Estimativas apontam 11 mil novos casos, no Brasil, em 2018
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que, no Brasil, o ano de 2018 finalizará com mais de 11 mil novos casos de câncer do sistema nervoso central, com um risco estimado de 5,62 casos novos a cada 100 mil homens e 5,17 para cada 100 mil mulheres, sendo portanto, discretamente mais comum em homens.
Os tumores intracranianos são lesões ou massas localizadas dentro do crânio, formadas por células anormais de origem do próprio cérebro ou de outros órgãos. Segundo o neurocirurgião Caio Tannus Vianna Ribeiro, do Hospital VITA, em Curitiba, são causados por alterações genéticas, que usualmente ocorrem ao longo da vida em decorrência da duplicação atípica das células.
Dr. Caio conta que em alguns casos pode haver uma condição genética congênita, ou seja, que acompanha o paciente desde o nascimento, que pode ser um fator predisponente para o crescimento de tumores intracranianos, como por exemplo, a Neurofibromatose tipo I e tipo II.
Segundo o médico, ocasionalmente, doenças adquiridas ao longo da vida podem ser fatores de risco para os tumores cerebrais. A Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS), decorrente da infecção pelo HIV, também pode aumentar a chance de um tumor cerebral, assim como neoplasias malignas de outros órgãos, como tumores de mama, pulmão e pele, entre outros, que podem enviar células cancerosas por meio da corrente sanguínea até o cérebro.
Os tumores cerebrais podem ser benignos ou malignos. O neurocirurgião explica que os benignos são aqueles que têm um crescimento lento e pouca probabilidade de disseminação e recidiva após tratamento e, usualmente, precisam ser tratados quando ocasionam sintomas neurológicos incapacitantes ou causam compressão significativa sobre o cérebro sadio. Já os tumores cerebrais malignos, por sua vez, têm uma tendência maior à invasão de outras estruturas e recidiva, de modo que quase sempre necessitam de tratamento mais agressivo.
Sintomas
Os sintomas dos tumores cerebrais, na maioria das vezes, incluem dor de cabeça recente ou com piora progressiva, convulsões (crise epiléptica), náuseas e/ou vômitos inexplicáveis, confusão mental, desorientação, incoordenação para caminhar e se equilibrar, fraqueza nas pernas ou braços, dificuldade para falar ou compreender, alterações da sensibilidade do corpo, sonolência, turvação visual, dentre outros. Em alguns casos pacientes com tumores cerebrais podem não apresentar nenhum sintoma, com a descoberta da lesão de forma incidental ao fazer um exame complementar por outro motivo. “É importante ressaltar que a presença dos sintomas de forma isolada não confirma a existência de um tumor intracraniano, tornando necessária a avaliação neurológica acompanhada de exames específicos”, adverte Dr. Caio.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito após avaliação médica com realização do exame físico geral e neurológico, com identificação dos sintomas, seguida da avaliação dos exames complementares, normalmente tomografia computadorizada e ressonância magnética com contraste, que evidenciam detalhadamente a localização e podem orientar o médico em relação ao tipo de tumor.
Tratamento
O tratamento dos tumores intracranianos é realizado de forma multidisciplinar envolvendo cuidados de saúde de diversas especialidades médicas, como neurocirurgião, oncologista, neurologista, patologista e radioterapeuta, além de outros profissionais de saúde, como enfermeiros e equipe de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e nutricionista.
Dr. Caio explica que na maioria das vezes a atuação do médico neurocirurgião é indispensável, avaliando e, quando indicado, realizando a cirurgia de retirada da lesão. O médico oncologista atua em tumores malignos, conduzindo o tratamento complementar ou primário de quimioterapia e radioterapia. Já o médico radioterapeuta realiza o tratamento de radioterapia em tumores benignos ou malignos, quando há susceptibilidade da lesão à radiação. O médico neurologista realiza o acompanhamento neurológico clínico, muitas vezes realizando o diagnóstico e tratando clinicamente alterações do estado neurológico do paciente.
O tratamento cirúrgico dos tumores deve ser indicado para realização do diagnóstico do tipo de lesão por meio de biópsia, para descompressão das estruturas cerebrais comprimidas pelo tumor e para tratamento da pressão aumentada no espaço intracraniano. “Deve ser realizado idealmente em centros especializados que possuam infraestrutura e capacitação para dar continuidade ao tratamento do paciente desde o período de planejamento da cirurgia até o acompanhamento oncológico pós-operatório, quando necessário”, esclarece o especialista.
A cirurgia de retirada do tumor é realizada por craniotomia, que é a remoção do osso para acesso à lesão, seguida de ressecção (remoção) tumoral e fixação do osso com miniplacas ao local original. Após a extração, é realizado o estudo histopatológico (biópsia) pelo médico patologista, para confirmação do tipo de lesão e definição do grau de agressividade (benigno ou maligno). Em lesões de difícil acesso, que se localizam abaixo do tecido cerebral sadio e em áreas importantes para funções cerebrais primordiais, podem ser utilizados recursos de localização durante a cirurgia, como a neuronavegação ou ultrassonografia cerebral, de modo a reduzir a possibilidade de sequela neurológica pós-operatória. Em lesões que se localizam próximas à região cerebral responsável pela fala, pode ser realizada a cirurgia de retirada do tumor com o paciente acordado e conversando com o cirurgião, para que haja maior possibilidade de preservação desta importante função neurológica.
Atualmente as chances de sequelas neurológicas decorrentes do tratamento dos tumores intracranianos em áreas cerebrais chamadas eloquentes (movimentos, fala, expressão facial, deglutição, dentre outros) são cada vez menores, mas nos casos em que elas ocorrem os profissionais de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia realizam a reabilitação neurológica, que em alguns casos podem durar até seis meses, com excelentes resultados.
Prevenção
Considerando a causa genética das neoplasias, há pouco para se fazer em relação à prevenção dos tumores cerebrais. Pacientes com câncer de outras partes do corpo devem realizar o tratamento oncológico adequado, reduzindo assim a possibilidade de disseminação da doença para o cérebro. Além disso, pacientes com sintomas neurológicos recentes devem procurar assistência médica para que possa ser feito o diagnóstico precoce com possibilidade de tratamento adequado e maior probabilidade de bons resultados.
Pixabay