Por César Silva (*)

Na gestão empresarial, um dos erros mais comuns – e mais fatais – é a falta de visão sobre o que realmente impulsiona os resultados do próprio negócio. Muitas empresas sucumbem à burocracia e à inflação de cargos administrativos, perdendo de vista o que realmente importa: a produtividade e o bem-estar daqueles que estão na linha de frente.

A fábula da formiga produtiva ilustra perfeitamente esse dilema. Todos os dias, uma formiga chegava cedo ao escritório e trabalhava com dedicação, sendo produtiva e feliz. No entanto, o gerente, ao perceber que ela trabalhava sem supervisão, decidiu que seria ainda mais eficiente se tivesse alguém para orientá-la. Para isso, contratou uma barata como supervisora, que passou a produzir relatórios detalhados sobre a produtividade da formiga.

A barata, por sua vez, percebeu que precisava de suporte e contratou uma secretária para ajudá-la. Em seguida, adicionou ao time uma aranha para organizar os arquivos e controlar as ligações telefônicas. À medida que a burocracia crescia, o gerente se encantava com os relatórios e gráficos gerados, sentindo-se cada vez mais satisfeito com a nova estrutura. No entanto, a formiga, antes produtiva e feliz, começou a se sentir sobrecarregada com reuniões e a movimentação excessiva de papéis.

Para “melhorar” ainda mais a organização, o gerente criou um novo cargo de gestor para essa unidade e nomeou uma cigarra. A cigarra, preocupada em demonstrar sua autoridade, solicitou um escritório confortável, um computador e uma assistente pessoal, que trouxe de sua empresa anterior. Logo, iniciou um plano estratégico para “otimizar” o trabalho da formiga, incluindo mais reuniões e processos burocráticos. No entanto, enquanto a estrutura administrativa crescia, a produtividade caía.

A burocracia é necessária até certo ponto. Contudo, quando ela cresce descontroladamente, se torna um obstáculo para a própria eficiência empresarial. No caso da formiga, o excesso de camadas hierárquicas e processos administrativos apenas adicionou custo e complexidade sem aumentar a produtividade. Ao contrário, o impacto foi negativo.

O desfecho da história foi previsível: a cigarra sugeriu uma pesquisa de clima organizacional e o gerente, ao analisar os custos, percebeu que a unidade já não rendia como antes. Para entender a situação, contratou uma consultora – a coruja – que, após meses de análise, concluiu que havia gente demais na empresa. O gerente, então, tomou a decisão que parecia mais lógica: demitiu a formiga, alegando que ela estava desmotivada e improdutiva.

Infelizmente, essa realidade é comum. Em muitos casos, a liderança corporativa está tão preocupada em justificar sua própria existência que esquece de incentivar a produtividade genuína. O foco se desloca para relatórios detalhados, gráficos elaborados e planos estratégicos rebuscados, enquanto o desempenho real fica em segundo plano.

A solução para esse problema passa por uma mudança de mentalidade. Começando, é claro, na preparação dos nossos jovens para o futuro. Estamos falando de um cenário que exige uma educação profissional que atenda as reais necessidades do mercado, é claro, mas principalmente alinhada com as ambições e competências particulares de cada pessoa em processo de aprendizagem.

Paralelamente, as empresas que realmente querem crescer e se destacar precisam valorizar seus talentos produtivos e eliminar a burocracia excessiva. Isso significa criar um ambiente de trabalho que incentive a criatividade e a eficiência, ao invés de sufocar a produtividade com camadas desnecessárias de gestão.

Em tempos de transformação digital e de mercados altamente competitivos, não há mais espaço para empresas que desperdiçam recursos com cargos supérfluos. É hora de aprender a lição da formiga e garantir que o foco permaneça no que realmente impulsiona o negócio: as pessoas que fazem a diferença.

A história da formiga produtiva deve servir de alerta para líderes e gestores. Antes de criar novos cargos e adicionar camadas de burocracia, é fundamental perguntar: isso realmente melhora a produtividade ou apenas complica os processos? Empresas que mantêm o foco em seus verdadeiros motores de crescimento têm muito mais chances de sucesso a longo prazo.

Se a formiga é quem faz o trabalho acontecer, então é nela que a atenção deve estar. Afinal, sem formigas produtivas, não há empresa que sobreviva.

(*) César Silva é Diretor-Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação

Foto de Campaign Creators na Unsplash

Somos um veiculo de comunicação. As informações aqui postadas são de responsabilidade total de quem nos enviou.