Desmatamento, calor extremo e queimadas, ciclo perigoso que lesa a saúde das pessoas, animais e impacta a economia.
A onda de calor registrada este ano está batendo recorde de temperaturas e em extensão regional, castigando estados em todo Brasil. O que nem todos sabem é que uma das principais causas das altas temperaturas é o desmatamento, e como consequência vem provocando incêndios florestais, prejudicando safras, provocando morte de animais e comprometendo a saúde humana.
Natureza destruída
De acordo com o fundador e presidente da ONG Save Cerrado, Paulo Bellonia, quando o homem destrói uma floresta nativa para abrir terras, construir barragens, explorar atividades do agronegócio, está iniciando um ciclo perigoso de perda de biodiversidade, desencadeando problemas que podem afetá-lo diretamente como a mudança climática. “Essa intensa onda de calor pode favorecer a propagação do fogo por várias regiões do país. O Brasil está em chamas, e isso não é uma figura de linguagem. Os principais biomas do país e do mundo estão queimando.
De acordo com levantamento e imagens de satélites do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), a quantidade de focos de incêndio tem crescido por todo o território brasileiro. Os biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal ocupam os três primeiros lugares do ranking negativo. Os dados são do período de janeiro a setembro de 2020.
Mudança climática
Bellonia explica que as queimadas operam em um ciclo preocupante. “Quanto mais desmata, mais emissão de gases de efeito estufa, mais calor, mais queimadas, mais ocorrências de incidentes naturais com chuvas intensas em curto espaço de tempo, ventos extremos em locais que jamais ocorreram, como em Santa Catarina no primeiro semestre desse ano. Ao queimar a vegetação, são novamente liberados gases do efeito estufa na atmosfera, e potencializando as mudanças climáticas, que por sua vez causam aumento de temperatura e clima mais seco em diversas regiões do mundo”.
A Organização Mundial de Meteorologia prevê para o período de 2020/2024 aumento de temperatura, redução de chuvas e consequentemente períodos mais secos em algumas regiões, incluindo a América do Sul. Isto pode alterar os ecossistemas de maneira que a biodiversidade, muitas vezes, não consiga se adaptar.
Bellonia esclarece que uma biodiversidade em equilíbrio mantém o meio ambiente saudável, questão fundamental para evitar a ocorrência de doenças, incluindo pandemias, como o Coronavírus, um reflexo duro na humanidade mundial neste ano. “Os biomas estão interligados, enquanto o Cerrado é conhecido como a caixa d’água do Brasil por concentrar as nascentes de muitos rios e bacias hidrográficas, a Amazônia produz uma série de serviços ambientais distribuídos pelo país, um deles é levar chuvas para regiões distantes. Os chamados “rios voadores” podem ser enfraquecidos devido ao desmatamento e, consequentemente, levar menos umidade para as outras regiões, incluindo o Pantanal”.
Como podemos ajudar?
Proteger florestas nativas no Cerrado e os demais ambientes naturais é fundamental na luta contra as crises climática e da biodiversidade e cabe a nós resistir a este modelo de destruição. “Defender o equilíbrio do ecossistema é preservar a saúde e o bem-estar humano. Tudo está inserido dentro de um importante ciclo”, alerta o especialista. Por isso, fundou a Save Cerrado, uma ONG que atua exclusivamente no Cerrado, bioma com uma das maiores riquezas de biodiversidade do planeta.
“Nossas ações estão relacionadas com áreas específicas e de altíssima relevância de preservação para a sociedade brasileira e mundial, tanto pela importância das águas quanto pelo fato de se tratar de um Hotspot, tudo com total transparência de onde exatamente os recursos estão sendo aplicados”, informa. Hotspots são áreas com grande biodiversidade e ameaçadas de extinção, se concentram em apenas 2,3% da superfície do planeta, e detém cerca de 60% do patrimônio biológico do mundo.
Bellonia finaliza explicando que proporcionalmente o Cerrado é o bioma mais desmatado do Brasil. “De acordo com a lei, 80% das áreas privadas podem ser utilizadas para o agronegócio, favorecendo o desmatamento e impactando na perda de uma da mais rica biodiversidade do planeta, além de acelerar o aquecimento global. Nós da Save Cerrado evitamos o desmatamento em áreas privadas prioritárias para conservação e desenvolvemos ações sustentáveis de recuperação de veredas, educação ambiental e extrativismo sustentável, envolvendo as comunidades e cooperativas locais. Hoje temos o orgulho de trabalhar na proteção de uma área de 180 milhões de m2 em um dos 4 principais mais importantes corredores de preservação do cerrado.”
A Save Cerrado é uma Organização sem Fins Lucrativos (ONG), que atua na recuperação e preservação de áreas críticas do Cerrado, localizada dentro ou próxima de UC’s, e que nos termos da legislação tributária brasileira, goza de isenção com relação aos tributos federais devidos sobre suas receitas. Acesse o site da organização e saiba mais sobre o projeto e como você pode ajudar a combater ao desmatamento de áreas privadas em UC’s, “adotando” sua área e ajudando a preservar os 180 milhões de m2 no Cerrado.