*Por Marcus Fireman
Considerado um dos setores mais estratégicos para o crescimento do Brasil, o setor de energia tem apresentado um volume significativo de obras nos últimos anos, as quais se concentram na ascensão das energias renováveis, bem como em obras de ampliação da capacidade de distribuição.
Neste aspecto, segundo a Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), o mercado de energia solar trouxe mais de R $125,3 bilhões em investimentos ao Brasil desde 2012. Além disso, o setor gerou 750,2 mil postos de trabalho. Para 2023, a expectativa é de que a soma chegue a 1 milhão de postos de trabalho, de acordo com o presidente da entidade, Rodrigo Sauaia.
No contexto atual, os projetos têm sido desenvolvidos com prazos cada vez mais desafiadores. Soma-se a este quesito outro fator importante, pesquisa recente realizada pela Climb Consulting Group apontou que o segmento de Energia é um dos que têm menor agregação de valor ou, em outras palavras, tem apresentado mais desperdícios no campo. Isso se deve, muitas vezes, às dificuldades de planejamento logístico e, sobretudo, aos entraves relacionados à gestão das equipes em obras que se caracterizam por longas distâncias.
Para conseguir atender as metas dos projetos, empresas que atuam neste segmento estão buscando trazer as melhores práticas em termos de gestão, bem como a implantação de novas tecnologias para mitigar riscos e alcançar ganhos de produtividade.
Oriundo da indústria automobilística, o Lean passou a ser incorporado como alavanca para refinar o modelo de gestão de produção das obras, atribuindo rotinas de antecipação para garantir a liberação dos pré-requisitos necessários para um serviço ser realizado assim como o aperfeiçoamento de rotinas operacionais, as quais têm o foco em garantir ganhos de produtividade diário.
Ao se iniciar um processo de implantação do Lean, diversos membros da empresa são convidados a mergulhar em novos conceitos e a refletir diariamente sobre desperdícios do dia a dia. Com problemas e gargalos mapeados, eventos de Kaizen são conduzidos com a equipe para desenvolver melhorias e alcançar, assim, ganhos de produtividade.
Normalmente, após a implantação do Lean, as empresas têm voltado seu foco para digitalização do canteiro de obras. No atual cenário é possível identificar três vetores que conduzem as empresas na digitalização com a finalidade de otimizar a gestão da informação e apoiar a automatização de processos.
- BIM e pela modelagem da informação – Em obras de energia, o uso do BIM pode favorecer clientes que buscam integrar informações de diversos stakeholders em uma única plataforma. Com ele, é possível prever problemas de compatibilização de projetos, acelerar processos de orçamentação, bem como monitorar status de fabricação de itens pré-engenheirados. Neste mesmo vetor, é possível identificar duas outras funcionalidades. Para começar, a aplicação de planejamento 4D para análise de layout e simulação logística tem crescido em obras de energia solar, onde o desafio diário de movimentar e montar peças e placas têm sido minimizados com a capacidade de antecipar cenários com o uso aplicado do BIM. A segunda funcionalidade é o uso de plataformas de realidade aumentada que utilizam o modelo 3D e trazem uma experiência imersiva para equipes de campo, principalmente em espaços mais densos de quantidade de serviços, como é o caso das subestações.
- Aplicação de Drones – Esses dispositivos têm se tornado cada vez mais populares, seja para utilização durante o lançamento de cabos em linhas de transmissão que cortam grandes áreas de mata nativa, bem como para a aplicação integrada à IA (Inteligência Artificial) a fim de mapear áreas de riscos de acidente, bem como acompanhar o progresso das atividades.
- Automatização de coleta de dados – Ferramentas que simplificam processos de coleta e análise de dados. Como plataformas de gestão da qualidade, plataformas de gestão de equipamentos e plataforma de controle de produtividade. Em qualquer um destes três tipos de plataformas, o foco é reduzir o tempo despendido coletando informações no tradicional papel e prancheta, bem como reduzir a necessidade de gerar gráficos de análise. Seja com input humano ou por telemetria, este vetor tem se consolidado em obras de eólica, solar e linhas de transmissão onde a distância do ponto de coleta e o canteiro é muito alta, gastando mais energia para ter dados atualizados.
Fora do Brasil, algumas iniciativas também merecem destaque, como plataformas que conectam proprietários de jazidas e áreas de bota-fora com empresas que necessitam das mesmas para execução da fase de terraplanagem e pavimentação. Outro destaque vai para o uso de robôs como alternativas aos drones, onde estes caminham por obras com foco em monitorar o status dos serviços.
Cada vez mais, as inovações tecnológicas têm contribuído para a revolução de diversos setores, e com o mercado de energia não é diferente. Como vimos, a transformação digital é essencial para o setor de energias renováveis. Nesse panorama, é necessário escolher: a sua empresa vai abraçar as novas possibilidades e continuar crescendo no mercado nacional, ou irá se apegar ao passado?
*Marcus Fireman é Engenheiro Civil graduado pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas); Mestre em Gestão da Construção com ênfase em Lean pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); Doutorado em andamento em Gestão da Construção com ênfase em Lean Construction pela UFRGS. Co-fundador da empresa Climb Consulting, foi um dos idealizadores do Fórum de Inovação da Construção; Palestrante em congressos e workshops nacionais sobre a aplicação do Lean Construction.