A cirurgia é o principal tratamento para pacientes com tumores no cólon (intestino grosso) e reto. A incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS) dos procedimentos minimamente invasivos em Oncologia, como a videolaparoscopia, propiciaria menos dor e sangramento, menor tempo de internação e impacto positivo no sistema de saúde como um todo
Feita com pequenos furos e com visualização dos órgãos internos por meio de uma câmera, a videolaparoscopia para câncer, sendo incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS), representaria um avanço significativo para os pacientes oncológicos e para o sistema de saúde como um todo. Dentre as principais indicações de cirurgia minimamente invasiva está o câncer colorretal, o segundo tumor maligno mais incidente no Brasil excetuando câncer de pele não melanoma, tanto em homens, quanto em mulheres, totalizando mais de 45 mil novos casos previstos para 2024. No mundo, o câncer colorretal representa 10% de todos os tipos de câncer, com 1,9 milhão de novos casos anuais e 904 mil mortes, segundo o levantamento Globocan, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A cirurgia para o câncer colorretal é o principal tratamento deste tipo de câncer, sobretudo em estágio inicial. A indicação, assim como o objetivo da cirurgia (se curativa ou paliativa), deve ser determinada pelo cirurgião e a equipe que acompanha cada paciente. O tratamento consiste na ressecção de tumores no cólon e no reto (ânus). Dependendo do estadiamento (fase em que a doença é diagnosticada), o cirurgião também faz a retirada dos gânglios linfáticos próximos e anastomose (emenda) das duas extremidades livres do intestino. No cenário de doença mais avançada, quando o câncer penetrou a parede do intestino grosso e disseminou para gânglios linfáticos próximos, a quimioterapia pode ser adotada após a cirurgia. A Radioterapia, por sua vez, não é um tratamento indicado para tumores no intestino, mas sim para casos selecionados de tumor no reto.
No caso específico do câncer de reto, o tipo de cirurgia depende da distância entre o tumor e o ânus e, ainda, da profundidade da lesão na parede retal. Se for necessária a remoção total do reto e do ânus, a pessoa precisará de uma colostomia permanente. Se o médico conseguir deixar uma parte do reto — e o ânus ficar intacto —, a colostomia possivelmente será temporária, até a cicatrização dos tecidos, com a realização de outra cirurgia para religar o reto ao final do intestino grosso. “Na maioria dos casos, o câncer colorretal é tratado principalmente com cirurgia. Poder oferecer as técnicas minimamente invasivas, como laparoscopia e robótica, representará um importante ganho em qualidade de vida para os pacientes”, destaca o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO e titular do Hospital de Base, de Brasília.
Em números, no momento imediato após o diagnóstico, 60% dos pacientes oncológicos são tratados por cirurgia. Ao longo do plano terapêutico, a média de pacientes que são submetidos às cirurgias curativas ou paliativas sobe para 80%. Isso sem falar que lá atrás, no momento do diagnóstico e estadiamento (identificação da fase em que a doença se encontra), nove entre dez pacientes passam por cirurgia para coleta de material para biópsia.
VANTAGENS DA CIRURGIA MINIMAMENTE INVASIVA – A videolaparoscopia é feita com pequenos furos e a visualização dos órgãos internos ocorre por uma câmera. Diferentemente das cirurgias tradicionais (também conhecidas como cirurgias abertas), que geralmente exigem longos períodos de recuperação no hospital, as técnicas minimamente invasivas permitem que os pacientes se recuperem mais rapidamente (redução de até 35% no tempo) e, muitas vezes, possam voltar às suas atividades normais num prazo menor.
A cirurgia minimamente invasiva geralmente resulta em menos dor pós-operatória, o que melhora significativamente o conforto dos pacientes. Isso também está relacionado à diminuição das complicações pós-cirúrgicas, o que reduz a necessidade de reinternações e procedimentos adicionais, podendo economizar recursos do SUS. Outro ponto importante é a redução das cicatrizes visíveis, o que não apenas contribui para a estética do paciente, mas também pode impactar positivamente em sua autoestima e qualidade de vida.
