A partir de uma série de histórias e reflexões, a autora Shirlei Zonis, que é arquiteta e tem formação em teoria psicanalítica, analisa motivações subliminares, indícios e situações recorrentes na relação profissional com os clientes de projetos arquitetônicos.
A Editora olhares lança o livro Arquitetura no Divã, de Shirlei Zonis. A publicação ajuda arquitetos a interpretar as demandas de seus clientes a partir de uma série de histórias e reflexões. Aqueles que vão habitar ou usufruir dos espaços projetados – os clientes – haviam sido um assunto pouquíssimo explorado na formação acadêmica, mas com a prática ela passou a perceber como uma melhor compreensão dessa ‘variável’ poderia ajudar bastante na atividade como arquiteta e ampliar sua satisfação profissional.
“Hoje, se me perguntarem o que me atrai mais num projeto, responderia sem pestanejar: o cliente. Quando entro no seu universo e compartilho de suas demandas e seus desejos, me sinto tremendamente privilegiada por poder contribuir para externá-los no projeto de um novo lar (mesmo que se trate apenas de uma reforma) e por ter, no convívio com ele, a percepção das viagens que a arquitetura produz mudando o lugar, sem sair do lugar.” Shirlei Zonis
A rotina profissional como arquiteta de interiores e a troca de ideias com colegas foram o gatilho da curiosidade da autora sobre as questões da subjetividade na arquitetura. Shirlei passou a estudar teoria psicanalítica e procurar algumas “pontes” entre a intuição de arquiteta e a percepção mais embasada do que afligia seus clientes, entre os desejos subliminares de quem a procura e a capacidade de perceber e atender suas demandas. “Essa nova perspectiva suavizou demais meus conflitos e me permitiu desenvolver algo fundamental na lida com os clientes: a empatia”, comenta a arquiteta.
Arquitetura no Divã é o desdobramento dessa investigação multidisciplinar. Sem a pretensão de estabelecer regras ou criar métodos, o livro abre o debate sobre como entender melhor o que desejam os clientes para os espaços que planejam, percebendo “sintomas e pequenos sinais”, para o que a anamnese é um momento fundamental. Simbolicamente, a autora sugere introduzir uma nova ordenada na configuração espacial usualmente descrita em três dimensões, que poderia ser entendida como a quarta dimensão do espaço, a dimensão humana.
O livro se concentra em casos de reformas domésticas e os analisa tendo como base o pensamento psicanalítico, listando ao final breves explicações sobre seus principais conceitos. Na apresentação, a autora introduz as bases da transposição feita em seus estudos para o universo arquitetônico: “‘O desejo se manifesta a partir da demanda’, segundo Lacan, e ‘é de ordem mítica’, segundo Freud, mas o objeto do desejo é buscado mesmo na realidade, de forma concreta. Então, como seguir seus sinais? Deve a arquitetura simplesmente se aproximar do objeto do desejo de quem a solicita ou ir além, tocando mais fundo e atendendo a solicitação para a qual está realmente sendo convocada? Como nos mantermos como ouvintes neutros, mesmo observando os sinais que se apresentam? […] Mais que instrumento para a realização de um desejo ou objeto de consumo a ser devorado, o arquiteto pode tornar-se interlocutor de um diálogo em que projeções vêm à tona e realizações extravasam a barreira de supereus por anos construídos.”
No posfácio, que escreve em forma de carta à autora, Gustavo Rocha-Peixoto, professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, reforça: “Estamos num Mundo em quatro dimensões em que a casa se converte de moradia do corpo em objeto de desejo. Você viu na tarefa do arquiteto-terapeuta, distinguir o que há de objeto de consumo e o verdadeiro objeto de desejo – no sentido de um desejo profundo de compreensão da narração imaginária da história pessoal do “cliente”. É isso, Shirlei, sua quarta dimensão é imaginária. Não quero dizer que não exista, mas que existe no campo da imaginação. E imaginar é fazer imagens; delinear figuras mentais.”
Sobre a Editora Olhares
Editora especializada em temas da cultura brasileira, em especial nos campos da arte, da história, da fotografia, da arquitetura e do design. Além de títulos relevantes nesses segmentos, a editora conquistou prêmios como o Jabuti e o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira.