No Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial (21 de março), Doutora em Educação e lingüistas da Babbel trazem um abecedário africano em homenagem às heranças linguísticas brasileiras

Não é incomum ouvir um português dizendo que no Brasil se fala “brasileiro” e não português. Por mais estranha que pareça essa afirmação – afinal, sabemos que o idioma oficial do Brasil é o português – há um fundo de verdade em reconhecer que há uma diferença entre a língua falada no Brasil e a falada em Portugal. O “português brasileiro” é bem diferente da língua mãe europeia e um dos motivos é a rica herança cultural dos povos africanos e indígenas no continente americano. “Isso deve ser motivo de orgulho e não de discriminação das etnias que tornaram a língua brasileira distinta da sua origem europeia”, comenta Adriana Dantas, Doutora em Educação e colaborada do aplicativo de idiomas Babbel.

Primeiro, a língua portuguesa foi marcada pelas centenas de línguas faladas pelos povos nativos que moravam no Brasil. Até o século XVIII, havia uma língua geral baseada no tupi, o nheengatu, que hoje ainda é falada por algumas pessoas.

Depois, o modo de falar no Brasil recebeu novas influências culturais com a chegada das diferentes línguas das etnias africanas. Dentre elas, a família linguística banto, proveniente de uma vasta região que hoje cobre três países: Angola, Congo e Moçambique. São cerca de 300 línguas entre quicongo, iorubá, umbundo e quimbundo. Diversas palavras vindas da família linguística banto são usadas no cotidiano do brasileiro. Isso mostra como os africanos enriqueceram a cultura brasileira com seus conhecimentos. Essa sabedoria foi incorporada em vários termos falados no Brasil.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55% da população no Brasil é afrodescendente, sendo o país com mais descendentes de africanos fora da África. Assim, no Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial (21 de março), Adriana Dantas, Doutora em Educação pela USP, e lingüistas da equipe didática da Babbel trazem um abecedário africano em homenagem às heranças linguísticas brasileiras, com palavras consultadas no Novo Dicionário Banto de Nei Lopes

A – Angu. Os africanos ensinaram os brasileiros a cozinhar o angu, que é uma mistura de farinha de milho ou de mandioca com água para fazer pirão. O termo vem do quimbundo hungu.

B – Bazuca. O nome dado a essa arma de guerra também teve origem no banto. Essa palavra vem do termo basuka, que indica explodir ou ser incendiado em quicongo.

C – Cachaça. Essa bebida brasileira teve sua origem nas plantações de cana-de-açúcar no tempo da escravização. Os negros eram responsáveis pela técnica de transformar a cana em açúcar, que consistia em moer a cana, ferver o caldo pra resultar na rapadura, usada pra adoçar alimentos. Esse caldo fermentado produzia a bebida, que ainda hoje é tão apreciada e usada para fazer a famosa caipirinha. A origem pode ter vindo da palavra kachasu da língua nhungue que significa aguardente ou machacha, na língua quimbundo, que indica bebida de fabricação caseira.

D – Dengo – Todo mundo gosta de um dengo. E não é pra menos. O sentido dessa palavra é “carinho”; “manha”. O termo vem da língua quicongo ndengo que significa doçura ou o que é macio, sedoso.

E – Engambelar. Ninguém deseja ser engambelado porque ninguém aprecia ser enganado. A palavra vem de “engabelo”, um termo religioso que nomeava uma oferenda de menor valor dada ao orixá até que se pudesse trocá-la por uma de valor real. O termo vem de uyambelo da língua umbundo que indica “oferta ao curandeiro”.

F – Fungar. Quem nunca passou pela experiência de fungar o nariz, especialmente quando chora? Essa palavra vem do quicongo kufuna que também virou cafungar e indica fazer barulho com o nariz.

G – Gingar. Se tem algo que o brasileiro gosta de se orgulhar é o seu gingado. Os africanos não apenas ensinaram essa malemolência como também deram nome a ela. Essa palavra vem do quimbundo junga que significa remexer, bambolear.

H – Hungu. Também conhecido como berimbau. É um instrumento musical utilizado pelos povos bantos como os nyanekas, quibundos, oyambos, khoisan.

– Inhame. Esse alimento foi trazido pelos africanos e é um dos tubérculos mais nutritivos para incorporar na rotina alimentar. O termo veio do quicongo ñame que significa “para comer”.

