Psicólogo e professor do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), Paulo Aguiar, fala das principais causas que levam uma pessoa a tirar a sua própria vida e orienta como a família pode ajudar
Segundo o Ministério da Saúde, por ano, cerca de 800 mil pessoas tiram as suas próprias vidas em todo o mundo. No Brasil, o número é de 11 mil pessoas, sendo a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Para combater os números alarmantes, setembro ficou amarelo para conscientizar as pessoas a prevenção do suicídio e alertar sobre essa realidade em todo o mundo e suas formas de combate. Por muito tempo, o suicídio foi visto como tabu e as pessoas que cometiam tal ato eram consideradas como fracas e covardes, mesmo tendo chegado a tal extremo movido pelo desejo de libertação.
Não falar sobre o assunto ou julgar quem perdeu a vontade de viver não é o caminho, é preciso trazer esse tema à tona para ajudar quem precisa de apoio, identificando quando quem está perto está desistindo da vida. O psicólogo, professor e coordenador da pós-graduação em Saúde mental, álcool e outras drogas do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), Paulo Aguiar, conta que não existem características suicidas, pois cada caso tem suas particularidades a partir das suas experiências de vida. “Porém, algumas falas podem ser observadas, que apontem para uma tentativa de pôr fim a vida. Assim, é fundamental uma atenção especial quando ouvimos determinadas expressões que apontem para isso”, explica o docente.
Os membros da família são peças fundamentais para ajudar uma pessoa com pensamentos suicida, pois a proximidade fará esses entes perceberem com mais facilidade os primeiros sinais de que há algo errado. “A família precisa estar atenta aos comportamentos dos seus membros. Isolamento, pouca interação e falas que apontem para acabar com a vida devem ser investigadas. A família é fundamental nesse processo”, aponta o professor do IDE.
As causas que levam uma pessoa a tentar contra a própria vida, na maioria das vezes, estão ligadas a patologias, mas não são as únicas razões que levam as vítimas a consumar tal pensamento. “A depressão, a esquizofrenia e alguns transtornos de personalidade podem levar o sujeito a tentar o suicídio. Porém, é importante perceber que outros fatores podem levar às tentativas de suicídio que não sejam apenas a partir de um transtorno mental. As condições socioeconômicas e culturais podem influenciar diretamente nestes casos”, aponta o especialista.
Paulo Aguiar traz três exemplos de casos em que o suicídio não está associado a problemas mentais. O primeiro é o do Grécia, onde os efeitos das políticas econômicas implantadas no país provocaram dificuldades financeiras ao povo daquela nação. “Isso elevou o número de suicídios naquele país sem nenhuma associação com algum transtorno mental, mas fruto de uma mudança radical na economia”, conta o profissional de psicologia do Instituto de Desenvolvimento Educacional.
Outro exemplo é o dos povos indígenas do Brasil. “Um estudo realizado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO) apontou o elevado número de suicídio nas populações indígenas dos estados do Amazonas e Mato Grasso do Sul, principalmente pelo processo de aculturação desta população. Fato curioso e estarrecedor é que a faixa etária principal dos sujeitos que cometem suicido dentro da população indígena está compreendida entre 10 e 19 anos, segundo os estudos da FLACSO”, diz o professor.
E o terceiro caso trazido pelo psicólogo é o do município de Itacuruba, localizada no sertão pernambucano. “A cidade tem uma taxa de suicídio dez vezes maior que a média nacional. Inundada pela hidroelétrica de Itaparica, a população precisou mudar de cidade e isso causou muitos problemas para a população”.
Há uma compreensão de que o uso de drogas ilícitas é também uma das causas que levam um indivíduo a tentar contra a sua própria vida. “Em relação ao uso de drogas, a literatura aponta que as mortes associadas a dependência estão associadas ao tráfico e a ilegalidade de algumas substâncias. As tentativas de suicídio podem acontecer, mas associadas a alguma psicopatologia”, explica o educador.
SAÚDE MENTAL E PREVENÇÃO – Além de ajudar quem precisa de apoio e não deixar que esse assunto continue sendo tabu, é preciso cuidar da saúde mental. “Cuidar da saúde mental não se resume a um trabalho pessoal apenas, a ideia de saúde mental está associada a um conjunto de condições, como trabalho, moradia, renda, uma cidade acessível, opções de lazer, cultura, práticas esportivas, educação de qualidade, trânsito e outras coisas que compõem o dia a dia das pessoas na sua relação consigo mesmo e com os outros num determinado espaço territorial”, orienta o profissional do IDE.
“Penso que cuidar da saúde mental e poder observar estes aspectos, pois senão dirigimos nossa atenção única e exclusivamente para o sujeito e podemos cair no erro de ‘patologizar’ apenas a situação vivenciada individualmente pelo sujeito sem levar em consideração as diversas condições que podem contribui para o sujeito vivenciar o sofrimento e tentar cometer o suicídio”, finaliza o professor sobre a importância de cuidar da saúde mental.
SOBRE O IDE – O Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), desde 2006, é uma instituição especializada em cursos de extensão e pós-graduação na área de saúde, com mais de 120 cursos nas áreas de medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, educação física, psicologia e fonoaudiologia. Com matriz no Recife e atuação no interior de Pernambuco, como Caruaru, Garanhuns e Petrolina, tem unidades também espalhas por vários estados do Norte e Nordeste, como Ceará, Bahia, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará e Amazonas. Já formou mais de 5 mil alunos, sendo a maior estrutura física, administrativa e pedagógica do Nordeste voltada exclusivamente para cursos de pós-graduação em saúde. Mais: www.idecursos.com.br.