No entanto, aparecimento apenas dessas alterações cutâneas deve servir de alerta para começar um isolamento contato, inclusive dentro de casa. Mas ida ao hospital é necessária apenas com sintomas respiratórios
Médicos e pesquisadores da Academia Espanhola de Dermatologia e Doenças Venéreas identificaram em um recente estudo publicado no British Journal of Dermatology manifestações cutâneas como sintoma de infecção pelo Novo Coronavírus. “Já se tinha conhecimento sobre o que ficou conhecido como Covid Toes (dedos Covid), que se manifesta como lesões roxas nos pés e nas mãos quando o paciente está com Covid-19. Agora, os pesquisadores identificaram mais quatro alterações na pele”, afirma a dermatologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Além de erupções similares a geladuras nos pés e nas mãos (Covid Toes), os médicos relataram pacientes com erupções vesiculares, lesões urticariformes, erupções máculo-papulares e Livedo-reticularis (necrose por obstrução vascular). “Os pesquisadores observaram que o Covid Toes aparece em casos menos graves enquanto o livedo-reticularis geralmente está relacionado a pacientes que tiveram pneumonia, internações hospitalares e necessidade de atendimento em UTI”, aponta a Dra. Kédima. A dermatologista explica abaixo as características das alterações na pele:
Covid Toes – O sintoma costuma aparecer principalmente em jovens e adolescentes, segundo relato de caso publicado no European Journal of Pediatric Dermatology. “Essa população pode ser assintomática ou apresentar sintomas leves com mais frequência do que indivíduos mais velhos, embora haja relatos do problema também em pacientes mais idosos e mais casos precisem ser examinados para determinar qual população é afetada por essa condição”, acrescenta a médica. O problema também foi destacado no estudo Reply: Introducing special cutaneous “sign” tribute to healthcare workers managing new coronavirus disease (Covid −19), publicado em 18 de abril no periódico Clinics in Dermatology. De acordo com a médica, os estudos identificaram que essa vasculite geralmente começa com a aparição de coloração vermelha ou roxa na pele dos dedos, sendo que pode aparecer inchaços ou desenvolver ulcerações. “Esse roxo ou vermelho com inchaço pode aparecer nas pontas dos dedos e nas almofadas das mãos e dos pés, ou na parte superior dos dedos dos pés ou nas laterais dos pés”, afirma a médica. As pessoas com “dedos Covid” podem sentir a pele quente, ardente ou com coceira, além de sentirem dores ao tocar ou caminhar.
Erupções vesiculares – Os pesquisadores identificaram essa alteração como de gravidade intermediária, sendo que ela foi notada em 9% dos casos. “Erupções vesiculares são surtos de pequenas bolhas, algumas delas apresentadas no tronco. Eles também podem afetar os membros, podem estar cheios de sangue e tornar-se maiores ou mais espalhados. O estudo associou o aparecimento a pacientes de meia idade, em que a duração média dos sintomas é de 10,4 dias. Em 68% dos casos, uma manifestação comum foi o prurido (coceira)”.
Lesões urticariformes – Elas consistem em áreas de pele rosa ou branca, semelhantes a erupções cutâneas de urtiga, que geralmente causam coceira. “Distribuído principalmente no tronco ou espalhado pelo corpo. Alguns casos estavam nas palmas das mãos. Registradas em 19% dos casos, aparecem em pacientes com sintomas mais graves. A coceira é muito frequente, aparecendo em 92% dos casos”, afirma a Dra. Kédima Nassif.
Erupções máculo-papulares – Maculopápulas são pequenas, achatadas e elevadas protuberâncias vermelhas. “Em alguns casos, estes foram distribuídos ao redor dos folículos capilares, e também houve graus variados de descamação. Alguns foram descritos como semelhantes à pitiríase rósea, uma condição comum da pele. Manchas de sangue sob a pele também podem estar presentes, na forma de manchas ou pontos em áreas maiores. Essa tipo de manifestação está presente em 47% dos casos e está associado à maior gravidade da Covid-19 (mortalidade de 2% na amostra)”, afirma a médica. A manifestação geralmente aparecia ao mesmo tempo que o restante dos sintomas e o prurido foi muito comum, com prevalência em 57% dos casos.
Livedo-reticularis ou necrose por obstrução vascular – Presente em 6% dos casos, Livedo é uma condição em que a circulação nos vasos sanguíneos da pele é prejudicada. “Isso faz com que a pele tenha uma aparência vermelha ou azul manchada com um padrão retiforme (em forma de rede). Necrose refere-se à morte prematura do tecido da pele. Esses pacientes apresentaram diferentes graus de lesões sugerindo doença vascular oclusiva, onde ocorre um estreitamento ou bloqueio de artérias, limitando o fluxo sanguíneo para certas áreas do corpo (neste caso, o tronco ou as extremidades).” Essa alteração está associada a pacientes idosos com doença mais grave (10% de mortalidade). “No entanto, as manifestações do Covid-19 nesse grupo foram mais variáveis, incluindo livedo transitório, com alguns sofrendo Covid-19 que não exigiram hospitalização”, afirma a médica.
Outras descobertas do estudo
Os pesquisadores observaram que algumas das manifestações cutâneas associadas ao Covid-19 são comuns e podem ter muitas causas, particularmente maculopápulas e lesões de urticária. Como tal, eles podem não ser particularmente úteis como um auxiliar no diagnóstico. “Lesões livedoides e necróticas, por outro lado, são relativamente incomuns e aparecem principalmente em pacientes idosos e graves. No entanto, é difícil dizer se eles são causados diretamente pelo Covid-19 ou simplesmente indicam complicações. Por esses motivos, os médicos devem ser muito cautelosos ao tentar diagnosticar Covid-19 com base nos sintomas da pele; erupções cutâneas e outras lesões de pele são comuns e difíceis de diferenciar para médicos não dermatologistas”, diz a Dra. Kédima.
Quando devo consultar um profissional de saúde?
Se você estiver tendo qualquer alteração cutânea e não tiver uma condição crônica da pele pré-existente, ou notar a aparição dessa vasculite e acreditar que foi exposto recentemente ao coronavírus, consulte primeiramente o seu médico, por meio do telefone ou telemedicina. “Você deve entrar em contato com seu médico para obter mais orientações e manter distância social nesse meio tempo”, explica ela. “Mas se o paciente sentir falta de ar, febre e outros sintomas da Covid-19, é aconselhável que ele busque atendimento médico em postos de saúde”, finaliza a dermatologista.
DRA. KÉDIMA NASSIF: Dermatologista e Tricologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Associação Brasileira de Restauração Capilar. Graduada em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, possui Residência Médica em Dermatologia também pela UFMG; realizou complementação em Tricologia no Hospital do Servidor Público Municipal, transplante capilar pela FMABC e em Cosmiatria e Laser pela FMABC. Além disso, atuou como voluntária no ensino de Tricologia no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. www.kedimanassif.com.br