Estudo publicado em agosto na revista Nature explicou o motivo pelo qual algumas pessoas possuem maior tendência a consumirem alimentos ricos em gorduras e carboidratos de má qualidade, o que aumenta o risco de doenças como obesidade e diabetes
Pessoas que sofrem com doenças metabólicas, como obesidade e diabetes, são constantemente estigmatizadas e apontadas por fazerem escolhas alimentares ruins e prejudiciais à saúde. Porém, o que poucos sabem é que a ingestão de certos alimentos não está relacionada apenas a uma escolha individual, com fatores sociais, econômicos, religiosos e até mesmo genéticos influenciando o que, quanto, por que e quando comemos. “Uma série de sinais do organismo influenciam a maneira como o cérebro afeta o comportamento alimentar, podendo, por exemplo, causar mudanças no apetite e no gasto de energia em resposta à presença de nutrientes e hormônios metabólicos importantes no sangue. Consequentemente, variações genéticas nesses sinais podem levar a casos de fome persistente, compulsividade alimentar e, consequentemente, ao surgimento de doenças como obesidade e diabetes”, explica o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene. Com o objetivo de aprofundar esse conhecimento, um time de pesquisadores desenvolveu o maior estudo até então para examinar fatores genéticos relacionados ao comportamento alimentar, que foi publicado em agosto na revista Nature.
No estudo, os pesquisadores conduziram uma análise genética e examinaram o consumo alimentar de 282.271 participantes. Com isso, foi possível identificar 26 regiões genéticas expressas no cérebro que são estimuladas pelo consumo de comidas ricas em gordura, proteína e carboidratos de má qualidade. E, por causa disso, os pesquisadores observaram que o cérebro pode afetar as escolhas alimentares para favorecer a ativação dessas regiões, o que pode explicar o motivo pelo qual algumas pessoas possuem maior tendência a preferirem alimentos ricos nessas substâncias. “A descoberta dessas variantes genéticas nos ajuda a entender melhor a razão pela qual a ingestão de alimentos difere entre indivíduos, possibilitando assim a criação de novas estratégias para prevenir a obesidade e outras doenças metabólicas”, diz o Dr. Marcelo. “O estudo também contribui para a identificação de pessoas com maior probabilidade de seguir recomendações dietéticas específicas. Por exemplo, é possível usar a informação de que um paciente tem maior suscetibilidade genética a preferir alimentos gordurosos para ajudar essa pessoa a escolher alimentos com uma maior quantidade de gorduras saudáveis”, completa.
De acordo com o geneticista, esse tipo de abordagem será especialmente importante para pessoas que já possuem uma predisposição genética à obesidade. “Estima-se, por exemplo, que de 40 a 70% da variação na suscetibilidade à obesidade e ganho de peso seja determinada pelos genes, o que explica o motivo de diferentes pessoas ganharam peso de forma distinta mesmo seguindo uma dieta igual e praticando a mesma quantidade de exercícios físicos”, explica. O mesmo vale para pacientes mais suscetíveis a diabetes. “A sinalização de insulina também é influenciada pelas variantes genéticas, exercendo assim papel chave no desenvolvimento de resistência insulínica, que é um dos principais fatores de risco da diabetes mellitus tipo 2.”
Mas vale lembrar que todas essas predisposições genéticas não são completamente determinantes. “Todos nós somos resultados da interação dos nossos genes com fatores ambientais. O nosso estilo de vida, nossa alimentação, nível de atividade física e nível de estresse modulam a nossa suscetibilidade genética”, afirma o Dr. Marcelo. E é justamente por esses motivos que os testes genéticos se mostram cada vez mais importantes, pois podem, a partir de análises específicas, identificar características individuais, tendências no comportamento alimentar e predisposição para o desenvolvimento de doenças metabólicas. “Esses exames trazem informações detalhadas sobre o seu DNA e genes que podem ser interpretadas pelo médico para que as recomendações de dieta, nutrição e prática de atividade física sejam específicas para as necessidades e características de seu organismo, auxiliando assim na otimização do hábito alimentar, no controle do peso e na prevenção de doenças. A partir do momento em que entendemos as alterações genéticas que possuímos, podemos realizar mudanças pontuais em nossos hábitos para balancear a ação dos genes e garantirmos a manutenção de nossa saúde”, finaliza o Dr. Marcelo Sady.
FONTE: DR. MARCELO SADY – Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.
ESTUDO: https://www.nature.com/articles/s41562-021-01182-wes