As alterações ocorrem na estrutura do sistema de recompensa do cérebro e podem ajudar a identificar jovens em risco para depressão antes mesmo do início dos sintomas

Um estudo feito a partir de exames de ressonância magnética do cérebro de crianças e jovens identificou que alterações da conectividade no circuito cerebral de recompensa foram associadas a casos de depressão após três anos de acompanhamento. As alterações foram encontradas em uma região no cérebro responsável por integrar e processar informações cotidianas sobre recompensas e motivação, chamado de estriado ventral, o qual teve um papel significativo nos quadros de depressão antes do início dos sintomas.

Os resultados estão na tese de doutorado de Pedro Mario Pan, defendida no Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), sob a supervisão do professor Rodrigo Bressan. O trabalho foi publicado no renomado periódico oficial da Associação Americana de Psiquiatria, o American Journal of Psychiatry.

Cerca de 750 crianças e jovens, com idade entre 9 e 16 anos, foram avaliados nas cidades de São Paulo e Porto Alegre. Além de avaliações psicológicas e psiquiátricas, eles realizaram exame de neuroimagem por meio de ressonância magnética, sendo que 90% (675) foram reavaliados três anos depois com a mesma metodologia. “Encontramos uma conectividade de característica diferente, aumentada ou mais ativada, no cérebro daqueles que desenvolveram depressão após três anos, o que representou 9% dos analisados”, esclarece Pedro Pan.

Os resultados integram o maior estudo epidemiológico longitudinal em Psiquiatria da Infância e Adolescência já conduzido no Brasil, chamado de Projeto Conexão, que teve início em 2009. Ele conta com verbas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para o Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD), e envolve diversas universidades brasileiras, destacando-se a parceria tripartite entre a Unifesp, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).

“Se confirmados em estudos futuros, esses resultados podem ajudar a identificar jovens em risco para depressão antes mesmo do início dos sintomas. Identificar precocemente indivíduos em risco para os transtornos mentais mais comuns é passo inicial para alcançarmos a prevenção no campo da psiquiatria”, ele diz.

Tema relevante e atual

De acordo com o pesquisador, a depressão é uma das principais causas de perda de anos de vida pelo prejuízo funcional dentre todas as doenças médicas. Estimativas apontam que um em cada quatro pessoas apresentaram um episódio depressivo durante a vida. Na adolescência, principalmente, as consequências dos episódios depressivos podem ser devastadoras, como bullying, autoagressão e até suicídio.

“Contudo, ainda sabemos pouco sobre os mecanismos biológicos cerebrais que causam a depressão nessa faixa etária”, pontua. “Alguns estudos anteriores já apontavam para desregulações no circuito cerebral de recompensa como um mecanismo implicado na depressão. Nesse sentido, um adolescente com depressão pode perder a vontade de fazer suas atividades e a capacidade de sentir prazer, sintomas centrais desse transtorno mental”, conclui.

Sobre a Unifesp

Criada em 1994, a Unifesp originou-se da Escola Paulista de Medicina (EPM), entidade privada fundada em 1933 e federalizada em 1956. Por meio do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), iniciou seu projeto de expansão em 2005. Atualmente, a Universidade conta com cursos nas áreas de Humanas, Exatas, Biológicas, Negócios e Saúde; distribuídos nos seguintes campi: São Paulo, Baixada Santista, Diadema, Guarulhos, São José dos Campos e Osasco, além de unidades avançadas de extensão – Embu das Artes e Santo Amaro.

Somos um veiculo de comunicação. As informações aqui postadas são de responsabilidade total de quem nos enviou.