Historicamente, no Brasil, muito se falou em imóvel como uma ferramenta de geração de renda “segura”. Vimos, ao longo das últimas décadas, inúmeros idosos dependentes de aluguéis mensais para sustento próprio, e muitas famílias acumulando, por gerações, um “patrimônio imobiliário”.

Quando olhamos para o mercado imobiliário residencial brasileiro sob uma ótica de renda, fica claro que seu desenvolvimento se deu de maneira bastante fragmentada (poucos imóveis nas mãos de muitas pessoas) e, ao mesmo tempo, pouco profissionalizada (proprietário, pessoa física com pouco conhecimento de mercado, trabalhando individualmente e pontualmente a locação de seu imóvel).

Ao longo dos últimos anos, viemos enxergando transformações estruturais que tornam latente a necessidade de mudança na forma como o segmento de renda residencial é trabalhado. Trazemos um pilar fundamental da nossa tese aqui nomeado de mudança cultural.

Para destrincharmos este conceito, comecemos falando sobre a alteração no comportamento de moradia das pessoas. A forma como as famílias se constituem mudou drasticamente nos últimos anos: a grande maioria destas se formam e se “desformam” com muito mais facilidade em comparação a uma/duas décadas; além disso, quando observamos as rotinas profissionais, enxergamos uma flexibilidade cada vez maior em termos de local e agenda de trabalho. Pontos como estes geram uma ampla facilidade de trânsito para uma parcela relevante dos cidadãos de uma metrópole.

Isto, aliado à facilidade de se alugar um apartamento atualmente (grande mérito de plataformas digitais que vieram para desburocratizar o mercado de locação), “desprende o indivíduo do tijolo”. Hoje, seguramente podemos afirmar que, para muitas pessoas, não comprar um apartamento é opção, fator este quase inimaginável há duas ou até mesmo uma década, em um país onde a cultura da casa própria sempre reinou, onde o aluguel sempre foi relegado a alguém que teoricamente nunca teve dinheiro para comprar um imóvel próprio.

Importante pontuar que, em determinado momento, muitas pessoas terão sim o desejo de adquirir seu próprio imóvel, mas, antes disso, entendemos que elas desejam passar por diferentes experiências de moradia, e é justamente esta experiência que o mercado deve oferecer.

Buscando “abraçar” este novo modelo de se viver, acreditamos em um mercado de renda residencial ocupado por players profissionalizados e integrados, que enxerguem o mercado de ponta a ponta.

Invariavelmente, imóveis destinados à locação devem ser pensados e integralmente desenhados, desde sua concepção, para o inquilino. Este perfil de atuação, aliado a uma maior concentração de ativos nas mãos de operadores únicos, abre espaço para entregas de maior qualidade e de ativos perenes (exemplos como controle de custo de condomínio, manutenções e revitalizações de áreas comuns são alguns dos pontos que ressaltam a efetividade do modelo).

Quando se tem a facilidade de alugar e boas opções de imóveis, um mercado é criado.

Na medida em que este círculo virtuoso ganha tração, gera-se cada vez mais valor para Locador e Locatário. De um lado, o primeiro “surfa” uma rentabilidade do seu ativo mais “saudável”, enquanto o segundo vive cada vez melhor, com mais conforto, conveniência e, acima de tudo, com suas necessidades e desejos de vida (e não só de moradia) integralmente saciados.

O Locador deve enxergar o Locatário como qualquer companhia deveria enxergar seu cliente: quanto mais profundo é o meu entendimento sobre a necessidade da outra parte e quanto mais valor eu gero para ela, melhores são meus frutos financeiros.

Em um mercado com um ciclo de produto tão longo e com influências tão severas na vida das pessoas como o imobiliário, as dores só serão resolvidas através de figuras atuantes que enxerguem o mercado uniformemente, de ponta a ponta, e que tragam compromissos claros a longo prazo com seus clientes.

Daí nasce um mercado gigante, problemático e impactante.

Artigo: Henrique Haddad é gestor da NEWPROPERTIES, hub de inovação e transformação do mercado imobiliário, mediante o planejamento, criação e desenvolvimento , edificação e gestão de empreendimentos de valor nas melhores regiões.

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