Neste Agosto Dourado, pediatra explica que a amamentação só será interrompida em casos específicos. Aleitamento materno é sempre prioridade
“O questionamento que mais recebo atualmente no consultório é se quando a mãe está com suspeita ou foi diagnosticada com Covid-19, ela pode amamentar”, conta a pediatra Stephânia Laudares (CRM 18708). A dúvida comum em seu consultório vai ao encontro da discussão proposta pelo Agosto Dourado, mês em que intensificam as campanhas para o aleitamento materno. E a resposta da médica é sempre “sim”. A mãe pode amamentar até o momento que se sentir confortável, mas é preciso tomar cuidados com a manipulação do bebê, higienização das mãos e seios além, de claro, uso de máscara.
A especialista, que atende no Espaço Médico Ana Márcia Guimarães, no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, orienta também uma consulta ao pediatra que poderá levantar as opções, como por exemplo a ordenha do leite materno. “A mãe deve lavar bem as mãos antes de qualquer procedimento com o bebê, usar a máscara em todo momento com o filho e, sempre que possível, ficar com o distanciamento de dois metros”, detalha. De acordo com ela, “estudos já foram feitos e concluíram que não há transmissão do coronavírus pelo leite materno. Assim, a amamentação deve ser estimulada sempre”.
O tema divide muitas opiniões, principalmente entre os leigos. Recentemente, Pamella Holanda, entrevistada no programa Encontro com Fátima, disse que uma das vezes em que foi agredida pelo marido, o músico DJ Ivis, foi porque ela estava com Covid-19 e ele não queria que ela amamentasse a bebê de menos de um mês. “Todos os médicos me aconselhavam a amamentar. Ele não queria”, contou na época.
Em progresso
Menos da metade das crianças brasileiras menores de seis meses de vida (45,7%) foram amamentadas exclusivamente com leite materno. Os dados são do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), realizado pelo Ministério da Saúde, entre fevereiro de 2019 e março de 2020.Apesar do baixo índice, o Brasil registrou aumento no número de crianças de até seis meses que receberam amamentação exclusiva, já que, em 2006, esse percentual era de 37%. Após avaliação de 14.505 crianças, foi constatado que mais da metade (53%) delas continua sendo amamentada no primeiro ano. Já entre os bebês menores de quatro meses a amamentação é de 60%.
Segundo a pesquisa, na comparação com os últimos 34 anos, houve aumento de quase 13 vezes no índice de amamentação exclusiva em crianças menores de quatro meses e de cerca de 16 vezes entre crianças menores de seis meses. O levantamento é percebido na prática. “A taxa de desmame precoce era maior antes, mas vem melhorando. Em Goiânia vejo muito a retomada da conscientização do aleitamento materno e pedido de orientação das mães sobre como amamentar por mais tempo, já que a recomendação da Organização Mundial de Saúde, que é nos primeiros meses a alimentação seja exclusiva com o leite materno e até dois anos ela seja acompanhada da introdução de outros alimentos”, diz a pediatra.
Situação inversa
Com as novas cepas, o coronavírus tem infectado mais pessoas jovens, inclusive crianças de diversas idades e bebês. Stephânia Laudares explica que se a situação for inversa e a criança se contaminar, a amamentação também não pode parar. “Elas devem ser amamentadas e os cuidados com uma criança com Covid-19 são os mesmos de outras infecções por vírus. É preciso verificar a febre e, se for o caso, fazer uso de antitérmico, manter a hidratação e realizar lavagem nasal abundante com soro fisiológico, além do acompanhamento com pediatra”, salienta a pediatra.
Outro ponto que reforça a importância da amamentação é a possibilidade de transmissão de anticorpos das mães vacinadas para os filhos. Uma pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo com lactantes que tomaram a Coronavac indicou a presença de anticorpos para Covid-19 no leite materno até quatro meses depois da vacinação. Já nos Estados Unidos, estudo com gestantes e lactantes que receberam as duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech ou da Moderna apontou a presença de anticorpos no sangue do cordão umbilical e no leite materno das participantes.
“Existem várias pesquisas apontando que as mães que tomaram determinadas vacinas transmitem anticorpos contra o coronavírus para os bebês, bem como alguns estudos com mães que tiveram a Covid-19 e também passaram os anticorpos aos filhos. Sendo assim, a amamentação deve ser mantida sempre, ela só será suspensa se a mãe ou a criança que estiver infectada não possuir condições clínicas para realizar o aleitamento materno”, destaca a pediatra do Órion Complex, Stephânia Laudares.
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