A cannabis tem ganhado espaço nos debates sobre saúde, especialmente no uso medicinal, o que levanta uma dúvida comum: qual é a diferença entre a cannabis medicinal e a recreativa, se ambas vêm da mesma planta?
A resposta é complexa e envolve desde a compreensão da complexidade química da planta até a forma de uso. Embora tenham a mesma origem, a cannabis medicinal é cuidadosamente manipulada para obter benefícios terapêuticos específicos, com acompanhamento profissional, enquanto a versão recreativa é usada sem um objetivo médico definido e sem controle de dosagem ou composição.
No âmbito medicinal, a planta é administrada para tratar condições como ansiedade, dor crônica, entre outras, com base na ciência dos canabinóides. A principal diferença reside na compreensão e aplicação desses compostos, que variam de acordo com a necessidade terapêutica.
Um aspecto crucial do uso medicinal é a associação entre canabinóides, conhecido como Efeito Comitiva, – que potencializa o efeito individual de cada composto e até mesmo de outros medicamentos usados em paralelo. Em tratamentos complexos para pacientes que sofrem simultaneamente de ansiedade e dor, é necessária uma combinação de canabinóides. Isso porque o THC, um canabinoide com propriedades analgésicas, pode aumentar a ansiedade. Esse efeito colateral pode ser amenizado com o uso conjunto de CBD.
“Quando você utiliza a planta de forma medicinal, é essencial conhecer cada canabinoide e entender como aplicar a forma personalizada para o paciente. Isso permite usar a planta em sua potência máxima, garantindo que o tratamento seja seguro e eficaz”. Assim, o uso medicinal exige uma compreensão detalhada de cada composto e sua interação com o corpo, indo além da simples presença dessas substâncias.
Por isso, como alerta Maria Klien, o desafio da medicina canabinoide reside em “titular a dose ideal”, ou seja, personalizá-la, considerando suas reações e a intensidade dos sintomas. “Quando os canabinóides são bem associados nessa alquimia, potencializando o efeito individual de cada um, existe uma grande margem de acerto no tratamento”.
Maria Klien destaca ainda a importância de considerar o contexto de uso. Muitas pessoas que usam cannabis recreativamente, na verdade, buscam alívio para sintomas como insônia, falta de apetite ou dificuldades para trabalhar e socializar.
“É importante considerar o contexto de uso da cannabis. Muitas pessoas que a usam recreativamente buscam, na verdade, alívio para sintomas. Quando alguém diz que precisa fumar para dormir, para comer, para trabalhar, essa pessoa já utiliza a planta medicinalmente, buscando seus benefícios terapêuticos. A diferença é que o faz sem acompanhamento, de forma recreativa, e não com a orientação necessária para um tratamento seguro e eficaz. Por isso, a avaliação profissional é fundamental para definir a melhor abordagem terapêutica”.
Para Maria Klien, o uso medicinal da cannabis é, portanto, um processo cuidadoso que exige conhecimento técnico, uma abordagem científica e, principalmente, a “alquimia complexa” da personalização. “O tratamento com cannabis medicinal requer a orientação de um especialista para que o uso seja feito de maneira segura e na potência adequada, de forma mais eficiente e inteligente”, ressalta ela.
Sobre Maria Klien
Maria Klien exerce a psicologia, se orientando pela investigação dos distúrbios ligados ao medo e à ansiedade. Sua atuação clínica integra métodos tradicionais e práticas complementares, visando atender às necessidades emocionais dos indivíduos em seus universos particulares. Como empreendedora, empenha-se em ampliar a oferta de recursos terapêuticos que favorecem a saúde psíquica, promovendo instrumentos destinados ao equilíbrio mental e ao enfrentamento de questões que afetam o bem-estar psicológico de cada paciente.
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