Estudo publicado no final de julho no European Heart Journal, um periódico da Sociedade Europeia de Cardiologia, mostra que dietas ricas em potássio estavam associadas a uma pressão arterial mais baixa, principalmente em mulheres com alta ingestão de sal
Pessoas que lidam com a hipertensão buscam diversas formas de controlar esse problema, que pode ser responsável por muitos danos ao organismo. Além de diminuir o sal e utilizar a medicação prescrita pelo médico, um estudo recente publicado no European Heart Journal confirmou mais uma forma dietética eficaz de controlar o problema: a inclusão de alimentos ricos em potássio. “É bem conhecido que o alto consumo de sal está associado à pressão arterial elevada e a um risco aumentado de ataques cardíacos e derrames. Além disso, a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal. A longo prazo, a hipertensão descontrolada pode levar a uma sobrecarga no funcionamento desse órgão, que pode culminar com a disfunção renal crônica ou falência renal. Por isso, é fundamental adotar meios de controlar o aumento da pressão”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. “O potássio ajuda o corpo a excretar mais sódio na urina. O estudo mostrou que o potássio dietético foi associado aos maiores ganhos de saúde em mulheres.
Vale lembrar que o aumento da ingestão de potássio tem sido relacionado também à prevenção de outros riscos cardiovasculares. Até o momento, vários estudos sugerem que o aumento da ingestão de potássio pode diminuir o risco de AVC e doenças da artéria coronária”, acrescenta a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “O consumo de potássio também é importante para prevenção de pedras nos rins. O cálcio anormalmente elevado na urina (hipercalciúria) aumenta o risco de desenvolver pedras nos rins. Assim, para reduzir a excreção de cálcio na urina, o consumo elevado de potássio reduz adicionalmente o risco de formação de pedra nos rins”, diz a médica nefrologista. Banana (cada 100g tem 358mg), abacate (485mg), salmão (628mg), batata (535mg), leite (154mg), espinafre (558mg), chocolate meio amargo (830mg), pistache (1.025mg), castanha-do-pará (659mg) e cogumelos (318mg) são considerados boas fontes de potássio.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que os adultos consumam pelo menos 3,5 gramas de potássio e menos de 2 gramas de sódio (5 gramas de sal) por dia. “Alimentos ricos em potássio incluem vegetais, frutas, nozes, feijões, laticínios e peixes. Em 2004, o Conselho para Alimentação e Nutrição do Instituto de Medicina – Food and Nutrition Board of the Institute of Medicine – estabeleceu, para os sexos masculino e feminino, o nível de Ingestão Adequada (IA) para o potássio em 4700mg/dia. A ingestão de potássio na dieta de muitas sociedades modernas é muito mais baixa do que este valor recomendado. Uma forma adicional de aumentar os níveis de potássio com impacto quase nulo nas calorias é por meio do consumo de cogumelos brancos. Simplesmente adicionar uma porção de 90 gramas, ou o que seria o equivalente a 5 cogumelos brancos médios, aos padrões alimentares aumentou vários nutrientes deficientes, incluindo potássio, bem como outras vitaminas B e minerais. Uma porção de 90g de cogumelos brancos crus (5 médios) contém 20 calorias, 0g de gordura, 3g de proteína, é muito pobre em sódio (0mg / <1% do valor diário recomendado) e conta com 286mg de potássio”, diz a médica nutróloga, citando um estudo do ano passado publicado no periódico Food & Nutrition Research.
