*Por Daniel da Rosa
A Inteligência Artificial (IA) não é nova. Os primeiros conceitos surgiram em 1950 por Alan Turing e outros cientistas e, faz muitos anos, está presente em nossas vidas de diferentes formas: desde a identificação facial no seu smartphone até a Netflix, que sugere filmes para você baseados nos seus gostos. Ela está presente nos sites de busca, de compras online e nos avanços das pesquisas médicas e espaciais.
Mas, então, qual o motivo de tanto barulho agora?
O fato é que a IA ganhou um avanço explosivo nos últimos anos graças às novas capacidades de computação, avanço nas placas gráficas da NVIDIA, desenvolvimentos de machine learning, deep learning e generative IA.
Além disso, os IA chatbots, como o ChatGPT da OpenAI, o recém-lançado Bard, do Google, o Bing Chat e muitos outros democratizaram o uso da IA utilizando linguagem humanizada e podendo ser acessado por qualquer pessoa, de qualquer lugar e de graça. Além disso, eles têm a capacidade de aprendizado ao longo do tempo, diferentemente dos primeiros chatbots, que respondiam apenas a perguntas pré-determinadas por meio de algoritmos mais simples.
As novas versões especializadas de IA surgem a todo o momento, com capacidade centenas ou milhares de vezes maior que a anterior.
Algumas empresas estão fazendo experiências dando à Inteligência Artificial um assento em seus Conselhos e, para muitas pessoas e organizações, o ChatGPT (ou outro similar) já se tornou um consultor particular sobre praticamente qualquer assunto.
E o que é mais impressionante: alguns sistemas de IA já passaram em exames finais de medicina e biologia de universidades americanas.
Durante eventos de Transformação Digital da Câmara Brasil-Alemanha do Paraná (AHK-PR), sempre nos perguntam sobre qual é o impacto da IA sobre os empregos. Um relatório da Goldman Sachs, de março de 2023, prevê que a Inteligência Artificial pode eliminar globalmente mais de 300 milhões de empregos hoje existentes.
Em junho de 2023, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mencionou que a IA pode substituir 27% dos empregos em países do grupo, enquanto a consultoria Accenture prevê que 40% de todo o volume de trabalho pode ser impactado por essa revolução.
E, ao contrário da automação na Indústria 3.0 e toda a transformação digital trazida pela Indústria 4.0 – da qual a IA é um dos pilares —, desta vez, os empregos impactados serão os de maior nível: de programadores de computador, engenheiros e analistas de dados e imagens a jornalistas, consultores, pesquisadores de mercados e advogados. A lista aumenta a cada dia!
E um alerta importante para os profissionais e para as organizações: o risco não é só perder o emprego ou negócios para a IA, mas, sim, perder para profissionais ou organizações que foram mais rápidos na aplicação da Inteligência Artificial.
Fato é que a IA já causa impactos em toda a sociedade e transformou a forma de gestores tocarem os seus negócios. Se você ou sua organização acham que não serão afetados por ela, pense de novo e urgentemente, antes que seja tarde.
E fique bem atento: muitas novas oportunidades e muitos novos empregos surgirão com a IA.
Aqui vai, então, um conselho que considero importante: essa transformação digital é um caminho sem volta e em nada adianta tentar resistir. O segredo é aprender a usar esse universo de recursos oferecidos como aliado, de forma a trazer benefícios para as empresas e para você, além de identificar as muitas oportunidades que estão surgindo.
Mas, durante este processo de implantação da Inteligência Artificial nos negócios, gosto de citar pontos importantes que precisam ser considerados. Primeiro, esse processo sempre será feito em etapas. Não tente eliminá-las. E, segundo, nunca subestime essa transformação.
Dito isto, saliento: é indispensável considerar o aspecto humano e o planejamento estratégico na hora de usar IA na sua empresa.
Explico. Não é porque estamos falando em tecnologia que devemos esquecer o lado humano. A transformação digital vai impactar na gestão e até mesmo na cultura empresarial. Sempre tenha isto em mente.
Além disso, é necessário trabalhar em equipe para que a IA não seja vista como um risco, mas sim como potencial de progresso. Aderir a ela exige envolvimento de toda a organização, para que todos entendam o que é a Inteligência Artificial, quais os recursos disponíveis e como eles podem ser aproveitados. Isso não pode ser papel exclusivo de um cargo.
Aliado a isso, o sucesso no uso da Inteligência Artificial passa por saber usá-la estrategicamente para você. Como? É hora de analisar o plano estratégico da sua empresa e, diante dele, estudar de que forma a IA pode ser ali aplicada. Como ela vai ajudar a empresa? Qual recurso vai trazer mais benefícios?
A resposta não será a mesma para todos. Não é porque o ChatGPT ganhou relevância e uso em algumas áreas que, na sua, ele vai render bons frutos. A definição da ferramenta passa por entender a melhor forma de aplicação e, neste caso, podemos estar falando de mecanismos para conhecer os clientes, desenvolver o produto, agilizar processos internos ou melhorar a qualidade de um serviço ou produto.
O que tenho muito claro é: nunca aplique IA na sua empresa apenas por aplicar, sem planejamento. Esta é uma linha que sigo e que costumamos discutir nos encontros que realizamos há anos sobre o assunto na AHK Paraná. Afinal, as tendências estão aí para serem analisadas, pensadas, discutidas e implementadas.
Desafios da IA
A IA traz consigo uma série de desafios que passam pela segurança, proteção de dados, questões de direitos autorais e até mesmo por uma possível regulamentação do seu uso.
Aqui, vale lembrar da Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD. Quando falamos dessa revolução tecnológica, estamos falando de acesso a dados importantes e outras questões que exigem atenção.
O tema é complexo e precisa ser conversado. Dentro da AHK Paraná, temos essa preocupação não só do ponto de vista da proteção, mas também do uso efetivo para que os negócios prosperem. Por essa razão, estamos constantemente realizando discussões, workshops e trocas para podermos, juntos, evoluir neste caminho ainda com muito a ser trilhado.
Sobre a regulamentação, de fato é um grande desafio. Acontecimentos recentes, como o comercial da Volkswagen recriando Elis Regina com uso da IA, abrem espaço para estas discussões. Elas são bem-vindas, pois é preciso falar sobre e debater limites, mas precisamos ter em mente que não podemos engessar nem controlar demais. Mas isto, meus amigos, é assunto para uma próxima, quem sabe, trazendo a opinião da própria Inteligência Artificial.
*Daniel da Rosa é conselheiro da Câmara Brasil-Alemanha Paraná, coordenador do Grupo de Intercâmbio de Experiências em Indústria 4.0 & Transformação Digital da AHK-PR, conselheiro pelo IBGC e foi CEO da thyssenkrupp.
Sobre a AHK Paraná – Estimular a economia de mercado por meio da promoção do intercâmbio de investimentos, comércio e serviços entre a Alemanha e o Brasil, além de promover a cooperação regional e global entre os blocos econômicos. Esta é a missão da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), entidade atualmente dirigida pelo Conselheiro de Administração e Cônsul Honorário da Alemanha em Curitiba, Andreas F. H. Hoffrichter.