Franceses costumam se apaixonar pelo Brasil. Não foi diferente para o designer Serge Cajfinger que viveu por aqui até os 14 anos. Em uma casa que rende homenagem ao trabalho dos artesãos de Trancoso, na Bahia.
NO BRASIL NÃO É NOVIDADE. HÁ QUEM DIGA SE TRATAR DE UM DESTINO “MANJADO”.
Em outras partes já não é assim, embora o nome seja comentado em jornais e revistas aqui e ali. Algumas das figuras mais conhecidas da moda, da arte e do cinema passam temporadas por lá, longe da agitação dos paparazzi e com muito sol na cabeça. Estamos falando, claro, da inesgotável Trancoso, que, não faz muito, era isolada do resto do planeta, sem estradas ou eletricidade. A vila autêntica na costa baiana mantém sua simplicidade boêmia nos detalhes. Os nativos da região assistiram à chegada dos hippies antes mesmo de as celebridades buscarem refúgio neste ponto que lembra o paraíso, e que merece uma visita ao menos uma vez na vida. Para Serge Cajfinger, é a anti-Saint-Tropez. Por isso, erguer esta casa é o sonho realizado desse francês nascido em Lille e criado no Brasil até os 14 anos de idade. Sete anos atrás, ele vendeu a Paule Ka, sua marca de roupas e acessórios com a cara da mulher parisiense e um twist da Provence, e deixou o universo fashion para se revezar entre o Rio e Paris. Foi quando decidiu fincar de vez um pé no Brasil. “Aqui a natureza é exuberante e ainda selvagem.
O mar é o mais bonito do mundo e a vista é de tirar o fôlego. Não tinha dúvidas quanto ao mood, não foi difícil fazer essa escolha”, brinca o pro prietário. Em seis semanas a obra foi concluída, graças à eficiência dos artesãos locais, para quem nada é impossível. “Desenhei a maioria dos móveis, reali- zados em três dias. Eles os executaram perfeita- mente, com todos os cuidados ancestrais, como um vestido. Sempre quis fazer a ligação entre moda e arquitetura, criação e construção – uma roupa reúne estas duas funções e, hoje, me dedico com alegria a projetos de casa.” Com madeira de demolição, Serge fez camas, aparadores e a mesa de jantar. Completou a decoração com cadeiras garimpadas em São Paulo, objetos coletados ao longo do tempo, como os espelhos, as cestas tecidas em algodão e os tapetes de fibras naturais produzidos por índios.
Em resumo, interpretou o lugar como a cenografia de um filme. “Aqui, nestes 75 m², tivemos de refazer tudo, com direito a três quartos e três banheiros. Eu coleciono casas e gosto de compartilhar com familiares e amigos.” Uma vez lá, Serge se impregna de natureza, música e comida. Não precisa ir muito longe: perto dali fica o Quadrado, que se anima e se ilumina no final da tarde. Jogos de futebol descalço, barracas com pratos típicos à base de peixe e lampiões que se acendem nas mangueiras. A vida em Trancoso é simples e descontraída, como se o mundo inteiro estivesse em festa…