Como jamais visto, o Paraná enfrenta há meses uma séria crise hídrica, potencializada por um momento de pandemia, que não será tão simples de superar
A maioria dos reservatórios de abastecimento público, principalmente os da capital paranaense, estão muito abaixo do nível normal. Além disso, o momento de estiagem ainda pode se estender por, no mínimo, mais um mês.
Mas o que podemos fazer diante desse cenário?
Enquanto muitos preferem tratar somente as consequências da má gestão dos recursos hídricos, agindo apenas na redução de uso da água, principalmente por parte dos consumidores, é necessário o pleno entendimento para o tratamento adequado da causa de toda essa problemática. Como uma das possíveis soluções, as florestas apresentam-se como fundamentais neste processo.
São as florestas que regulam todo o ciclo da água, influenciando diretamente nos regimes regionais de chuva e, consequentemente, na disponibilidade desse recurso. Ainda, são elas que auxiliam na qualidade, pois evitam erosão e sedimentação de cursos d’água, além de regular todo o fluxo dentro de uma bacia hidrográfica, garantindo, dessa maneira, o reabastecimento de nascentes, rios, lagos e aquíferos.
Assim, a relação entre as florestas e a água é de interdependência. Interferências negativas realizadas em ambientes florestais, como os que enfrentamos recentemente, onde os índices de desmatamento e queimadas são recordes no Brasil, afetam diretamente no regime hídrico de uma região, potencializando a indisponibilidade de água.
A compreensão desse cenário de interdependência nos permite avaliar que a resposta mais simples de como superar uma crise hídrica e se preparar para um futuro próximo mais seguro neste sentido, é realizando investimentos em ações de conservação de remanescentes florestais nativos e restaurando ambientes estratégicos.
Hoje, para contribuir nesse tipo de intervenção, existem várias modelagens ambientais que são capazes de processar dados e auxiliar no desenvolvimento de gestão das bacias hidrográficas. Isso acontece, por exemplo, por meio da mensuração de quantidade de áreas naturais necessárias para a recarga hídrica de uma região, que embasam a definição de ambientes mais estratégicos para ações de preservação e restauração.
É necessário compreender, ainda, que se começarmos a restaurar uma área integralmente destruída hoje, ela levará um período de, no mínimo, cinco anos para começar a se reestabelecer como ecossistema, retornando seus processos e fluxos que permitam a volta da água.
Dessa maneira, mesmo que de forma lenta, a restauração ecológica, aliada à conservação de remanescentes florestais, é a maneira mais estratégica para salvar o sistema hídrico. Por isso, é preciso entender a urgência de se tratar com qualidade a causa de toda essa problemática, garantindo água de qualidade para o nosso futuro.
Natasha Choinski, Mestre em Gestão Ambiental e Analista de Processos Ambientais da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).