J – Jagunço. As novelas regionais sempre têm um jagunço como capataz de algum fazendeiro. O termo pode ter vindo do quimbundo junguzu ou do iorubá jagun-jagun que significa soldado.

L – Lengalenga. Essa palavra pra conversa chata, enfadonha foi adotada do termo ndenga-ndenga, que em quicongo tem sentido de lentidão, que não acaba nunca.

M – Macumba. Era o nome de um instrumento musical usado em culto afro-brasileiro. Depois passou a ser utilizado para designar de forma genérica as religiões de matriz africana. Origem no quicongo makumba.

N – Neném. A palavra é tão fofa quanto o bebê que ela designa. Em bundo nene indica pequenino, pedacinho.

O – Omungá. Outro nome dado para o sal. Vem do umbundo omongwa.

– Paparicar. Quem não gosta de ser paparicado? Essa palavra vem do quicongo papidika e significa mimar ou tratar com carinho excessivo. Pode também ter o sentido de tornar alguém vaidoso, inflar o ego de uma pessoa.

Q – Quitanda. É uma vendinha de pequeno porte onde se encontra produtos frescos como frutas, verduras, etc. A palavra vem do quimbundo kitanda que significa mercado, feira.

R – Ranzinza. Quem nunca se deparou com alguém ranzinza? Esse termo é usado para uma pessoa rabugenta, birrenta. A palavra vem do quicongo nzinzi e indica mosca caseira.

S – Samba. Esse ritmo é a grande herança cultural dos africanos. Ele é considerado a marca registrada do brasileiro. Vem do mesmo termo em quicongo para indicar uma dança e em bundo significava ferver, estar em ebulição.

T – Toca. Muitos animais vivem em toca, em buracos que são sua habitação. A palavra vem do bundo toko.

U – Umbanda. É uma religião de matriz africana que recebeu influências de outras religiões como do cristianismo e espiritismo. O termo é encontrado em umbundo e quimbundo significando a arte do curandeiro, médico tradicional.

V – Vatapá. Essa iguaria trazida pelos africanos foi popularizada pelas baianas. Feito com camarão, peixe desfiado, azeite e pimenta em uma massa de pão amolecido é um alimento obrigatório para todo o turista que visita a Bahia. Seu nome original veio do iorubá ehba-tápa

X – Xingar. Esse termo tão usado para indicar o ato de proferir insultos a alguém veio do quimbundo xinga, que significa ofender, blasfemar.

Z – Zabumba. É um grande tambor, usado para acompanhar vários ritmos como o xote, o baião e o coco. Tanto em quicongo quanto em umbundo, o termo vem de mbumba que indica bater.

“Esse abecedário é só um pequeno exemplo do quanto o português brasileiro foi influenciado pelos africanos. O Brasil não adquiriu apenas novas palavras mas, juntamente com elas, ganhou também novos elementos culturais que marcam nossa sociedade”, comenta a Doutora em Educação Adriana Dantas em colaboração com a Babbel.

*As palavras foram consultadas no Novo Dicionário Banto de Nei Lopes, a 2ª edição de 2012 da Editora Pallas.

Dra. Adriana Dantas

É formada em Linguística pela Unicamp, concluiu seu mestrado em Filosofia pela USP e se tornou Doutora em Educação também pela USP.

Sobre a Babbel

Há 12 anos, Markus Witte (Presidente Executivo do Conselho) e Thomas Holl (CTO) perceberam que não havia como aprender um idioma on-line — um problema que eles decidiram solucionar. Em 2008, criaram a Babbel. Hoje, a empresa é formada por 750 profissionais de mais de 60 países, trabalhando na sede, em Berlim, e em Nova Iorque. O aplicativo de idiomas tem milhões de assinantes pagantes.

A equipe didática da Babbel é formada por mais de 150 linguistas – o que torna possível uma abordagem eficiente, baseada em métodos empiricamente comprovados. Pesquisadores da Universidade de Yale, Universidade de Michigan e Universidade da Cidade de Nova Iorque também já comprovaram a eficácia do aplicativo em diferentes estudos.

No Brasil, a empresa atua desde 2014. Hoje, o mercado brasileiro é o principal da América Latina, representando cerca de 50% de todas as assinaturas na região.

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