Outra vantagem é para o sistema de previdência, já que muitos pacientes poderiam retornar mais precocemente ao trabalho, reduzindo os gastos com tempo de afastamento. Em linhas gerais, a atuação do cirurgião oncológico se dá na prevenção, no rastreamento, diagnóstico, estadiamento, tratamento do tumor primário, reconstrução e reabilitação, tratamento paliativo, cirurgia citorredutora e das metástases, gerência de serviços de oncologia e na pesquisa.
CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS – O período pós-operatório da cirurgia para o câncer colorretal pode englobar cuidados muito distintos, de acordo com o tipo de procedimento e sua extensão. Neste sentido, a atuação da equipe multidisciplinar é fundamental para uma recuperação mais rápida e satisfatória. Enfermeiros, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo e outros profissionais podem ajudar paciente e família nesta fase. Em alguns casos, é necessário o uso provisório ou permanente de uma bolsa especial para o processo de evacuação das fezes. Para estes pacientes, há cuidados que proporcionam mais segurança e qualidade de vida:
- a bolsa deve ser higienizada todos os dias. A troca pode ser feita uma ou duas vezes por semana, conforme a necessidade;
- esvaziar quando estiver acima de um terço da capacidade: evita o peso excessivo e reduz o risco de descolamento da bolsa;
- ficar atento a alterações como irritação da pele ao redor ou febre;
- evitar ambientes com altas temperaturas, como praias;
- após a completa recuperação pós-cirúrgica, o paciente pode voltar a praticar atividades físicas leves, com orientação médica.
DOENÇA PODE SER EVITADA COM COLONOSCOPIA – O câncer colorretal pode se desenvolver silenciosamente por um tempo, sem apresentar nenhum sintoma. Quando o paciente apresenta sintomas, já pode ser sinal de uma doença mais avançada. Por conta disso, é fundamental a realização de colonoscopia a partir dos 50 anos em pessoas – ou 40 anos, caso haja histórico de câncer na família. Este exame pode evitar a doença, pois, por meio dele, é possível retirar pólipos, que são lesões presas na parede do intestino que poderiam evoluir para câncer.
CAUSAS DO CÂNCER COLORRETAL – Ainda que possa se desenvolver em jovens, o câncer colorretal é mais comum a partir dos 50 anos. Por isso, a idade é tida como um dos pontos de atenção ao surgimento da doença. Mas não é só. Os principais fatores de risco para o câncer colorretal:
- hábitos alimentares não saudáveis – dieta pobre em fibras, com consumo excessivo de alimentos processados e carne vermelha;
- obesidade;
- sedentarismo;
- tabagismo e alto consumo de bebidas alcoólicas;
- histórico familiar de câncer colorretal, de ovário, útero e/ou câncer de mama;
- preexistência de doenças como retocolite ulcerativa crônica, doença de Crohn e doenças hereditárias do intestino.
SINAIS DO CÂNCER COLORRETAL
O câncer colorretal, em seu estágio inicial, raramente apresenta sintomas específicos. Ainda assim, podem aparecer alguns sinais que indicam alterações e merecem atenção, especialmente para pessoas que se enquadram nos fatores de risco descritos anteriormente. Assim, vale ficar atento à:
- presença de sangue nas fezes;
- alternância entre diarreia e prisão de ventre;
- alteração na forma das fezes (muito finas e compridas);
- perda de peso sem causa aparente;
- sensação de fraqueza e/ou diagnóstico de anemia;
- dor ou desconforto abdominal, e
- presença de massa abdominal (que pode ser indicativa de tumor).
Ao apresentar algum desses sinais de forma frequente, é importante passar pela avaliação de um médico especializado. Além do câncer, estas ocorrências podem indicar a presença de outras doenças que também precisam de tratamento.
PREVENÇÃO DO CÂNCER COLORRETAL
Como o câncer é uma doença multifatorial e tem, entre seus causadores, a predisposição genética, não existe uma conduta que garanta 100% a sua prevenção. No entanto, ao evitar os fatores de risco, a possibilidade de desenvolver o câncer colorretal fica menor. A alimentação tem grande influência na prevenção do colorretal. Nesse sentido, nosso conselho é manter a saúde em dia, investindo em qualidade de vida, com algumas medidas como ter uma alimentação saudável; manter o peso corporal adequado; praticar atividades físicas com regularidade; não fumar e evitar o tabagismo passivo e reduzir o consumo de álcool.
Sobre a SBCO – Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é também promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida pelo cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro (2023-2025).
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