Executivos da Faria Lima recorrem ao uso recreativo do medicamento Venvanse, usado para TDAH, visando maior foco e produtividade
Originalmente prescrito para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o medicamento Venvanse tem sido utilizado de forma recreativa por executivos da Faria Lima em busca de mais foco e produtividade. A neuropsicóloga Patrícia Pontes, com especialização no HC-FMUSP, e o psiquiatra Dr. Alexandre Valverde discutem os potenciais riscos e impactos na saúde mental associados ao uso indiscriminado dessa substância.
O Venvanse é um medicamento que estimula o sistema nervoso central, aumentando os níveis de dopamina e norepinefrina, que desempenham um papel importante na regulação da atenção, impulsividade e comportamento, além de ajudar na concentração, impulsividade e facilitar a execução de tarefas diárias. Atributos que, em tese, seriam altamente desejáveis no mundo corporativo ou em profissões que exigem alto níveis de pressão como estudantes e residentes de medicina. No entanto, o uso desse medicamento fora das indicações médicas e sem acompanhamento profissional pode acarretar sérios riscos à saúde.
Os perigos do uso indiscriminado desse remédio são gigantescos, “quando usado sem acompanhamento e sem necessidade o Venvanse traz efeitos colaterais como aumento da pressão, taquicardia, insônia, ansiedade, irritabilidade e, em alguns casos, episódios de paranoia. Além de gerar dependência, pode favorecer o desenvolvimento de outros problemas como o burnout, por exemplo”, explica a psicóloga Patrícia Pontes.
“O uso exige acompanhamento médico constante, pois há o risco de dependência, especialmente se a pessoa aumentar as doses sem orientação”, explica o psiquiatra Alexandre Valverde. Apesar dos riscos, muitas pessoas usam e abusam do Venvanse por conta da pressão por resultados no dia a dia. O mundo corporativo é uma das áreas que têm sucumbido a essa pressão e acaba levando muitos profissionais a buscarem atalhos para aumentar sua produtividade.
Patrícia alerta que os sinais da dependência do medicamento são claros, “a pessoa passa a ter necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito somado à tentativas fracassadas de parar ou reduzir o uso, aliado a mudanças de comportamento, como irritabilidade ou ansiedade extrema na ausência do medicamento e prejuízos nas atividades importantes da rotina.”
A psicóloga ainda pontua que a partir do momento em que se identifica a dependência é crucial buscar a ajuda profissional imediatamente, para que no processo terapêutico, a pessoa reconheça o problema e consiga ter um tratamento mais assertivo, também é muito importante apoio de amigos e familiares no tratamento, além de manter um estilo e rotina de vida saudável, com alimentação saudável e exercícios físicos.
“O exercício físico toda manhã melhora a oxigenação dos tecidos do corpo de um modo geral e, portanto, também da oxigenação cerebral, o que leva a uma melhora da concentração, da memória e do rendimento no trabalho. Por isso é ótimo fazer atividade física antes de trabalhar”, ressalta o Dr. Alexandre Valverde. Essa melhora da oxigenação da circulação sanguínea também ajuda na eliminação de toxinas e aumenta a disponibilidade de micronutrientes que também alimentam o cérebro e melhoram o metabolismo e a capacidade de trabalho.
Além disso, de acordo com o psiquiatra, a atividade física por si só já é um esforço meditativo, “um esforço de concentração que a gente pode acabar pensando nos problemas e encontrando soluções para os problemas que a gente não conseguia encontrar respostas”, afirma. A busca pela alta performance a todo instante não justifica o uso indiscriminado de medicamentos. O Venvanse, quando utilizado de forma correta e sob orientação médica, pode ser uma ferramenta importante para o tratamento do TDAH.
Foto de Hunters Race na Unsplash
