Existem fatores, inclusive externos como a exposição à radiação ionizante, que aumentam risco para o desenvolvimento de tumores cerebrais

Maio é o mês de conscientização do câncer de cérebro, um tumor potencialmente grave por atingir o órgão responsável pelo controle de todas as funções do nosso corpo. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que no Brasil sejam diagnosticados 11.090 novos casos de câncer cerebral anualmente, sendo 5.870 homens e 5.220 mulheres neste ano. Atualmente, ocupa a décima posição entre os tumores mais frequentes nas mulheres brasileiras e a décima primeira posição entre os homens. Esses números tendem a ser muito maiores se forem considerados, também, os tumores benignos do sistema nervoso central.

Segundo o médico David Pinheiro Cunha, oncologista e sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, o tumor no cérebro pode ter apresentações variáveis. “É frequente, nos benignos, o paciente permanecer assintomático por um período prolongado, isso porque o tumor cresce lentamente e o cérebro vai se adaptando. Podem ocorrer também sintomas focais, que são dependentes do local em que está localizado o tumor, podendo cursar com perda de força em alguma parte do corpo, alteração na visão, audição, fala e comportamento. Porém, vale ressaltar que as manifestações, na maioria dos casos, são inespecíficas como sonolência, náuseas, vômitos, crise convulsiva ou dor de cabeça”, explica.

O neurocirurgião Victor Vasconcelos, CEO da Relevance Neurocirurgia, ressalta que, no sistema nervoso, a classificação de tumores benignos ou malignos pode não representar a real ameaça que a presença da lesão causa, uma vez que mesmo tumores benignos são capazes de gerar graves consequências à saúde, caso se localizem em áreas nobres do sistema nervoso. “Existem alguns fatores que aumentam o risco para o desenvolvimento de tumores no cérebro, como a exposição à radiação ionizante, histórico familiar de câncer e doenças genéticas, condições que afetam a imunidade (em pacientes com AIDS ou uso de medicamentos imunossupressores) e presença de outro câncer (em especial melanoma, mama e pulmão). Outras condições são frequentemente estudadas, mas ainda necessitam comprovação quanto ao risco de desenvolverem o câncer cerebral como o uso excessivo de celulares, substâncias tóxicas utilizadas na indústria e agricultura (como arsênio ou chumbo), proximidade com redes de alta tensão, uso de aspartame em adoçantes e a infecção por alguns tipos de vírus”, aponta.

De acordo com o Dr. David, no que se refere à agressividade, os tumores benignos – que apresentam crescimento lento – podem ser acompanhados por exames de imagem periódicos ou tratados com cirurgia com altíssimas chances de cura. “Já os tumores malignos apresentam crescimento rápido, presença de sintomas e necessitam de tratamentos mais agressivos. Dentre os tumores malignos, o glioblastoma multiforme é o que apresenta menores chances de cura, apesar do avanço do tratamento nos últimos anos”, explica

Com relação à prevenção, o Dr. Victor conta que algumas medidas podem ser tomadas, como evitar a exposição à radiação ionizante e às substâncias tóxicas. “No entanto, alguns fatores de risco não dependem do comportamento do indivíduo, como os relacionados ao histórico familiar e a presença de outras doenças. Diante disso, o papel do diagnóstico precoce se torna uma das principais armas para prevenir o dano da doença. A identificação do quadro numa fase inicial é fundamental para a implementação do correto tratamento, o que pode determinar a capacidade de controle ou até a cura do paciente e reduzir muito a chance de sequelas neurológicas. Até o momento, contudo, não há benefício comprovado de recomendar exames de triagem para pessoas que não apresentem sintomas sugestivos dos tumores cerebrais nem uma das condições de risco supracitadas”, afirma o neurocirurgião.

Então, quando devo me preocupar com uma dor de cabeça? “A cefaleia, conhecida como dor de cabeça, é o sintoma mais comum do câncer de cérebro, acontecendo em 33 a 71% dos casos. Porém, nem todo quadro de cefaleia é sugestivo de tumor cerebral; se for um sintoma diário e persistente ao longo de dias, com intensidade crescente e mais comum à noite ou ao acordar, é um sinal de alerta. Deve também ser sempre investigada quando acompanhada de sinais e sintomas, como vômitos recorrentes, crises epilépticas, sonolência excessiva, confusão mental, deficiência gradual da movimentação ou da sensibilidade de alguma parte do corpo e dificuldades de fala e da visão”, explica o oncologista Dr. David.

Equipe completa e tecnologia: boa chance de cura

A boa notícia é que a maioria dos tumores cerebrais podem ser curados. É importante que o tratamento seja individualizado e realizado por uma equipe completa composta por neurocirurgião, oncologista, radioterapeuta, patologista e radiologista. “De uma forma geral, a cirurgia é o principal tratamento. Atualmente, diversas tecnologias foram incorporadas na neurocirurgia, como monitorização intra-operatória e métodos minimamente invasivos, possibilitando a diminuição do risco de sequelas no ato cirúrgico. A associação de radioterapia e quimioterapia geralmente é necessária nos tumores mais agressivos, considerados de alto grau. No entanto, em outros casos, o tumor pode não ser eliminado completamente e o paciente pode ter que conviver com o tumor. O acompanhamento nesses casos deve visar sempre minimizar os sintomas causados pela lesão, a fim de promover a melhor qualidade de vida possível”, afirma o neurocirurgião.

Ambos profissionais reafirmam que, apesar dos avanços nas técnicas de tratamento, o diagnóstico precoce ainda é a principal arma para aumentar as chances de cura e reduzir as sequelas. “Por isso, a importância do Maio Cinza, que tem como objetivo conscientizar a todos sobres os sintomas que devem ser investigados. Mesmo durante o período de pandemia, importante lembrar que a COVID-19 não é a única vilã!”, finaliza Dr. David.

David Pinheiro Cunha é oncologista com residência em Oncologia Clínica pela Unicamp. Graduado em medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) e residência em Clínica Médica pela PUC Campinas. Possui título de especialista em Oncologia Clínica pela Associação Médica Brasileira – AMB/SBOC. Realizou observership no serviço de Oncologia em Northwestern Medicine Developmental Therapeutics Institute, Chicago, Illinois, EUA. É membro da Diretoria Científica da disciplina de cancerologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC). É membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). É sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e atua na Oncologia do Radium Instituto de Oncologia, do Hospital Santa Teresa e do Hospital Madre Theodora.

Victor Vasconcelos é neurocirurgião oncológico do Radium Instituto de Oncologia, Centro Infantil Boldrini e do Grupo Relevance Neurocirurgia. Coordenador do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital e Maternidade Madre Theodora e de equipe do Hospital e Maternidade Santa Teresa. Formação: neurocirurgião e Mestre pela Unicamp. Especialização em Neuro-oncologia pelo Hospital Sírio Libanês. Fellow em Neuro-oncologia Johns Hopkins Hospital (Maryland – EUA) e em Cirurgia endoscópica mimimamente invasiva de crânio pela Ohio StateUniversity (OHIO – EUA). Membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Photo by National Cancer Institute on Unsplash

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