Especialista do Centro de Excelência Canabinóide (CEC) explica principais diferenças entre os ativos e como eles agem no corpo
A tendência na procura por produtos naturais e revolucionários segue expandindo e tornando-se a principal escolha pelos consumidores brasileiros. Todo momento, marcas investem no desenvolvimento de ingredientes naturais que contemplem benefícios como o bem-estar a partir de ativos poderosos antiestresse, calmantes e que propiciam equilíbrio em multiplos aspectos.
Globalmente, os cosméticos com infusão de CBD (canabidiol) movimentaram US$ 5 bilhões em 2018, mas o montante deve chegar a US$ 18 bilhões até 2026, segundo relatório da Zion Market Research. No Brasil, o canabidiol só é permitido pela Anvisa para a fabricação de remédios controlados, porém, marcas de skincare já estão apostando em produtos com os efeitos similares ao CBD, mas sem nenhum derivado de Cannabis.
Nesse cenário, surgiu o Cannabinoid Active System, ou popularmente CBA, que consiste em um ativo 100% brasileiro, composto por uma mistura de óleos amazônicos, legalizados no Brasil. O ativo se tornou uma alternativa legal e segura com efeitos análogos aos produtos que carregavam CBD em sua composição, com versatilidade de usos e aplicações em diferentes produtos cosméticos, como tônicos, loções, géis, cremes e sabonetes, entre outros.
Entre as funções prometidas pelas marcas que o utilizam em suas formulações, estão a atividade anti-inflamatória, antiacne, antioxidante e antibactericidas, melhora da cicatrização, sensação de relaxamento e retardamento do processo de envelhecimento. Entretanto, faltam estudos que comprovam que sua eficiência seja tão eficaz quanto o uso de ativos fitocanabinóides.
O especialista Guilherme Marques, médico do Centro de Excelência Canabinóide (CEC), separou as principais dúvidas relacionadas ao tema.
- O CBA está presente na cannabis?
O CBA é uma mistura de β-cariofileno, humuleno, ácido linoleico e ácido graxo da mesma família do ômega-6, que, por sua vez, também estão presentes em outras plantas (manga, cravo da índia, alecrim, copaíba etc). Esses ativos também estão presentes na planta cannabis, entretanto isentos dos compostos que caracterizam a terapia canábica propriamente, ou seja, não possuem os verdadeiros ativos fitocanabinóides: CBD, THC, CBG, CBN, entre outros. Em outras palavras, o CBA é uma composição de terpenos – substâncias voláteis com aroma normalmente encontrados em várias plantas e ervas.
- Qual a principal diferença entre o CBA e o CBD?
São duas grandes diferenças:
- Primeira: são derivados de fontes naturais diferentes. O CBD vem da planta Cannabis, enquanto o CBA de outras fontes e extratos naturais autorizados para comercialização no Brasil.
- Segunda: o CBA não possui as mesmas atividades dos fitocanabinóides, mas sim uma parte das propriedades que a planta como um todo possui. Isso se dá porque ele é uma composição de óleos que prometem produzir beta-endorfinas, trazendo funções calmantes e melhor cicatrização, assim como a sensação de bem-estar. Sendo assim, compoem uma parte do espectro de ação de toda planta cannabis – logo não podemos dizer propriamente que se trata de um canabinóide.
As semelhanças são que ambos são derivados de fontes naturais e não causam efeitos psicotrópicos (como o THC, dependendo de sua concentração).
- Como os fitocanabinóides agem no corpo?
Basicamente, temos os receptores CB1 e CB2 como os principais locais que acolhem essas moléculas de canabinóides (sejam do organismo humano ou da planta). Esses receptores estão presentes em múltiplos locais do nosso corpo: sistema nervoso, pele, folículo capilar, olhos, sistema imunológico, endócrino, vascular, entre outros. O motivo para termos esses receptores em praticamente todo nosso corpo está intimamente ligada à função dos mesmos: manejar o equilíbrio dos diversos sistemas do nosso corpo. Sabe-se ainda que o número de receptores que interagem com os canabinóides é vasto, indo muito além do CB1/CB2. Esse entendimento de receptores e suas ativações são imprescindíveis para estudarmos a vastidão dos benefícios dessa terapia, incluindo garantir a saúde e o bem-estar das pessoas, mas também no tratamento de condições patológicas específicas.
- Porque o CBA está se tornando um queridinho em cosméticos brasileiros?
