de Imprensa: Jhon Helder (@jhonhelder_) e Antonio Montano (@antoniomontano)

Trilha Sonora: Banda Afro-descententes (São Félix BA) (@afrodescententes2013)

Pesquisa conceitual: Mônica Sampaio e Aldo Clécius

Pesquisa histórica: Prof Florisvaldo Sampaio

Vídeo de abertura: produtora Sabotage (@sabotage_filme)

Editor: Daniel Veloso

Gestão de Marca projeto Sankofa: Rafael Silvério (@silveeerio)

Produção Executiva de Projeto Sankofa: Natasha Soares (@natashasoares__)

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