Apesar de componentes autoimunes e degenerativos, é possível viver com a doença controlada.
Receber o diagnóstico de uma doença autoimune, crônica e progressiva pode soar assustador para o paciente no primeiro momento, porém, não significa que não seja possível viver bem. Embora a causa do surgimento da Esclerose Múltipla (EM) e consequentemente sua cura sejam desconhecidas, a medicina tem avançado muito nos últimos anos e garantido muito mais qualidade de vida para os portadores da doença.
De acordo com o Dr. Mateus Boaventura, neurologista do Hospital Sírio Libanês e especializado no tratamento de pessoas diagnosticadas com Esclerose Múltipla, os mecanismos principais da doença envolvem a perda da bainha de mielina – um material adiposo que reveste os neurônios- responsável pela condução normal e rápida de mensagens elétricas entre o cérebro e o corpo, além da perda da própria “fibra nervosa” ou axônio, que é o prolongamento do neurônio (mecanismo degenerativo). Essas reações do organismo causam interferências na comunicação entre o corpo e o cérebro. Assim, qualquer sintoma neurológico pode surgir na forma dos chamados “surtos” ou de uma progressão lenta. Infelizmente, ao longo do tempo as lesões podem causar danos irreversíveis em áreas específicas do corpo. Por essa razão, a necessidade de um diagnóstico precoce é fundamental.
Segundo o neurologista, o acesso a informação é de extrema importância para o tratamento e a prevenção de danos mais severos no sistema nervoso. “Veja bem, por se tratar de uma doença crônica, autoimune e progressiva, porém tratável, o quanto antes é descoberta, mais fácil torna-se prevenir o acúmulo de novas lesões e incapacidade neurológica. O problema das formas mais agressivas está no diagnostico tardio” – explica Dr. Mateus.
As campanhas de conscientização são de extrema importância para conhecimento da população. Ao longo do mês de agosto é celebrado o “Agosto Laranja”, uma campanha dedicada à doença, abordando sintomas, diagnóstico precoce, estratégias para melhorar a qualidade de vida, tratamentos, entre outros desafios enfrentados pelos portadores da EM. Algumas pessoas podem não apresentar sintomas por quase toda a vida, enquanto outras lidam com sintomas crônicos graves que nunca desaparecem, por isso a importância da informação para os já diagnosticados, os que não possuem a doença e os que sentem os sintomas e não sabem que são possíveis portadores. “Pode haver um acúmulo de sequelas, se não houver um diagnóstico e tratamento precoce. O diagnóstico envolve uma avaliação detalhada da história dos sintomas, exame neurológico e exames complementares: realização de ressonância magnética, estudo do líquor (punção lombar) e exames laboratoriais para descartar outras doenças – afirma”.
De acordo com o Dr. Mateus Boaventura, cerca de 85% dos casos da doença manifestam-se na forma de surtos que podem durar dias ou até semanas. É importante ressaltar que os sintomas, gravidade e duração dos surtos variam muito de pessoa para pessoa. Entre os sintomas estão embaçamento visual com dor ao mover os olhos, visão dupla, fraqueza e formigamento, comprometimento da coordenação motora, falta de equilíbrio, entre outros por mais de 24h. “Muitas vezes o paciente sente um dos sintomas e procura outras especialidades médicas, que nem sempre identificam a necessidade de uma investigação neurológica. O ideal é que sentindo algum dos sintomas pelo período citado, a pessoa procure auxílio médico, seja diretamente um neurologista, ou sendo encaminhado por outros colegas” – alerta Dr. Mateus.
Apesar da causa desconhecida, acredita-se que a doença seja considerada multifatorial. Diversos estudos sugerem que a EM ocorre em pessoas com uma predisposição genética, em que a interação com fatores ambientais pode desencadear um processo autoimune. Alguns fatores são a falta de Vitamina D, a infecção pelo vírus da mononucleose infecciosa (vírus Epstein Barr), o tabagismo e a obesidade.
Antes de 1993 não havia nenhum tratamento eficaz aprovado. Hoje, felizmente, existem mais de 10 opções de tratamento para frear doença, principalmente em sua forma remitente-recorrente. São desde drogas autoinjetáveis, orais ou venosas. Para a forma primariamente progressiva, existe um tratamento venoso recentemente aprovado, nos últimos 4 anos. Cada opção de tratamento possui um grau de eficácia e um perfil de efeitos adversos. A escolha é individualizada. O objetivo do tratamento é prevenir novos surtos, novas lesões e o acúmulo de incapacidade.
Ainda não existe um controle 100% da doença. Entretanto, após 28 anos da primeira terapia aprovada, a história e o prognóstico de pacientes com esclerose múltipla melhorou significativamente! Felizmente, um grande percentual destes pacientes pode não evoluir mais para incapacidade neurológica importante, e ter uma boa qualidade de vida, caso recebam um diagnóstico e um tratamento precoces.
Sobre Dr. Mateus Boaventura de Oliveira
Médico Neurologista do HC-FMUSP, Hospital Sirio Libanês e H. Albert Eisntein. Realizou fellow clínico e pesquisa em Esclerose Múltipla em Barcelona -Cemcat- Hospital Vall d’Hebron. Possui título de especialista pela Academia Brasileira de Neurologia e é Membro da Academia Americana de Neurologia. Atualmente realiza pesquisas científicas e acompanha diversos pacientes com EM.
O Dr. Mateus Boaventura ainda mantém canais dedicados à disseminação de informações sobre a EM e outras doenças neurológicas de maneira bastante didática.
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