“Em se pisando tudo dá” pode ser conferida até 23 de abril na Galeria Casagaleria Oficina de Arte

A expografia terá três pilares: as instalações Prensa e Tiranias, a série de colagens digitais Antropogenia, o painel dos Anônimos na entrada da galeria, uma intervenção na parede lateral de tijolos entre as duas salas reforçando a invisibilidade das pessoas, além de uma intervenção radical e ousada no teto da galeria, repercutindo na estrutura da galeria. Na entrevista abaixo, o artista expõe os caminhos que percorreu para apresentar ao público seus trabalhos.

A exposição “Em se pisando tudo dá”, individual do artista visual Milton Blaser, traz uma reflexão sobre o Antropoceno, que é o impacto nocivo da ação humana na Terra, sob o reflexo do Patriarcado e tendo como uma das consequências a Invisibilidade das pessoas. Toda essa temática contemporânea pode ser conferida até 23 de abril, na Galeria Casagaleria Oficina de Arte, em São Paulo.

Como surgiu a proposta da mostra Em se pisando tudo dá?

Milton Blaser – Esse projeto propõe uma articulação singular entre dois conceitos relevantes para a contemporaneidade: Antropoceno e o Patriarcado e a masculinidade tóxica. E consiste em duas obras principais que geraram vários desdobramentos utilizando diferentes suportes que se complementam e propõem uma reflexão sobre o impacto das ações predatórias do homem sobre o meio ambiente sob o viés do Patriarcado. Integrados, esses conceitos iluminam uma nova perspectiva sobre a questão ambiental levando-nos a refletir sobre os motivos velados que levam homens, héteros, cis e patriarcais, a praticarem ações nitidamente de destruição e exaustão do meio ambiente desprezando suas consequências sobre a natureza e a humanidade, gerando o Antropoceno desprezando a importância dos seres humanos viventes.

Você criou um projetou ousado para a mostra. Fale sobre ele.

Milton Blaser – Vou fazer uma intervenção ousada na galeria, quebrando o teto da galeria e fazer uma abertura radical para entrar um foco de luz natural e permanente sobre a obra. É uma intervenção super-radical e ousada, com a qual a galerista concordou. O objetivo é apresentar ao público a obra PRENSA exposta simbolicamente às forças da natureza e também representando um rasgo de revolta do ser humano urbano em direção ao cosmos, remetendo às questões das mudanças climáticas que atravessam o planeta e que permeiam o Antropoceno, trazendo para dentro da galeria as questões ambientais E o próprio entulho originário da quebra do teto também estará exposto se relacionando com a obra e estas questões.

Qual o objetivo principal da exposição?

Milton Blaser – Mostrar meu trabalho referente às questões que me incomodam e me angustiam, que são as questões do Antropoceno, do Patriarcado e da Invisibilidade das pessoas. Esses são os três eixos do meu trabalho. Comecei a trabalhar com a questão do Antropoceno, que foi evoluindo porque eu fui pesquisar o que gerou o Antropoceno. Quer dizer, é a posição dos homens, héteros, cis, brancos, que dominam as questões negociais do mundo, do Brasil inclusive, e determinam as ações que acabaram resultando numa degradação do meio ambiente. E a maioria das ações são tomadas por homens. Não se vê mulheres em posição de dominância como têm os homens. Isso é questão de séculos. Antropoceno é um termo que foi sugerido no ano 2000 por um cientista que se chama Paul Crutzen, e ele deu ao termo uma amplitude muito maior, a ideia foi nomear essa idade geológica da Terra de Antropoceno, porque o homem está interferindo geologicamente na Terra e deixando suas marcas de forma inconsequente.

E como a exposição representa isso?

Milton Blaser – Uma das duas instalações principais a Prensa foi produzida com 74 pisos usados e utilizei o verso deles para demonstrar territorialidades, desmatamentos, queimadas enfim, a destruição do ecossistema. Essa construção permeia justamente as questões que o Antropoceno traz pra gente, que é a degradação do meio ambiente, a invisibilidade das pessoas, a opressão do sistema. Essas pessoas que estão na instalação são todas anônimas e elas estão inseridas, esmagadas pela própria construção da obra, e o próprio piso é resultado do Antropoceno, o homem cava a terra, pega o barro, soma com a areia e acaba produzindo o piso, resultado também do Antropoceno. A invisibilidade atinge todas as pessoas, homens, mulheres, idosos, idosas, negros, negras, índios, índias, todos anônimos.

Como foi a composição desse projeto?

Milton Blaser – É uma pesquisa com a qual estou trabalhando há quase três anos. Já fiz uma série de esculturas de pisos com fragmentos de vidros e tinta acrílica chamada “Acidentes de percursos”, que foi exposta na minha última mostra, que aconteceu em 2019. E continuando na sequência a minha pesquisa, entrei em contato com as questões do Antropoceno e Patriarcado que deram origem a criação destes trabalhos que estou expondo nesta mostra Em se pisando tudo dá

Você comentou sobre os pisos, que compõem a instalação Prensa. Fale mais sobre ela.

