A cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance explica como se formam as cicatrizes e dá dicas de como acelerar o processo e amenizar a aparência do resultado final.

Cicatrizes são algo natural e a maioria das pessoas possui alguma, seja devido a cirurgias, acidentes ou até mesmo acne. Porém, algumas pessoas podem incomodar-se com elas, principalmente as cicatrizes cirúrgicas, por causa de seu tamanho ou aparência. Mas poucos sabem que, para que o resultado final da cicatriz tenha uma boa aparência, os cuidados devem ser tomados já no início do processo de cicatrização e não apenas depois que a cicatriz já está formada. Por isso é importante entender como este processo ocorre. Segundo a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery), a cicatrização acontece toda vez que existe uma interrupção da integridade dos tecidos, ou seja, quando uma célula passa a não encontrar a célula ao lado. A partir disso, para que haja cicatrização, o organismo inicia um processo chamado de inflamação. “Quando os tecidos se rompem, são liberadas substâncias que fazem com que as células mudem de comportamento e, ao invés de fazer a função específica daquele órgão, passam a se multiplicar, mudar de formato e comunicar outras células. Todo o corpo funciona para curar aquela ferida e é deste processo inflamatório que surgem sintomas comuns durante a cicatrização como dores, edemas e vermelhidão”, explica. “Com o passar do tempo, mesmo após a cicatrização, o processo inflamatório continua e acontece a substituição de fibras e células por estruturas mais resistentes e permanentes até que o tecido esteja fazendo função semelhante à anterior.”

É nessa fase que ocorrem as tentativas de controlar o processo com cremes, injeções e lasers. Porém, este controle é um grande desafio, pois o processo de cicatrização é tão complexo que qualquer desajuste pode deixar uma cicatriz diferente do tecido original. Diversos são os fatores que podem influenciar no resultado final de uma cicatriz. Por exemplo, fatores externos como o cigarro e a exposição solar podem contribuir para que o aspecto final da cicatriz não seja tão favorável. “A profundidade de derme afetada também influencia no resultado final. Se apenas a camada superficial da pele foi comprometida, as chances de uma cicatriz quase imperceptível são muito grandes. Se o trauma é mais profundo, atingindo a derme, o processo é mais demorado, requer mais trabalho do organismo e pode não deixar o tecido como antes”, afirma a especialista. Além disso, infecções causadas por bactérias e condições clínicas como desnutrição, diabetes e idade podem afetar a aparência da cicatriz, gerando desde uma fase inflamatória mais prolongada até feridas com secreção e grande destruição ao redor.

De acordo com a Dra. Beatriz, alguns cuidados devem ser tomados para que o processo de cicatrização ocorra sem problemas e da forma mais rápida possível. Manter o local seco e limpo e respeitar as orientações do médico é importante para que não haja o risco de infecções. Outro cuidado importante é diminuir a tensão entre um lado e outro da ferida, imobilizando o local e evitando fazer esforço. “Uma maneira de ajudar a diminuir a tensão é utilizando curativos oclusivos com fita adesiva, como se fossem pontos falsos por pelo menos 3 semanas”, destaca a médica.

A hidratação da cicatriz também é um fator fundamental. Estudos apontam que o simples ato de hidratar a área pode favorecer o resultado final. O benefício da aplicação de silicone em gel ou em fita sobre o local é comprovado cientificamente. “Porém, o principal cuidado durante a cicatrização é a fotoproteção do local. Enquanto há atividade inflamatória, os melanócitos que produzem o pigmento da pele ficam mais ativos e podem funcionar mais que o desejado, por isso é importante não os estimular ainda mais deixando a pele exposta ao sol”, explica a cirurgião plástica. Para quem fuma, é importante parar com o hábito ao menos 1 mês antes e 1 mês depois da cirurgia para que não haja problemas no processo de cicatrização.

A Dra. Beatriz Lassance explica que existem ainda alguns alimentos e suplementos que auxiliam e aceleram a cicatrização, pois os nutrientes são muito importantes durante este processo. Por exemplo, as proteínas ajudam no aumento da imunidade e na revascularização do tecido, a Vitamina C acelera a regeneração tecidual e a Vitamina D regula diversas proteínas estruturais como o colágeno. “Normalmente recomendo aos meus pacientes, tanto antes quanto depois da cirurgia, uma dieta rica em proteínas, frutas e verduras e suplementos de vitamina C e D, que normalmente estão deficientes”, afirma. Procedimentos como luz pulsada, ultrassom e radiofrequência também aceleram o processo de cicatrização.

Na maioria das vezes as cicatrizes regridem e ficam ótimas sem qualquer tratamento, mas pode ocorrer de ficarem inestéticas. Apesar de permanentes, existem tratamentos que podem ajudar a escondê-las, amenizá-las ou torná-las quase imperceptíveis. Segundo a especialista, para estes casos pode ser usado o laser de CO2, que atua reorganizando o colágeno. Também podem ser aplicadas infiltrações de corticoide que inibem o processo inflamatório, porém existe o risco de ocorrer o alargamento das cicatrizes.

Em último caso é possível retocar a cicatriz, ou seja, começar todo o processo novamente. Os resultados podem ser satisfatórios, pois há menos tensão no local do que no procedimento inicial, mas também existe o risco de o tratamento não promover melhora alguma. “A cicatrização é um processo multifatorial e complexo que depende também da natureza do paciente. Por isso, consultas regulares com seu médico são fundamentais, pois apenas ele saberá indicar o melhor tratamento para cada caso”, finaliza a Dra. Beatriz.

FONTE: Dra. Beatriz Lassance – Cirurgiã Plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis – Amsterdam -NL e é Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery (ASPS).

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