Carolina Flak*
“Doutora, estou decidida (o) a emagrecer! Por isso, quero uma dieta bem restritiva, sem leite e trigo para perder peso mais rápido”. Essa frase é dita por muitos pacientes nos consultórios de nutricionistas e outros profissionais da área. Ou, o que é bem pior, o paciente nem chega a procurar um especialista e faz alguma dieta que achou na internet. Com o objetivo de evoluir rapidamente no processo de emagrecimento, algumas pessoas estão decididas a fazer regimes restritivos e que muitas vezes estão “na moda”. Há dietas que cortam glúten, lactose, carboidrato, proteína e gordura. “Regime da sopa”, jejum intermitente e low carb e cetogênica são algumas das mais famosas. São tantos modismos, que vêm e que vão, que os pacientes acabam perdidos nesse mar de informações e se questionam: vale mesmo a pena tirar o glúten oriundo dos cereais como trigo, centeio e cevada e os derivados de leite da alimentação?
O consumo de glúten, por exemplo, tem sido vilanizado nas redes sociais. Alguns vêm adotando regimes gluten-free sem buscar ajuda de um profissional da nutrição. Porém, eliminar o glúten da rotina, assim como a lactose, não faz com que o indivíduo perca peso. O glúten é um composto rico em proteínas e uma boa fonte de energia. A indicação de não inserir esse alimento é comumente dada a pessoas celíacas, ou seja, que possuem uma reação do sistema imunológico à proteína encontrada no trigo, no centeio e na cevada. Mas a restrição dessa proteína não é recomendada para quem não possui a doença – e menos ainda para quem quer perder peso.
O estudo “Dieta sem glúten: conselho dietético imprudente para a população em geral?”, publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, analisou um levantamento feito com 369 adultos com doença celíaca, que seguiram uma dieta sem glúten pelo tempo de 2,8 anos. Inicialmente, 22 dos 81 pacientes com sobrepeso ou obesos, ganharam peso durante o período. Outra pesquisa com 371 adultos celíacos, que fizeram o regime sem glúten por 2 anos, mostrou que 55 dos 67 pacientes com sobrepeso ganharam gordura corporal durante o experimento. O motivo do aumento do peso pode estar associado ao crescimento da absorção de nutrientes relacionados à cicatrização do revestimento intestinal durante o regime sem a ingestão do glúten.
Quando consumido de forma equilibrada, o glúten auxilia, quando chega ao intestino delgado, na renovação das bactérias que ajudam na digestão alimentar. Além disso, regimes muito restritivos podem fazer com que o paciente tenha fraqueza, dores de cabeça, queda de cabelo e unhas fracas. Isso se dá pela falta de nutrientes que o corpo necessita.
Outra desinformação propagada nas redes sociais é sobre o consumo da lactose, carboidrato presente no leite e derivados. O leite é fonte de cálcio, fundamental para o crescimento e fortalecimento dos ossos, e também de outros nutrientes essenciais. A falta desse alimento, tanto em crianças quanto em adultos, pode acarretar fragilidades nos ossos e, consequentemente, osteoporose, sendo contra-indicado o consumo apenas para aqueles intolerantes à lactose.
E mais: caso o indivíduo não apresente nenhum problema de intolerância, a exclusão do leite pode aumentar o risco de uma possível intolerância à lactose no futuro. Mas por quê? Por conta da restrição, sem indicação médica, a produção enzimática é prejudicada pelo não estímulo da presença de lactase no bolo alimentar. Com isso, a pessoa passa a ter mais sensibilidade a esse nutriente.
Ademais, não há evidências que a restrição do leite pode ajudar no emagrecimento. Mas o que a ciência já sabe é que uma dieta balanceada, quando há o consumo de alimentos ricos em nutrientes, como o leite e o glúten, pode sim ajudar no processo de emagrecimento – desde que consumido na quantidade certa e associado a outras práticas saudáveis. No caso dos laticínios, eles contêm vitaminas e minerais que ajudam a ter uma alimentação saudável, além de ser fonte de nutrientes, como as vitaminas A, B12 e D, cálcio, carboidrato e zinco. Por sua vez, o glúten também é uma ótima fonte de energia para o organismo.
Como conclusão, podemos reiterar que a busca excessiva pelo corpo “perfeito” faz com que muitos pacientes encontrem na internet dietas que, muitas vezes, não são indicadas para sua saúde. Desse modo, o papel do nutricionista é auxiliar no planejamento customizado das refeições e em uma alimentação saudável e equilibrada.
Por vezes, quando os pacientes chegam aos consultórios, estão tão ansiosos por dietas para emagrecer rapidamente que esquecem que perder peso com saúde é ainda mais importante do que se sentir bem com o próprio corpo. Depois, “não adianta chorar sobre o leite derramado”.
Carolina Flak, nutricionista consultora da Unium*
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