O designer Luciano Pinheiro compartilha sua trajetória e explica como o novo olhar para os materiais orgânicos está transformando a moda.
A última edição do São Paulo Fashion Week destacou o protagonismo dos materiais naturais em acessórios volumosos como uma das trends mais quentes da próxima temporada de verão. Chapéus, bolsas e acessórios em palha tomaram as passarelas e introduziram uma estética fashionista impactante, fruto da fusão entre herança artesanal, ética ecológica e muito glamour. Para o designer Luciano Pinheiro, que explora essa essência em sua assinatura desde o início da trajetória como pesquisador têxtil, o movimento da moda sustentável vai além de uma simples tendência: é a verdadeira valorização da brasilidade, das raízes ancestrais e da transformação de materiais antes vistos como descartáveis.
Filho de uma artesã que produzia chinelos e tapetes de taboa, o designer cresceu imerso em um ambiente onde o artesanato fazia parte do cotidiano. Foi inspirado por esse cenário, onde a natureza podia ser uma fonte de criação e sustento, que Luciano encontrou na palha de piaçava, na fibra de bananeira e em outros recursos nativos, um caminho para transformar essa herança em criações que celebram as raízes ancestrais de um povo que tem por essência a criatividade e brasilidade no sangue.
“Percebi que queria realmente mergulhar no universo dos materiais orgânicos, explorar outras possibilidades e valorizar minhas origens. Foi um processo natural e instintivo, quase como se a marca fosse uma extensão das minhas ideias, do meu ambiente e da minha cultura”, destaca.
Para além das tendências: tradições artesanais como resistência ao fast-fashion
Para Luciano Pinheiro, o uso de materiais ecológicos e as tradições artesanais vão além de preferências estilísticas, são um compromisso com um futuro mais consciente na moda. Colaborando e co-criando com artesãos de diferentes regiões do Brasil, como Ceará, Maranhão e Bahia, o designer transforma materiais nativos em peças icônicas que valorizam a identidade local e promovem práticas sustentáveis.
Para ele, resgatar e reinterpretar técnicas artesanais é uma forma de resistir ao fast-fashion, propondo uma moda com propósito e impacto social. “Entendo a preservação dos saberes manuais como uma forma de repensar processos, gerar renda para comunidades e trazer à tona a riqueza cultural que cada criação carrega em si”, ressalta.
Um exemplo marcante desse trabalho é a IT BAG CARAMUJO, desenvolvida em parceria com artesãs da Bahia. A bolsa utiliza palha de piaçava em um design que homenageia o ambiente costeiro e simboliza proteção e conexão com a natureza.
Outro destaque é o MAXXI CHAPÉU TÉTIS, uma releitura contemporânea dos tradicionais chapéus caiçaras, com fios soltos que evocam a vegetação nativa, exaltando a ligação com as paisagens litorâneas e a cultura local.
Atualmente, o designer está estudando novas possibilidades com fibras naturais e pigmentos de baixo impacto em um Doutorado em Ecologia Aplicada, reforçando seu compromisso em buscar soluções que respeitem o meio ambiente e ao mesmo tempo celebrem as raízes culturais.
“Acredito que o futuro da moda sustentável passa pela educação e pela transformação do pensamento. Precisamos valorizar materiais que impactem menos o ambiente, explorar suas propriedades e reinventar processos, sem abrir mão da funcionalidade e do valor cultural”, conclui o artista.
Sobre a marca:
Luciano Pinheiro é um criador multifacetado cuja trajetória une a pesquisa científica, a moda sustentável e as artes visuais. Suas obras utilizam pigmentos naturais, reforçando sua busca por explorar materiais de baixo impacto em múltiplas formas de expressão, desde o design de decoração até o universo têxtil. Com um compromisso firme com a excelência artesanal, a inovação e a responsabilidade ambiental, o designer continua a redefinir os padrões da moda brasileira, inspirando uma nova geração de criativos e consumidores comprometidos com o estilo consciente e autêntico.
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fotos: Gustavo Rodrigues
