Durante as apresentações musicais, a segunda edição promove encontro entre idosos e crianças com o objetivo de aproximar gerações, gerar empatia e consciência sobre o envelhecimento da sociedade
Numa sociedade “obcecada” pela juventude, um projeto, em Belo Horizonte, vai na contramão e valoriza o envelhecer com qualidade. De 17 de maio a 7 de junho, sempre às quartas, acontece a 2ª edição do Música Sem Idade – que propõe levar momentos de descontração, bem-estar e ludicidade para idosos, por meio de apresentações musicais, em quatro Instituições de Longa Permanência da capital. Neste ano, a novidade é que, durante os shows, os idosos também recebem a visita de 20 crianças, entre 4 e 5 anos, por apresentação, vindas de escolas do município, promovendo assim um grande encontro entre gerações. Este projeto é realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura.
“O contato com as canções e com as gerações mais jovens, melhora a autoestima e o humor dos idosos e, também, ajuda a ativar a memória deles pela emoção, relembrar histórias e momentos de suas vidas”, explica a cantora e idealizadora do projeto Música sem Idade, Daniella Borges. A artista conta que a ideia de realizar o projeto nasceu, em 2020, no período mais extremo da pandemia. “Após apresentação musical no Lar de idosos Santa Tereza e Santa Terezinha (bairro: Santa Tereza), em algumas conversas com moradores e funcionários do lar, tive a certeza de que deveria continuar com os shows e tentar levá-los ao maior número de instituições. Sempre tive carinho, respeito e admiração por pessoas idosas!”, afirma.
E em 2021, o projeto sai do papel e tem sua primeira edição, com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte. A edição deste ano, que promove encontro entre gerações, foi inspirada no documentário “Presente perfeito”. No filme, a documentarista Evan Briggs explora a experiência do envelhecimento e provoca reflexões profundas a partir das interações entre crianças de pré-escola e idosos de um lar, em Seattle, nos Estados Unidos. “Essa combinação é conhecida como Aprendizagem Intergeracional. Na minha visão, nós só conseguiremos ter uma sociedade mais harmoniosa quando conseguirmos conviver, respeitar e, principalmente, aprender com o diferente. Qualquer tipo de preconceito, estereótipo, discriminação não é benéfico. Ao conseguirmos realizar o encontro de gerações tão opostas, a ideia é incentivar nas crianças uma maior conectividade e aproximação dos idosos. Essa interação pode gerar empatia e, quem sabe, no futuro, termos indivíduos que sejam capazes de combater e evitar o etarismo”, acredita.
No dia 17.05, quarta-feira, das 9h30 às 10h30, o projeto chega à Santa Tereza e Santa Terezinha (Santa Tereza), com participação de crianças da EMEI Paraíso (Paraíso). No dia 24.05, quarta, das 9h30 às 10h30, é a vez do Lar Frei Zacarias (Carlos Prates) receber o “Música sem Idade” e uma turma de ‘pequenos’ da EMEi Sabinópolis. Já no dia 31.05, quarta, o Lar da Vovó (Paquetá) acolhe os artistas e as crianças da EMEI Manacás, e no dia 07.06, quarta, das 14h30 às 15h30, tem encerramento do projeto no Lar de idoso Recanto Feliz com a presença das crianças da Emei Maria Sales Ferreira (Betânia).
Durante os shows, a cantora Daniella Borges se apresenta ao lado das instrumentistas e cantoras Elaine Anunan e Ana Cristina. No repertório, uma mescla de músicas e ritmos nacionais que agradam várias gerações, passeando pelo samba, forró, cantigas de roda e MPB. Geralda Aparecida Roques trabalha há quase 10 anos como assistente social na ILPI Santa Terezinha. Para ela “A música engrandece a alma das idosas e a de nós, profissionais inseridas nesse processo. Música é saúde e saúde é a ausência de doença. Aqui elas falam que sou a mãe das idosas. Mas é porque gosto de conversar e de cuidar. Cuidar não é só medicar. É uma palavra, é uma atenção, um pequeno gesto e que, no final, faz toda diferença”, diz.
Segundo a psicóloga Cláudia Lopes Soares, gerente da ILPI Casa do Ancião Chichico Azevedo (Cidade Ozanam) que, no ano passado, recebeu a primeira edição do “Música Sem Idade” -, a novidade do encontro entre gerações na segunda edição, é um diferencial. “As crianças, se estimuladas desde cedo, podem aprender a conviver em sociedade, sem julgamentos, interagir, trabalhar a timidez e aprender a se comunicar. Já os idosos, são desafiados a acompanhar o ritmo da criançada, mas voltam a se sentir integrantes da sociedade. Essa convivência também pode evitar quadros depressivos e de estresse, além de gerar benefícios diretos à saúde física e mental de ambos”, afirma.
Até 2050, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, o número de pessoas com 65 anos ou mais no mundo deve dobrar, passando de 761 milhões para 1,6 bilhão. No Brasil, o envelhecimento aconteceu em um período muito curto, enquanto na Europa e Estados Unidos, esse processo se deu ao longo de 100 anos. Segundo pesquisa nacional de saúde do IBGE 2013, 50% dos idosos não envelhecem com qualidade, apresentando doenças crônicas como hipertensão, diabetes e dores articulares. “A população está envelhecendo e a metade tem múltiplas doenças, e isso é um peso muito grande. Em nosso país não há condições de educação, qualidade de vida, alimentação, igualdade social, que existem em países como Europa e Canadá e, portanto, o aumento da expectativa de vida não veio acompanhado por uma redução da morbidade”, comenta a geriatra Cláudia Caciquinho.
A médica afirma ainda que, muitas das doenças crônicas, sobretudo as dores, são decorrentes de tensão, estresse, e que, estudos já apontam que “a música permite relaxamento. Você quando ouve uma música tem vontade de dançar. Ela conecta várias áreas do cérebro: o sistema límbico, a memória, as emoções, a parte de movimentação, de entendimento, compreensão e organização da ação. Ajuda também na liberação de neurotransmissores que dão sensações de bem-estar, como serotonina e adrenalina, e que vão ativar áreas no cérebro que estavam inativas ou lesadas por um AVC, por exemplo. E por isso, ajudam na reabilitação, estimulando a atividade neurológica como um todo, melhora os processos cognitivos, interações sociais, que hoje, sabemos, são fundamentais para o envelhecimento ativo saudável”, conclui.
SERVIÇO
17 de maio, quarta – 9h30 às 10h30 – Santa Tereza e Santa Terezinha
Rua Divinópolis, 225 – Santa Tereza
PARTICIPAÇÃO: EMEI Paraíso
24 de maio, quarta – 9h30 às 10h30 – Lar Frei Zacarias
R. Sabinópolis, 138 – Carlos Prates
PARTICIPAÇÃO: EMEI Sabinópolis
31 de maio, quarta – 14h30 às 15h30 – Lar da Vovó
- Aziz Abdi, 55 – Paquetá
PARTICIPAÇÃO: EMEI Manacás
7 de junho, quarta – 14h30 às 15h30 – Recanto Feliz
- Bonança, 128 – Betânia
PARTICIPAÇÃO: EMEI Maria Sales Ferreira
*As apresentações são fechadas
Crédito fotos: Luis Evo