Nossa pele parece ser o espelho externo da nossa saúde intestinal – e muitas doenças inflamatórias da pele podem ter relação com um desequilíbrio na microbiota intestinal, um conjunto de microrganismos benéficos com diversas funções

osso corpo está todo conectado, e isso começa a ficar ainda mais claro à medida que envelhecemos. O sono ruim resulta em pele sem brilho, a ansiedade resulta em um sistema imunológico mais baixo e é tudo cíclico. Algo aqui tem consequência ali. Embora você possa pensar que está fazendo o suficiente pela sua pele ao abastecê-la com produtos de limpeza e soros, isso geralmente pode não ser o suficiente. “Nossa saúde física e mental têm um forte impacto em nossa pele. Por exemplo, quando seu intestino está desequilibrado, muitas outras funções corporais seguem o exemplo. Nossa saúde intestinal afeta a saúde da nossa pele e melhorar seu microbioma intestinal é um caminho para uma pele melhor e mais saudável”, explica o dermatologista Dr. Daniel Cassiano, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Segundo o médico, o funcionamento do microbioma intestinal está intrinsecamente ligado à saúde da pele e é um dos principais reguladores do eixo intestino-pele. “O intestino desempenha um papel fundamental na regulação da renovação das células epiteliais, no reparo da exposição à luz UV, na hidratação da pele, no controle da velocidade de cicatrização de feridas e na influência do microbioma da pele”, diz o médico. Nesse sentido, é até seguro dizer que “nossa pele é o espelho externo do nosso intestino”. “Em termos mais simples, o intestino e a pele estão em ‘comunicação constante’”, diz o dermatologista.

Um intestino não saudável pode afetar negativamente uma variedade de funções, mas a mais visível é a pele. “Pode trazer inflamação e exacerbar condições como eczema e rosácea. Doenças de pele como dermatite atópica, psoríase e, em alguns casos, câncer de pele também podem se desenvolver ou piorar. Além disso, a acne e caspa podem surgir devido a um bioma intestinal insalubre”, diz o médico.

Se você tem alguma dessas condições, pode estar se perguntando exatamente como seu intestino desempenha essa influência. A má saúde intestinal influencia a produção de citocinas pró-inflamatórias e células que suprimem o sistema imunológico. “Essas citocinas são como mensageiros de inflamação, que aumentam a permeabilidade das células de barreira da nossa pele, criando inflamação sistêmica crônica que pode ser expressa como acne, dermatite, eczema e psoríase”, destaca o Dr. Daniel.

O microbioma intestinal também desempenha um papel essencial na absorção de nutrientes. “Se a absorção de nutrientes for prejudicada no nível intestinal, o reparo e a renovação de nossas células da pele sofrerão, pois não serão fornecidos aminoácidos, ácidos graxos, vitaminas e minerais suficientes para a produção de colágeno, desintoxicação e proteção do fosfolipídio. Essa má absorção não só pode levar a problemas de pele, mas também pode afetar a energia, vitalidade, função imunológica, cabelos e unhas”, explica o dermatologista.

Acne, eczema e psoríase especificamente podem estar ligados a um desequilíbrio nas bactérias intestinais, inflamação intestinal ou intestino permeável. “Quando as bactérias no microbioma intestinal ficam desequilibradas, isso causa inflamação, o que leva a danos no revestimento intestinal, também conhecido como intestino permeável. Um desequilíbrio bacteriano no intestino ou ‘disbiose intestinal’ é muito comum hoje em dia. Estresse, alimentos processados, alto consumo de açúcar, álcool e uso excessivo de antibióticos são fatores comuns que diminuem nossas boas bactérias intestinais e contribuem para a disbiose intestinal”, comenta o médico.

Se você sofre de condições relacionadas ao intestino, como doença celíaca ou síndrome do intestino irritável (SII), já experimenta alguns sintomas frustrantes. Infelizmente, essas condições também podem ser responsáveis por certos problemas de pele. “Essas condições são de natureza inflamatória e, quando as citocinas inflamatórias aumentam no nível intestinal, também vemos que isso tem um efeito negativo nas condições inflamatórias da pele. Além disso, essas condições afetam a absorção de nutrientes, o que pode resultar em pele fina, seca e sem brilho”, conta o médico.

Vários estudos ligam a doença inflamatória intestinal (DII) e doenças inflamatórias da pele. “Isso ocorre principalmente porque a DII é uma condição autoimune que desencadeia processos inflamatórios no corpo. Muitas vezes, os indivíduos afetados pela DII também apresentam inflamação em outros sistemas orgânicos, incluindo a pele”, diz o Dr. Daniel. Estudos também descobriram que pessoas com SII são mais propensas a apresentar dermatite atópica ou rosácea. Enquanto isso, as pessoas com doença celíaca geralmente sofrem de eczema, psoríase, acne, pele seca, urticária ou alopecia.

As escolhas de dieta e estilo de vida têm um enorme impacto no intestino, e controlar o estresse é essencial. “O estresse mata nossas boas bactérias intestinais. Incorpore práticas de gerenciamento de estresse como ioga, meditação e respiração em sua rotina diária. O que você não come é tão importante para um intestino saudável quanto o que você come. Certos alimentos e bebidas são conhecidos por causar inflamação no intestino, incluindo carboidratos simples, de alto índice glicêmico, doces, ultraprocessados, soja, adoçantes artificiais e álcool, então você deve limitar a ingestão”, explica o médico. “Dietas ricas em açúcar e carboidratos refinados podem contribuir para o crescimento de bactérias e leveduras não saudáveis, que podem contribuir para acne, erupções cutâneas e infecções fúngicas da pele. Alimentos altamente processados e gorduras não saudáveis podem aumentar a permeabilidade intestinal do revestimento intestinal, o que, por sua vez, pode retardar a renovação das células da pele e aumentar a inflamação sistêmica crônica”, afirma o médico.

Existem aminoácidos selecionados que demonstraram melhorar a saúde do revestimento intestinal e, portanto, o microbioma intestinal. Esses aminoácidos, incluindo arginina, glicina, glutamato de cisteína e glutamina, podem ser encontrados em suplementos de proteínas e em uma dieta equilibrada. “Como um benefício adicional, esses aminoácidos também melhoram a proteção e a produção de colágeno da pele, portanto, cumprem um dever duplo para a saúde da pele”, diz o médico, que sugere incluir mais frutas e vegetais ricos em fibras, grãos integrais, legumes e alimentos fermentados em sua dieta. “Quando se trata de mudanças gerais no estilo de vida, pense em exercícios habituais, parar de fumar, reduzir a exposição ao estresse e evitar tomar antibióticos desnecessariamente. Caso necessário, procure um médico dermatologista e um nutrólogo para adequar a dieta e tratar as alterações da pele”, finaliza.

FONTE:

*DR. DANIEL CASSIANO: Dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. Cofundador da clínica GRU Saúde, o Dr. Daniel Cassiano é formado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Doutor em medicina translacional também pela UNIFESP. Professor de Dermatologia do curso de medicina da Universidade São Camilo, o Dr. Daniel possui amplo conhecimento científico, atuando nas áreas de dermatologia clínica, cirúrgica e cosmiátrica. Instagram: @clinicagrusaude

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