Estudantes do curso de Sistemas de Informação relatam as histórias de 19 máquinas que fazem parte do acervo do Museu de Computação Odelar Leite Linhares, localizado na USP, em São Carlos

A pandemia do novo coronavírus fechou os museus ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, abriu portas para ampliar o acesso virtual ao que antes estava disponível somente para quem poderia comparecer presencialmente a esses espaços. Com o objetivo de possibilitar que mais pessoas conheçam os impactos da tecnologia na história da humanidade, acaba de ser lançada a primeira exposição virtual do Museu de Computação Professor Odelar Leite Linhares, localizado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.

Alunos que dão voz a máquinas é o título da iniciativa, resultado da dedicação dos estudantes que ingressaram este ano no curso de Bacharelado em Sistemas de Informação no ICMC. Eles foram convidados a enfrentar um desafio no primeiro semestre: dar voz a 19 máquinas que fazem parte do acervo do Museu.

O convite veio do professor Claudio Toledo, responsável por ministrar uma disciplina que aborda a evolução histórica da computação. Curador do Museu, Cláudio sugeriu que os alunos se dividissem em grupos. Foi assim que surgiram as 22 equipes que se dedicaram a pesquisar as curiosidades e incontáveis histórias que permeiam essas 19 máquinas. No início do semestre, dias antes da pandemia paralisar as aulas presenciais, os estudantes entraram no museu e fotografaram as peças do acervo que iriam dar voz.

“Eu me empolguei fazendo esse trabalho. Pesquisei sobre o Atari e me esforcei até mais do que o necessário, criei um laço com a peça em si, um carinho. Cheguei até a instalá-la em uma máquina virtual para fazer uns testes. E como eu já tinha experiência com animação, fiz uma apresentação toda customizada, baseada na máquina”, explica Samuel Oliveira. Ele e Augusto Arantes são os alunos que dão voz ao ATARI 1040ST, lançado em 1983. Apesar de Atari ser um nome relacionado à indústria de consoles e videogames, a empresa também lançou computadores como o ATARI 1040ST, que além de jogos, oferecia ferramentas de criação e edição de textos, imagens e músicas. Samuel e Augusto criaram até um emulador, que possibilita ao público da exposição ter um gostinho de como funcionava essa máquina.

Já os estudantes Tayane Guerreiro e Rafael de Oliveira decidiram contar a trajetória do primeiro computador portátil da Apple, o Apple IIc, de uma maneira nada tradicional: “Quem me conhece sabe que eu sou bem blogueirinha, adoro aparecer. Então, eu pensei: o Tik Tok está aí para isso, explodindo, por que não usar? Lembrei que tinha um recurso em que apareciam os slides atrás e eu poderia aparecer na frente”, revela Tayane. Ela propôs a ideia a Rafael, que aceitou o desafio. “Até o professor Claudio duvidou de que a gente conseguiria fazer isso”, lembra a aluna. Resultado: a dupla consegue dar voz à máquina de uma forma divertida e atraente.

Museu sem paredes – “Com essa pandemia e com essa exposição, estamos mostrando que os museus não têm paredes. Qualquer pessoa pode ir a qualquer museu e compartilhar o que a gente tem de mais precioso. O nosso museu é um exemplo para o Brasil na área de computação”, disse o professor André de Carvalho, vice-diretor do ICMC, durante o evento online de lançamento da exposição.

“Nesse momento, ter uma exposição como essa é fundamental para ampliar a abrangência e o alcance das ações do ICMC. O Museu de Computação é muito importante para nós porque conta a história de como a humanidade tentou mecanizar o pensamento”, explicou o professor Moacir Ponti, presidente da Comissão de Cultura e Extensão Universitária (CCEx) do ICMC. “O papel principal da Universidade é gerar conhecimento por meio da pesquisa. Esse conhecimento gerado e estudado pelos pesquisadores e professores da Universidade é ensinado aos alunos para formar recursos humanos em nível de graduação e pós-graduação. A extensão é um pilar muito importante porque permite que esse conhecimento, que é ensinado e pesquisado na Universidade, possa atingir a sociedade”, acrescentou.

Transmitido ao vivo pelos canais do Instituto no Youtube e no Facebook na noite de quarta-feira, 1º de julho, o evento online contou com a participação dos alunos responsáveis pela exposição. No total, nove alunos relataram a experiência de aprendizado que obtiveram ao longo do semestre, enquanto realizavam o trabalho de levantamento das informações sobre cada máquina e definiam a melhor maneira de levar aquele conhecimento ao público por meio de um site na internet. “Para a gente, como aluno, participar desse projeto teve um valor especial. Eu não encarei como um trabalho acadêmico, mas realmente como uma oportunidade de reverter à sociedade todo esse investimento que faz na gente”, revelou o aluno Lucas Caetano durante o evento.

“Foi um semestre atípico, esses alunos tiveram duas semanas de aulas presenciais no ICMC e, depois, tudo se tornou virtual. Então, é muito bom ver esse engajamento para contarem um pouco da história da computação e falarem do nosso Museu”, reconheceu Ellen Francine, coordenador do curso de Sistemas de Informação.

Além de dar voz a máquinas, no mundo pós-pandemia, o professor Claudio pretende também “dar pernas” às peças do Museu, para que compartilhem suas histórias com o mundo: “O ICMC tem um tesouro que é esse Museu de Computação. Então, os professores do Instituto poderão requisitar as máquinas do acervo e levá-las à sala de aula para mostrar como era a arquitetura e o software de uma determinada época. Mas a ideia é que isso não seja privilégio dos professores do ICMC. Estaremos de portas abertas para emprestar peças a outras instituições que queiram exibi-las e os monitores poderão ir a essas instituições e falar sobre elas. Nossa intenção é estreitar nossos laços com a sociedade”.

Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC-USP
Crédito das imagens: Museu de Computação

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