Pesquisa publicada em março no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism apontou que esteroides podem prejudicar o funcionamento adequado dos testículos, mesmo após anos da interrupção de seu uso, comprometendo a qualidade dos espermatozoides e, consequentemente, a fertilidade

Polêmicos, os esteroides são comumente utilizados por pessoas que praticam musculação devido aos seus efeitos milagrosos para o corpo, já que aumentam a concentração de proteína nas células, consequentemente auxiliando no rápido crescimento da massa muscular. O problema é que estas substâncias possuem uma grande quantidade de efeitos colaterais, favorecendo, por exemplo, o surgimento de espinhas e o agravamento do quadro acneico, o aumento da pressão sanguínea e do risco de ataques cardíacos, a queda de cabelo e o crescimento das mamas. E não para por aí, já que, de acordo com um estudo publicado em março no Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, os esteroides anabolizantes podem prejudicar o funcionamento adequado dos testículos mesmo após anos da interrupção de seu uso. “Já sabíamos que o uso indiscriminado de anabolizantes pode afetar a fertilidade de forma total ou parcial em homens, já que o aumento dos níveis de testosterona provocado por esse tipo de medicamento inibe a produção do hormônio responsável pela maturação das células reprodutivas. No entanto, não era claro se os esteroides poderiam comprometer de forma permanente a produção de testosterona nos testículos, causando assim uma disfunção testicular, o que foi comprovado pelo presente estudo”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores acompanharam 132 homens praticantes de musculação entre 18 e 50 anos, que foram divididos em 3 grupos: aqueles que nunca usaram esteroides, aqueles que utilizavam os anabolizantes no momento do estudo e, por fim, aqueles que pararam de usar medicamentos do tipo pelo menos três anos antes do início da pesquisa. Para determinar a falta de função testicular, visto que os níveis de testosterona tendem a variar naturalmente ao longo do dia, os pesquisadores utilizaram como marcador o peptídeo 3 semelhante a insulina (INSL3), que é produzido pelas mesmas células produtoras da testosterona. Ao compararem os resultados da análise desses marcadores nos três grupos, os pesquisadores notaram que, em comparação com os participantes que nunca utilizaram esteroides, os outros dois grupos tinham concentrações muito mais baixas de INSL3. E, quanto maior o tempo de uso dos anabolizantes, menores eram os níveis desse peptídeo. Além disso, foi possível observar que até ex-usuários de esteroides anabolizantes ainda apresentavam disfunção testicular mesmo após mais de dois anos e meio da interrupção do uso. “A partir do estudo, é possível concluir então que o uso de anabolizantes, a longo prazo, pode suprimir a função testicular, que pode nunca se recuperar completamente, com consequente impacto na qualidade e contagem de espermatozoides e na fertilidade”, diz o Dr Rodrigo.

Segundo o especialista, o estudo reafirma os riscos do uso indiscriminado de esteroides anabolizantes, que não devem ser utilizados sem a devida orientação médica. Homens que já utilizam essas substâncias, por sua vez, devem interromper o uso e, caso desejem ter filhos, consultar um médico especialista em reprodução humana para realizar exames de espermograma a fim de verificar a quantidade de espermatozoides e se houve alguma interferência na fertilidade. “Felizmente, para homens que já sofreram grande impactos na fertilidade, mas desejam ter um filho, é possível melhorar a qualidade e a contagem dos espermatozoides através da adoção de um estilo de vida saudável, mantendo uma alimentação balanceada, controlando o peso, praticando exercícios físicos regularmente e evitando maus hábitos como o tabagismo e a ingestão excessiva de álcool. Aumentar a frequência das relações sexuais, principalmente durante o período fértil da mulher, também é outra estratégia para que homens com baixa contagem de espermas consigam fecundar suas parceiras”, aconselha o médico.

No entanto, se mesmo com a adoção dessas estratégias o casal ainda não conseguir engravidar, é interessante verificar com o médico especialista em reprodução humana a possibilidade da realização de procedimentos de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro (FIV). “Nesse procedimento, o material genético colhido da mulher (óvulo) e do homem (espermatozoides) são fecundados em laboratório e posteriormente o embrião é transferido para o útero, onde se implantará e desenvolverá a gestação. Existe ainda uma técnica recente já muito utilizada na FIV conhecida como injeção intracitoplasmática de esperma (ICSI), que permite que o espermatozoide saudável seja escolhido microscopicamente para ser inserido diretamente dentro do óvulo com o auxílio de uma agulha de máxima precisão. Com a seleção de espermatozoides usando microscópio, é possível separar o material genético em condições para fertilização, revertendo problemas como alterações na quantidade ou qualidade dos espermatozoides”, destaca o Dr Rodrigo Rosa. “No entanto, a indicação do procedimento vai depender de uma série de fatores, incluindo idade e histórico de saúde do casal, cabendo então ao profissional especializado recomendar o procedimento mais adequado para cada caso”, finaliza.

FONTE: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

Estudo: https://academic.oup.com/jcem/advance-article-abstract/doi/10.1210/clinem/dgab129/6156950?redirectedFrom=fulltext

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