Milton Blaser – O trabalho consiste na montagem de uma instalação com 74 pisos usados sobrepostos utilizando os seus versos, e tendo a inserção de imagens em preto e branco de pessoas anônimas, invisíveis, desconhecidas, construindo um imenso conjunto visualmente opressor, arqueológico, pesado, um retrato da sociedade, da opressão do capitalismo, do consumismo, do esmagamento do sistema, do descarte da matéria-prima. Esse trabalho propõe uma reflexão sobre as ações predatórias no meio ambiente e os que são atingidos por elas. A aplicação de rostos anônimos de pessoas de diferentes regiões do planeta remete às suas invisibilidades e desimportância para os que exercem as ações predatórias no planeta.

Como define a instalação Tiranias?

Milton Blaser – São 12 estandartes de papel kraft pintados individualmente com enormes pênis brancos e negros eretos, representando símbolos universais, intensos e onipresentes, da presença dominante do Patriarcado, dos homens e das suas decisões que afetam negativamente o planeta. Demonstram as múltiplas formas de abuso feitas pelo homem branco e preto, tais como a violência de gênero, a poluição e a exploração da natureza. Demonstram, enfim, a potência e a prepotência, a rudeza e a indiferença dos homens com os impactos das suas ações devastadoras que destroem o planeta e as relações, da masculinidade tóxica no que hoje se denomina de Antropoceno, como resultado do caos no meio ambiente. O Antropoceno é uma era sem futuro, pois, no ritmo atual, o caminho trilhado vai levar à destruição do Planeta, por isso acho importante denunciar estas questões e compartilhar com o espectador estas obras para ele reflita e se perceba nesse cenário.

Qual sua expectativa em relação ao público da sua mostra?

Milton Blaser — Quero provocar e instigar o público a refletir comigo e questionar o antropoceno, o patriarcado, a invisibilidade, e a buscar novos caminhos. Quero criar ressonância em relação à minha proposta de trabalho.

Qual o impacto da sua exposição no contexto da arte contemporânea?

Milton Blaser – Estou abordando temas bem contemporâneos, estamos vivendo esses temas no dia a dia, são temas bem presentes, estão sendo discutidos amplamente e abertamente no cenário nacional e mundial, o Antropoceno é uma questão que é bem recente, é coisa de cinco, dez anos que começou a ser mais conhecido. Muita gente ainda nem sabe o que é Antropoceno, e não é pouca gente. A questão do Patriarcado está mais presente e tem um conhecimento maior, é mais divulgada. A questão da invisibilidade também é uma questão que está se abordando muito. Então eu vejo como um impacto altamente positivo e inovador porque eu apresento todos os meus trabalhos de uma forma inédita. São instalações que produzi e que acho que podem impactar no cenário da arte contemporânea e que finalizam com as colagens digitais da série Antropogenia, que são trabalhos bidimensionais que trazem a questão da tridimensionalidade da instalação Prensa para as paredes. É uma forma da pessoa ver esse trabalho e se identificar com a proposta da colagem e ter interesse em levar o trabalho, que é acessível. Uma forma de estender a amplitude da instalação Prensa. Vejo os trabalhos como altamente positivos e bastante presentes no cenário de arte contemporânea.

Mostra individual Em se pisando tudo dá, de Milton Blaser

Local: Casagaleria Oficina de Arte — Rua Fradique Coutinho, 1.216, Vila Madalena, São Paulo. Telefone (11) 3841-9620

Horário de visitação: Até o dia 23 de abril, das 13h às 19h de terça a sexta, e aos sábados das 13h às 17h

Entrada gratuita

Sobre Milton Blaser

É artista visual graduado pelo Centro Universitário Belas Artes, em licenciatura Desenho e Plástica. Participou por mais de dois anos do grupo de acompanhamento de projetos com os artistas Carla Chaim, Nino Cais e Marcelo Amorim no Hermes Artes Visuais e do grupo de estudos de produção de arte contemporânea com o curador Paulo Miyada e o artista Pedro França no Instituto Tomie Ohtake. Participou também da Clínica de Projetos do Ateliê 397.

Já expôs individualmente na Casagaleria em 2019 e no Senac Jabaquara em 2018. Participou de vários salões e coletivas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, Galeria LAMB Arts/Hermes Artes Visuais, Salão de Artes Plásticas Praia Grande, Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, Clínica geral GranFinale Ateliê 397.

Foi premiado com medalha de ouro em Pintura com o trabalho Monge no VI Salão Internacional SINAP/AIAP. Fez cursos de Antropoceno e Natureza no Paço da Artes, na Fundação Bienal durante a 34ª Bienal, Laboratório de Aplicabilidades e palestras de Arte e Psicanálise no Adelina Instituto. Participou do grupo de estudos Filosofia na Arte Contemporânea com professores da PUC-SP e do curso de O Desenho e outros crimes do desejo na Escola Entrópica do Instituto Tomie Ohtake, com Cadu.

Sobre a Casagaleria e Oficina de Arte LolyDemercian

Desde 2004 estabeleceu-se como uma alternativa comercial. Dedicada à arte contemporânea, vem se consolidando como um espaço de exibição e produção de conteúdo, articulando exposições, projetos culturais, workshops, revista digital e programas públicos gratuitos, envolvendo artistas em diversos estágios da carreira. Incentivando e orientando novas ideias e projetos desenvolvidos por artistas emergentes ou já estabelecidos.

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