O estudo publicado no European Heart Journal incluiu 24.963 participantes (11.267 homens e 13.696 mulheres) do estudo EPIC-Norfolk, que recrutou pessoas de 40 a 79 anos de clínica geral em Norfolk, Reino Unido, entre 1993 e 1997. A idade média foi de 59 anos para homens e 58 anos para mulheres. Os participantes preencheram um questionário sobre hábitos de vida, a pressão arterial foi medida e uma amostra de urina foi coletada. O sódio e o potássio urinários foram usados para estimar a ingestão alimentar. Os participantes foram divididos em grupos de acordo com a ingestão de sódio (baixa/média/alta) e ingestão de potássio (baixa/média/alta). Os pesquisadores analisaram a associação entre a ingestão de potássio e a pressão arterial após o ajuste para idade, sexo e ingestão de sódio. “O consumo de potássio (em gramas por dia) foi associado à pressão arterial em mulheres – à medida que a ingestão aumentava, a pressão arterial diminuía. Quando a associação foi analisada de acordo com a ingestão de sódio (baixa/média/alta), a relação entre potássio e pressão arterial só foi observada em mulheres com alta ingestão de sódio, onde cada aumento de 1 grama de potássio diário foi associado a uma redução sistólica de 2,4 mmHg da pressão arterial. Nos homens, não houve associação entre potássio e pressão arterial”, explica a Dra. Caroline.
Durante um acompanhamento médio de 19,5 anos, 13.596 (55%) participantes foram hospitalizados ou morreram devido a doenças cardiovasculares. Os pesquisadores analisaram a associação entre a ingestão de potássio e eventos cardiovasculares após o ajuste para idade, sexo, índice de massa corporal, ingestão de sódio, uso de drogas hipolipemiantes (para controle do colesterol), tabagismo, ingestão de álcool, diabetes e ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral prévio. Na coorte geral, as pessoas no grupo de mais alta ingestão de potássio tiveram um risco 13% menor de eventos cardiovasculares em comparação com aquelas do grupo com ingestão mais baixa. Quando homens e mulheres foram analisados separadamente, as reduções de risco correspondentes foram de 7% e 11%, respectivamente. A quantidade de sal na dieta não influenciou a relação entre potássio e eventos cardiovasculares em homens ou mulheres. “Os resultados sugerem que o potássio ajuda a preservar a saúde do coração, mas que as mulheres se beneficiam mais do que os homens. A relação entre potássio e eventos cardiovasculares foi a mesma, independentemente da ingestão de sal, sugerindo que o potássio tem outras formas de proteger o coração, além de aumentar a excreção de sódio”, diz a Dra. Caroline.
As médicas enfatizam que as descobertas indicam que uma dieta saudável para o coração vai além de limitar o sal para aumentar o teor de potássio. “As empresas de alimentos podem ajudar trocando o sal padrão à base de sódio por uma alternativa de sal de potássio em alimentos processados. Além disso, todos devemos priorizar alimentos frescos e não processados, pois são ricos em potássio e pobres em sal”, conta a Dra. Marcella.
Segundo a Dra. Caroline, controlar o consumo de sal é necessário e uma dica é, na medida do possível, preparar as próprias refeições, uma vez que dessa forma dá para diminuir a quantidade de sódio. “Nunca conseguiremos ter controle da quantidade de sal adicionado em uma refeição comprada em restaurante, fast-foods e delivery. Em casa, na preparação, uma dica é preferir temperos naturais para dar sabor à comida, como: alho, cebola, salsinha, cebolinha, coentro, limão ou outros de sua preferência. Devemos evitar também todos os alimentos que são altamente processados e ricos em sódio, como embutidos, temperos e molhos prontos, enlatados, conservas, queijos amarelos, sopas de pacote e macarrão instantâneo, carnes salgadas, salgadinhos para aperitivos, bolachas salgadas ou doces recheadas, margarina ou manteiga com sal, requeijão normal ou light, maionese pronta, patês, produtos com glutamato monossódico, como molho de tomate pronto, salgadinhos, sardinha em lata, farofa e temperos prontos”, conta a médica. “Assim como devemos adequar o paladar doce para reduzir os excessos de açúcar, o acréscimo de especiarias e temperos proporcionará sabor, sem excessos de sal. Temos ciência de que estratégias de redução de sal no nível social reduzirão os níveis médios de pressão arterial da população, resultando em menos pessoas desenvolvendo hipertensão e suas consequências, lembrando que a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal”, finaliza a médica nefrologista.
FONTES: *DRA. CAROLINE REIGADA: Médica nefrologista formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, com residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a médica participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez