Após mais de 270 dias utilizando a nova tecnologia, Larissa Strapasson, diz que ganhou qualidade de vida
Passados nove meses desde que a primeira brasileira passou a usar uma bomba de insulina automatizada e que chega o mais próximo de um pâncreas artificial – homologado e aprovado pela Anvisa para o controle do diabetes -, Larissa Strapasson, ficou em média 80% dentro do tempo do alvo de tratamento, sem apresentar quadros de hipo e hiperglicemias. Com tratamentos anteriores, o tempo de permanência não chegava a 60%.
No dia 31 de janeiro ela foi a primeira paciente adulta do Brasil a gerenciar o diabetes tipo 1 com uma tecnologia inovadora, que faz a leitura do nível de glicose e fornece a insulina automaticamente, conforme a necessidade do paciente.
“Há 13 anos eu acordava todas as noites para corrigir a glicemia. Com o novo sistema, as correções são feitas automaticamente. O pâncreas artificial híbrido me devolveu qualidade de vida, trazendo um alívio sobre a pressão constante que a doença exerce sobre um paciente com diabetes”, conta Larissa. “Antes, eu aplicava insulina seis vezes por dia e realizava a medição 15 vezes ao dia. Já havia passado por todo tipo de tratamento e nada chegou a este nível de segurança”, completa.
Através de um sensor e transmissor, o sistema recebe os dados de glicose via bluetooth, e envia para a bomba. Este dispositivo fica acoplado ao paciente e conectado ao tecido subcutâneo por uma cânula, para que ocorra a infusão de insulina. É possível acompanhar todos os dados do sistema através de um smartphone, além de conseguir compartilhar com até 5 cuidadores.
Ao todo, 780 pessoas já estão utilizando o pâncreas artificial híbrido no Brasil, sendo que em São Paulo o maior número de pacientes (372), seguido de Minas Gerais (121), Rio de Janeiro (88) e Paraná (60).
O médico endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes no Paraná (SBD-PR), André Vianna, que acompanha o tratamento da Larissa há anos, explica que a maioria dos pacientes com diabetes mantém uma interação média diária com a doença que gira em torno de 100 vezes ao dia, no que se refere a medição, aplicação de insulina, tomada de decisões e contagem de carboidratos.
“Essa nova tecnologia possibilitou um aumento aproximado de 20% no tempo dentro do alvo de tratamento quando comparada com as injeções. Isso equivale a 5 horas a mais por dia sem ter que se preocupar com o controle glicêmico. Fora isso, se comparado com os pacientes que utilizam as canetas no tratamento do diabetes, os resultados mostram em torno de 80% de redução nos episódios de hipoglicemia”, afirma André Vianna.
Ele conta que o algoritmo consegue identificar se e quando a pessoa terá um quadro de hipoglicemia e hiperglicemia, aumentando ou reduzindo as doses de insulina ou até suspendendo se necessário as aplicações de forma automática.
Fabricação – O Sistema MiniMed 780 G foi desenvolvido pela multinacional Medtronic e já possui registro na Anvisa desde o ano passado, sendo o primeiro pâncreas artificial híbrido avançado homologado e aprovado pela Anvisa. O novo sistema de bomba de insulina já é utilizado na Europa e começou a ser comercializado no Brasil neste ano e deverá auxiliar muitos pacientes com Diabetes tipo 1 — entre 7 e 80 anos – que precisam de múltiplas doses de insulina por dia para controlar a glicemia.
Segundo André Vianna, com a nova tecnologia, a única preocupação passa a ser com a contagem de carboidratos antes das refeições, mas o cálculo da dose de insulina é realizado pelo próprio aparelho. Caso a contagem de carboidratos esteja errada, o próprio algoritmo do aparelho faz as adaptações necessárias para evitar os altos e baixos de glicemia no sangue.
Para Vianna, o pâncreas artificial híbrido representa um marco na evolução dos tratamentos do diabetes. “Quando apresentamos um sistema de bomba de insulina com esse nível de automatização, mesmo em pacientes descompensados, é possível evitar complicações crônicas que podem afetar órgãos como olhos, rins, fígado, coração e sistema vascular”, diz o médico endocrinologista que coordena o Centro de Diabetes de Curitiba, localizado no Hospital Nossa Senhora das Graças.
Importante ressaltar que o sistema automatizado ainda precisa do suporte e acompanhamento do médico endocrinologista, além de orientação de educadores em diabetes, já que o usuário ainda precisa contar carboidratos e manter uma boa alimentação.
Diabetes no Brasil – De acordo com a edição de 2021 do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), o Brasil é o 6º país com o maior número de adultos entre 20 e 79 anos diagnosticados com o diabete mellitus: 16,8 milhões de pessoas. O mundo atingiu, em 2020, a meta prevista para 2030 no número de pessoas com diabetes. Nos dois últimos anos o aumento foi de 16%, segundo dados que integram o novo Atlas do Diabetes, divulgado pela Federação Internacional de Diabetes.
Atualmente a doença já atinge 537 milhões de adultos, com idades entre 20 e 79 anos, sendo 32 milhões nas Américas do Sul e Central. A previsão é que esse número aumente para 643 milhões em 2030 e 784 milhões em 2045.
Cerca de 10% possuem diabete tipo 1, em que a doença tem caráter autoimune. Ao mesmo tempo, cerca de 90% dos casos, o Diabetes se manifesta como o Tipo 2, que está relacionado ao sobrepeso, obesidade e maus hábitos de vida. Segundo o Atlas, metade dos adultos não recebe diagnóstico, o que dificulta entender a real dimensão da doença.
Os dados mostram ainda o crescimento da doença e colocam o Brasil no ranking entre os países em que há maior prevalência e despesas com tratamento. O custo estimado do diabetes no Brasil é de 42,9 bilhões de dólares, ficando atrás apenas da China e Estados Unidos, com US$165,3 bi e US$379,5 bi, respectivamente.