“Eu vejo o futuro repetir o passado Eu vejo um museu de grandes novidades O tempo não para.” Cazuza
O tempo não para e traz de volta alguns movimentos. A novidade, muitas vezes, é o antigo em uma nova roupagem para responder a desafios contemporâneos. Tenho pensado nisso a cada tendência que surge no mercado livreiro. Vejo que o volume de venda de livros tem caído, desde 2015, cerca de 3% ao ano no Brasil. Grandes redes enfrentam sérios desafios para honrar pagamentos às editoras; a Fnac, por exemplo, desistiu e saiu do Brasil ao vender a operação para a Livraria Cultura. Com a concorrência trazida pela Amazon, que atraiu mais e mais leitores para as compras online, a crise se agravou. Em verdadeiro efeito dominó, o impacto atingiu as editoras. Eis que, nesse cenário adverso, uma tendência se mostra promissora para o fomento de uma nova geração de leitores. É, ao mesmo tempo, uma forma retrô de encarar o negócio do livro.
Parece um contrassenso? Nada disso! Em conversa com Bruno Mendes, fundador do Coisa de Livreiro, falamos sobre a tendência de lidar com o livro como um produto individualizado. Explicando melhor… as pequenas livrarias de bairro estão se fortalecendo, em especial, as que apostam em um acervo segmentado – arte e literatura latino-americana, por exemplo. Há, por traz desse modo de gerir o negócio, a inteligência da curadoria. Além de empreendedor, esse livreiro é um curador de olhar apurado. Enquanto as grandes redes investem na ciência de dados para conhecer o cliente, tornando o ato da compra uma batalha de algoritmos, a pequena livraria tem um olhar mais humano para esse consumidor. Não estamos falando de nicho, mas de algo que vai além; é uma velha forma de imprimir um atendimento personalizado e profundamente pessoal.
Nos Estados Unidos essa tendência está se consolidando; lá, as pequenas livrarias crescem 15% em volume ao ano. Essa é uma boa notícia, embora não seja um crescimento de faturamento. Há um investimento em inteligência do negócio ao investir na experiência da compra a partir do profundo entendimento de quem é o público-alvo.
O mesmo tem ocorrido com as editoras. Da força emotiva e do gosto pessoal do editor – que moveu a criação das primeiras editoras no país – temos, hoje, o leitor como centro da decisão. Antes de pensar nos títulos, procura-se saber quem é o leitor dessa determinada editora; o que esse leitor espera dela. Essa é uma bela mudança! Há alguns anos, os gestores de editoras associavam o cliente à grandes livrarias; hoje, o cliente é o leitor. Isso muda tudo! Abraça-se a ideia da criação de uma comunidade de leitores.
A Primavera Editorial tem seguido nessa direção. Não por opção mercadológica, mas por vocação. Acredito fortemente no poder da informação para empoderar as mulheres; na disseminação de conhecimento inspirador. É nesse contexto que se insere a nossa missão de fortalecimento da emancipação social da mulher por meio da leitura. Acredito que a leitura gera conhecimento, provoca reflexões e modifica a posição intelectual, profissional e social. E fazer esse movimento apostando no ser local, pensando global é um sonho realizado! Brindo ao sucesso das pequenas editoras e livrarias. Ao ressurgimento de uma velha cultura livreira.
Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial