O pet food continua sendo o produto mais procurado do segmento, mas a carga tributária é de 54,2% sob o valor total
Com mais de 144 milhões de animais de estimação nos lares brasileiros, os itens fabricados para pets, especialmente o pet food, vem sofrendo com a onerosa carga tributária e a alta do preço de matérias-primas como soja, milho e trigo. Prova disso é que a cada R$ 1 gasto com produtos pet no Brasil, 50% são impostos, segundo dados da Abinpet.
O faturamento do setor em 2021 chegou a R$ 35,8 bilhões. No entanto, não houve crescimento real, como explica Gerson Luiz Simonaggio, diretor-executivo da Nutrire, empresa que há 20 anos se dedica à alimentação de cães e gatos, com sede em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, e com planta em Poços de Caldas, no Sul de Minas.
“Embora os números sejam sempre positivos, enfrentamos um gargalo que prejudica a produtividade, e consequentemente, a decisão de compra do consumidor, lá na ponta: a alta carga tributária imposta ao setor. Os custos de produção tiveram acréscimo considerável. Ingredientes como farinha de proteína animal, milho, arroz, trigo e soja subiram de 65% a 165%. Com tamanha disparidade, o desafio é conseguir manter o preço do produto para o cliente final”, revela. Apesar dos ventos contrários, a Nutrire produz 20 mil quilos de ração por hora nas fábricas.
O pet food continua sendo o produto mais procurado do segmento, mas a carga tributária é de 54,2% sob o valor total. “Uma solução seria retirar os itens pet da categoria de supérfluos. Cuidar dos animais de estimação se transformou em uma necessidade básica. Até porque são mais cães e gatos do que crianças nos lares brasileiros, segundo o IBGE”, acrescenta.
Recente estudo do Instituto revela que 44,3% dos domicílios do país têm ao menos um cachorro, ou seja, quase 29 milhões de casas brasileiras. São 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos contra 45 milhões de crianças. Para Simonaggio, é inevitável não aumentar o valor do alimento, se no preço final ofertado ao consumidor entram PIS/COFINS, ICMS e IPI.
Entre outros motivos para classificar o pet food como essencial é o fato de que esses produtos para nutrição animal seguem normas rígidas de qualidade, capazes de atender aos dois mercados: nacional e internacional. “Os animais de estimação precisam de nutrição adequada, mas fabricada da maneira mais sustentável possível. E isso requer um custo alto. Se o pet é um membro da família, tudo que diz respeito a ele se torna essencial”, acredita.
A disparidade do Brasil para outros países como Alemanha, Estados Unidos, China e Itália é impressionante. A carga tributária aplicada ao preço final nesses territórios é de 7%, 6,6% 17% e 22% respectivamente. “De um lado, os animais ganham espaço como companhia pelos benefícios que provocam para a saúde física e mental de seus tutores. De outro, há o mercado resistindo bravamente a uma série de desafios pelo caminho”, diz.
Atualmente, o Brasil e mais de 38 países em quatro continentes recebem os produtos da Nutrire. Outros cinco estão em fase de registro, como é o caso da Índia, Indonésia, Palestina, Argélia e Marrocos. “A meta é chegar aos 50 territórios até 2025”, conta Simonaggio. O último grande contrato fechado foi com a Tunísia, localizada no norte da África. O estimado de volume para o primeiro ano é de 52 toneladas.