Hospitais públicos e privados apostam em tratamentos que têm ajudado a reduzir uso de medicamentos ao focar no indivíduo e ultrapassar dualidade saúde-doença
80% das doenças atreladas ao processo de envelhecimento são completamente evitáveis com o apoio da medicina funcional e integrativa. Segundo um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, o estilo de vida e o ambiente são decisivos para uma pessoa viver mais de 65 anos. Por isso, hospitais públicos e privados têm dado novos passos na direção de tratamentos que olhem para além da doença do paciente. “A saúde precisa começar por dentro e levar em consideração todos os aspectos que formam o ser humano. É nesse ponto que entra a medicina integrativa, como um elo para guiar a promoção de saúde e qualidade de vida”, afirma a clínica-geral dos hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat, Larissa Hermann.
A medicina integrativa reafirma a importância da relação entre médico e paciente. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o foco precisa estar no indivíduo e ultrapassar a dualidade saúde-doença. Ao estar embasado em evidências científicas e fazer uso de múltiplas abordagens, o médico observa diferentes ângulos do paciente: mental, emocional, funcional, espiritual, social e, até mesmo, comunitário. Isso não quer dizer que não sejam mantidos tratamentos tradicionais ou medicamentosos, mas, sim, que a adição de novas abordagens pode trazer benefícios reais para cada pessoa. “O objetivo é somar esforços com outras áreas, acompanhando o paciente como referência para a avaliação inicial e coordenação do cuidado”, explica a clínica-geral dos hospitais de Curitiba (PR).
A adesão a essa prática tem ajudado a reduzir o uso de analgésicos, anti-inflamatórios e encaminhamentos para exames de alta complexidade, que estão entre os maiores gastos do país com a saúde. É o que verificou uma pesquisa realizada pelo Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS), já que o cuidado integral permite um diagnóstico mais preciso para pacientes que chegam às unidades de saúde. No Brasil, a oferta de tratamentos complementares acontece no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006 e, atualmente, conta com mais de 28 modalidades na rede pública, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC). O destaque está para tratamentos relacionados à oncologia, cardiologia e pediatria.
Centro do cuidado
A característica principal da medicina integrativa é pensar no indivíduo integralmente e dar valor para a promoção da saúde, mesmo que a pessoa não esteja doente. Segundo a clínica-geral Larissa Hermann, é cada vez mais evidente a necessidade de se discutir novas formas de lidar com o cuidado. “As pessoas esperam ser olhadas e tratadas como um todo, e não somente em partes, como se estivessem fazendo a revisão das peças do carro num mecânico, por exemplo. Elas querem e devem ser observadas na totalidade: corpo, mente e alma”, enfatiza.
“A medicina integrativa não substitui a medicina tradicional, mas ela é uma grande aliada para tratar não só a doença como o indivíduo”, assegura Larissa Hermann. É exatamente isso que a abordagem procura resgatar por meio de valores importantes como: integralidade, preservação da saúde e autocuidado. “É importante que esse tipo de cuidado esteja dentro dos hospitais. Mas antes disso, deve estar presente na vida das pessoas. Porque a promoção da saúde não pode acontecer apenas no consultório médico, precisa estar no dia a dia”, reforça.
O futuro da medicina vai além da tecnologia e do ato de curar. Cada vez mais, o médico assume o importante papel de tratar as raízes dos problemas e evitar o surgimento de outras doenças. “A medicina integrativa precisa ser preventiva, colocando o paciente como protagonista do cuidado com a saúde. O foco no equilíbrio metabólico e nos pilares do ser humano gera um envelhecimento saudável e com qualidade”, conclui.
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