A história começou quando a Beraca, empresa que oferta insumos de cosméticos, criou um composto que, segundo o apelo comercial da empresa, possui efeitos similares aos do CBD e patenteou esta fórmula com o nome de CBA (abreviação para Cannabinoid Active System). Neste contexto, a Lola Cosmetics integrou-se como cliente da primeira, produzindo uma linha de tratamento capilar à base de CBA. Segundo a Lola Cosmetics, esta linha se caracteriza por uma “fórmula rica em complexo probiótico e ação anti-inflamatória”, prometendo “devolver a saúde e vitalidade dos fios através de seus ativos naturais”. Além disso, proporciona uma “sensação de relaxamento, controla o frizz e auxilia na reparação tecidual, através de sua proteção antioxidante”.
Mesmo com todos esses benefícios referidos, podemos afirmar que NÃO temos um ativo canabinóide na fórmula sequer – caso contrário sua comercialização não seria autorizada em território nacional. O CBD e outros componentes exclusivos da cannabis possuem uma ação mais ampla que o CBA, uma vez que o CBD é a principal molécula que caracteriza a terapia canabinóide, norteando boa parte de nossos estudos e responsável pelas maravilhosas respostas clínicas que vemos nos nossos pacientes.
- O CBD já é amplamente utilizado em cosméticos fora do Brasil. Qual a sua aplicação?
O CBD é sabidamente capaz de promover alívio de irritações e a redução da vermelhidão da pele (chamamos de eritema), além de possuir ação antioxidante, regeneradora, hidratante e anti-inflamatória. Além disso, há um potencial magnífico de atuar em pontos cruciais do processo de envelhecimento. Por exemplo, as manchas de pele que se deram por um histórico inflamatório prévio (chamado de hipercromia pós-inflamatória) são uma condição que podemos evitar com esses mesmos produtos. Dentro do estudo dos cabelos, temos uma aposta dos ativos canábicos em sua atividade anti-inflamatória em doenças do couro cabeludo que contam com essa ação (alopecias, por exemplo). Inclusive, já temos linhas de tratamento no mercado cosmético estrangeiro que atendem a esta demanda.
Quanto à indústria cosmética, temos marcas consagradas que possuem produtos à base de CBD em suas fórmulas. A primeira que lançou um produto a base de ativos destilados da Cannabis Sativa foi a britânica The Body Shop em 1998, com a linha Hemp Hand Protector com seu hidratante para mãos. Entre outras grandes marcas, temos a Kiehl’s (da L’Oreal), Tresemmé (Unilever) e a Avon (Natura) com seu sérum facial Green Goddes. No setor da cosmética de luxo, a americana Barneys inaugurou em 2019 a The High End, uma linha de cosméticos a base de CBD.
No Brasil, em breve teremos regulamentações que permitirão ao médico arquitetar fórmulas em farmácias de manipulação utilizando ativos fitocanábicos em sua composição. Um exemplo recente foi o laboratório paranaense Prati-Donaduzzi, que foi autorizado a produzir o extrato de canabidiol vendido em farmácias (desde que tenha indicação médica e em receituário tipo B – azul).
- Um cosmético que possui CBD em sua fórmula pode ser comercializado sob prescrição médica?
Tal cosmético só poderá ser utilizado sob prescrição médica. A maior parte dos produtos são importados e em associação com outros produtos consagrados no mercado cosmético, como a vitamina C, aloé vera, D-pantenol, entre outros. Creio que a associação de ativos sabidamente eficazes e já utilizados há anos no mercado, em conjunto com novas composições de fitocanabinóides, será a chave para o sucesso neste ramo.
É sempre bom salientar que, além da burocracia, a receita médica é uma consequência de um atendimento integrado e individualizado, apresentando uma indicação assertiva e sob o olhar de um profissional médico capacitado a manejar esta terapêutica – bem como os possíveis ajustes desta última.
Sobre o CEC
Fundado em 2018, o CEC – Centro de Excelência Canabinóide – é uma healthtech que cuida de pessoas por meio da medicina integrativa e humanizada, utilizando a cannabis medicinal como ferramenta complementar para proporcionar bem-estar físico, mental e qualidade de vida para pacientes e seus familiares.
O CEC – Centro de Excelência Canabinoide também tem como papel fundamental contribuir com a evolução do mercado da cannabis medicinal no Brasil, por meio da capacitação de médicos e profissionais da saúde com cursos especializados, que incluem certificação internacional, focados no sistema endocanabinóide.
Com um formato pioneiro na América Latina, que integra Ciência, Pesquisa, Educação e Medicina, o CEC desenvolveu um ecossistema centrado no paciente, orientado por dados e análises. Possui atualmente uma clínica em São Paulo, além da telemedicina para todo o Brasil.