Especialista em arte e moda explica o significado cultural e as sensações que as cores são capazes de nos proporcionar
Com certeza, elas estão bem na sua frente agora, te influenciando e mandando mensagens para o seu cérebro sem que você perceba. Seja através de sensações, por vias culturais ou experiências pessoais, as cores têm o poder de influenciar nosso humor, nossas emoções e até alguns de nossos comportamentos.
Para compreender alguns dos efeitos aos quais estamos sujeitos quando nos deparamos com diferentes matizes, João Braga, especialista em história da moda, membro da Academia Brasileira de Moda e professor de história da arte do bacharelado em artes visuais da Faculdade Santa Marcelina, explica que a simbologia das cores é fruto de um processo cultural. “Luto, no ocidente, é retratado com o preto; no Japão, com azul claro; já para as rainhas francesas do século XVI, como Luísa de Lorena Vaudémont, era o branco. Isso é um traço cultural, de uma região ou de um tempo”.
Em contrapartida, as cores podem ser responsáveis por nos trazer sensações que são irresignadas aos aspectos sociais e contemporâneos. “Por essas e outras, as marcas se utilizam das artes e das cores para passar sensações para seus consumidores. Um ventilador com hélices amarelas ou vermelhas não irá passar a mesma sensação de frescor que aquele com hélices azuis. Isso porque o vermelho e o amarelo são cores solares”.
As cores podem também estar relacionadas a desejos e vontades – mais uma vez ferramenta de grande utilidade para as marcas e a publicidade. “Se pensarmos nas grandes redes de fast food mundiais, a maioria tem logomarcas em vermelho e amarelo, que remetem ao ketchup e à mostarda, grandes realçadores de sabor. Logo nosso cérebro associa a marca com algo saboroso”, relata o professor.
Ainda sobre o vermelho, João Braga cita o filme O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante, do diretor Peter Greenaway (1989), referência de escolha de cores como ferramenta para causar sensações nas artes. Todos os capangas do filme, que se passa em um restaurante, levam consigo uma faixa vermelha em seus figurinos, assim como os alimentos consumidos no salão principal são da mesma cor. “O vermelho, de forma geral, vai ressaltar as emoções intensas, como a sensualidade, o amor e o ódio colérico”, adiciona o professor. “Na cozinha, se ressalta o verde, simbolizando o frescor dos alimentos e das ervas utilizadas. Do lado de fora, se sobressai o azul, simbolizando o ar, a liberdade daquele ambiente”.
O laranja tem em sua natureza a capacidade de chamar a atenção e, hoje, é muito utilizado em sinais de materiais radioativos e risco de incêndio. É utilizado também como sinal de atenção nos uniformes de funcionários de limpeza urbana, que estão sempre expostos aos riscos do trânsito das grandes cidades.
O branco traz em si a sensação de iluminação e pureza – motivo pelo qual é utilizado, nos dias atuais, para vestidos de noivas. “Durante a Roma Antiga, o branco também foi utilizado com esse mesmo propósito, mas por aqueles que exerciam cargos públicos, como senadores e homens da lei. A cor deveria representar a essência do indivíduo – íntegro, puro e iluminado”, completa o professor.
A cor púrpura é até hoje ligada à nobreza, ao luxo e à riqueza – outro aspecto herdado dos tempos da Roma Antiga. “Somente o imperador podia usar púrpura em sua toga naquele período, já que a pigmentação tinha que ser extraída de um molusco, e essa era uma mão de obra cara”. Púrpura é diferente do roxo, símbolo do luto religioso. “Durante o amanhecer, nos primeiros raios de sol, o céu se torna roxo – um símbolo de que as trevas ainda não foram dissipadas, mas a luz está por vir. Aí vem a conexão com a morte”, explica.
Por fim, João Braga explica que isso é apenas uma gota no vasto estudo das cores – que podem ser analisadas a partir de muitos diferentes prismas. “Essa é uma pesquisa que já dura séculos e compreende muitas ciências, desde as artes até a física. Por isso, é importante que quem se interessa pelo tema, não tenha medo nem receio de se aprofundar de cabeça”, finaliza.
Sobre a Faculdade Santa Marcelina
A Faculdade Santa Marcelina é uma instituição mantida pela Associação Santa Marcelina – ASM, fundada em 1º de janeiro de 1915 como entidade filantrópica. Desde o início, os princípios de orientação, formação e educação da juventude foram os alicerces do trabalho das Irmãs Marcelinas. Em São Paulo, as unidades de ensino superior iniciaram seus trabalhos nos bairros de Perdizes, em 1929, e Itaquera, em 1999. Para os estudantes é oferecida toda a infraestrutura necessária para o desenvolvimento intelectual e social, formando profissionais em cursos de Graduação e Pós-Graduação (Lato Sensu). Na unidade Perdizes os cursos oferecidos são: Música, Licenciatura em Música, Artes Visuais, Licenciatura em Artes Plásticas e Moda. Já na unidade Itaquera são oferecidas graduações em Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Tecnologia em Radiologia e Tecnologia em Estética e Cosmética.