Livro de Math’eus Borges tem viés artesanal, é interativo e repleto de poesias sobre os sentimentos durante o isolamento social

Como fazer um livro de poesias, com o objetivo de transmitir ao leitor um respiro de esperança e uma lição de recriar o mundo com novos olhares? O poeta Math’eus Borges mostra esse resultado em “O que habita inabitáveis lugares”, seu segundo livro, que reflete sobre as relações humanas e os sentimentos durante os dias de isolamento social. Em publicação interativa, que convida o leitor a completar trechos e decidir desfechos, a ideia é explorar um ambiente artesanal da poesia e é a partir disso que surge a relação com o leitor. Em entrevista sobre o livro, Math’eus conta sobre a mensagem que o livro transmite, suas inspirações para escrever e projetos futuros.

Quais temáticas o livro aborda?

A pandemia e o isolamento social são apenas um pano de fundo para as poesias. É um livro sobre relações, sobre convivência ou sobre ausência das convivências. Ele passa por diversas temáticas, como amor, política, perda, saudade e morte, que, desde 2020, ganharam uma outra dimensão poética e simbólica. O que habita inabitáveis lugares tem uma ligação muito forte com a arte, já que a produção faz parte do projeto “Ocupação Estanca”, ação cultural desenvolvida com outros artistas e que promove a interação entre literatura, artes visuais, fotografia, arte de performance e intervenção urbana.

O leitor pode completar palavras e trechos, decidir desfechos, fazer anotações e desdobrar as capas para contar uma nova história visual. Para o lançamento, eu em parceria com a Nara Nimireia, trabalha com performance, e com a fotógrafa Beatriz Ataidio, artista plástica e visual, fizemos um vídeo como se o personagem saísse do livro e aparecesse na tela. O livro ganhou essa versão audiovisual, como se o livro ganhasse um curta-metragem para seu lançamento.

Qual a importância de escrever um livro retratando um momento tão delicado para todo mundo, como a pandemia?

Alguns dispositivos criativos me acionaram a fazer anotações e a escrever “O que habita inabitáveis lugares” desde o início da pandemia, ao longo do período de isolamento social mais severo. De lá para cá, vivemos uma série de transformações e o livro, por ter sido escrito nesse período, compõe não só uma trajetória pessoal, mas conecta outras trajetórias da vida cotidiana, psíquica e emocional das pessoas, já que a pandemia interferiu diretamente na vida de todes nós. O título traz uma série de perguntas sobre as relações humanas e os lugares de convivência, refletindo sobre o contemporâneo, trazendo à tona elementos que, a meu ver, parecem significativos e podem ser problematizados de maneira artística, ou seja, um olhar para os nossos tempos, respiros poéticos possíveis.

Qual a mensagem principal que o livro transmite ao leitor?

A mensagem central do livro tem a ver com a necessidade de recriar o mundo, seja o mundo interno, pessoal, particular, seja as relações de convivência e distanciamento. E também, rever as antigas estruturas, o porquê de não conversar com determinada pessoa, o porquê de não visitar tal amigo. Depois de um advento tão drástico como a pandemia, nos demos conta de recriarmos nossas convivências, voltar a frequentar lugares com novos olhos. Então, a grande mensagem é: recrie o mundo, busque centrar-se, busque compreender o tempo e o que a vida apresenta. O livro é esse sopro de esperança e, ao mesmo tempo, uma pulga atrás da orelha, para que a gente reviva e repense algumas relações.

Você já pensava em fazer um livro com tom poético antes ou a pandemia foi um empurrão? Além do isolamento, o que mais te inspirou a escrever esse livro?

Em 2019, eu publiquei o primeiro que era um pequeno livreto de poemas chamado “A Asa da Poesia”. Quando publiquei o primeiro livro, já sabia que publicaria o segundo. Então, a pandemia veio e afunilou a necessidade de dizer algo, de escrever um texto poético. Então, foi, também, um método de estudo e de pesquisa, onde, em trocas recorrentes, esse conteúdo foi sendo apresentado para algumas pessoas, para que eu pudesse ouvir diferentes impressões e delinear melhor os versos. Isso me trouxe a percepção de que não é só um segundo livro, é um avanço sobre uma pesquisa, que me dá possibilidades criativas, como poeta, para um terceiro título.

Já tem ideia do que será o terceiro título?

Bem, eu já tenho um texto pronto que vem sendo lapidado, aperfeiçoado e que eu gostaria de publicar. Por enquanto é um texto de gaveta, ainda está em construção. Trata-se de um ensaio poético que mescla dramaturgia e poemas, no qual relaciono diferentes referências de escritas que me atravessam. Quando digo que penso em publicar o próximo, é porque o start que escrever na pandemia gerou e o aprofundamento que isso proporcionou, me dá a impressão de que eu assumi a profissão de escritor. Aliás, isso também é uma coisa com a qual me identifiquei durante a pandemia e o isolamento, ao refletir sobre a poética do mundo e, profissionalmente, sobre novos caminhos de criação Então, vai surgir o quarto, o quinto livro, não necessariamente uma trilogia, porque são conteúdos poéticos diferentes. Agora mais amadurecido, o próximo título talvez venha ao longo de 2023, dependendo dos recursos.

Sobre o livro

“O que habita inabitáveis lugares”, do poeta Math’eus Borges, é um livro de poesia que trata das relações humanas durante a pandemia de Covid-19. A partir da abordagem de temas que ganharam uma nova perspectiva durante o isolamento social, o autor reflete sobre os novos tipos de relacionamentos e hábitos. O que habita inabitáveis lugares é uma publicação interativa, que convida o leitor a completar trechos e decidir desfechos, e faz parte do projeto “Ocupação Estanca”, que explora diversos processos artísticos em parceria com outros artistas. A publicação foi ilustrada por Lucas Bandeira, editorada por Tiago Mine e conta com projeto gráfico de Juliana Travassos.

Sobre Math’eus Borges

Atualmente com 29 anos, nasceu em Suzano/SP numa quarta-feira de primavera. É neto de caipiras, caboclos, mestiças e analfabetos e graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em sua vasta experiência como artista e articulador cultural constam livros, filmes, performances, intervenções urbanas, um podcast dedicado a poesia falada (AosprimatasPodcast), idealização e curadoria de eventos culturais como “D’êscambô – Festival Multicultural”, além de outras ações socioculturais, atuação em fóruns e redes, festivais e intercâmbios nacionais e internacionais, além de integrar comissões dedicadas ao debate e a implantação de políticas públicas em âmbito cultural. Math’eus também é ator, dramaturgo, arte-educador e iluminador, além de CEO da Okê! Produções Culturais e apaixonado por canetas de todos os tipos.

Mais informações sobre outras ações do projeto “Ocupação Estanca” no Instagram @aosprimataspoeta

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