A ritalina é um medicamento da família das anfetaminas
Ela é prescrita para crianças, adolescente e adultos portadores de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) — um tipo de distúrbio neurobiológico causado por um mau funcionamento das estruturas neurais, que provoca impulsividade, inquietação e desatenção.
Ocorre que o consumo indevido e abusivo dessa droga pode causar uma dependência de ritalina. Ela é classificada pela Drug Enforcement Administration, como um narcótico e tem os mesmos mecanismo de ação da cocaína.
Para entender mais quais são os sinais e os efeitos da dependência de ritalina, conversamos com o médico psiquiatra do Hospital Santa Mônica, Dr. Marcel Vella Nunes. Continue a leitura e saiba mais!
Consumo de ritalina no Brasil
O metilfenidato — nome científico da ritalina — é o estimulante mais consumido no mundo. O seu uso é indicado para o tratamento de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Além disso, também é utilizado em casos de narcolepsia e obesidade, com algumas restrições.
A ritalina vem sendo utilizada como a primeira opção no tratamento de TDAH, por muitos anos. Apesar de crianças e adolescentes serem os principais consumidores, a recente ampliação dos critérios de diagnóstico passaram a incluir adultos também, o que certamente contribui para a expansão da base de usuários do medicamento.
O último dado do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, publicado pela Veja, revelou que o Brasil é o segundo maior consumidor de ritalina no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, entre 2004 e 2014 a importação do medicamento cresceu 373% e a maior disponibilidade provocou um aumento de 775% no consumo.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária entre 8 a 12% das crianças do mundo foram diagnosticadas com TDAH. Em geral, são crianças com dificuldades comportamentais, agitadas e inquietas. No entanto, segundo especialistas, em muitos casos há um diagnóstico equivocado provado pela ansiedade dos pais por uma resposta, além da falta de compreensão e paciência. Para eles, essa é o principal motivo que elevou o Brasil ao posto de segundo maior consumidor.
Contudo, existem dois tipos diferentes de usuários, de acordo com o médico psiquiatra do Hospital Santa Mônica, Marcelo Vella Nunes. Nas palavras do médico, “temos aqueles que fazem uso crônico, devido a alguns problemas de saúde, por isso, a frequência do consumo pode vir a causar uma potencial dependência. Mas temos também os usuários instrumentais, que são pessoas que fazem uso para obter ganhos específicos”.
Atualmente, os estudantes deram um novo uso para ritalina, ela entrou para lista das smart drugs. O medicamento passou a ser utilizado para melhorar a concentração no período pré-prova, quando estudantes passam horas se preparando para os exames. “Por isso, muitas pessoas chamam de droga da inteligência”, acrescenta dr. Marcel.
Assim como também cresceu o uso recreativo, adolescentes misturam o medicamento com bebidas alcoólicas ou outras drogas para dar “onda”. Uma vez que, por se tratar de um estimulante, a ritalina mexe com o sistema nervoso central e tem um efeito psicoativo. Além disso, muitas pessoas a utilizam como anorexígeno, porque o remédio tende a diminuir o apetite.
Perigos no uso indevido de ritalina
O uso indevido da ritalina ocorre em todas as faixas de idade. Na infância, são os próprios pais que costumam dar o remédio aos filhos, na expectativa de que eles tenham um melhor comportamento e desempenho escolar. Adolescentes e jovens utilizam o medicamento tanto para melhorar a concentração nos estudos quanto em festas e baladas. Já adultos, consomem para ter um melhor resultado em cursinho e concurso, ou para emagrecer.
No entanto, de acordo com especialistas, estudos mostram que o medicamento não possui uma eficiência comprovada, se realmente melhoram o desempenho de indivíduos, sem as doenças para quais a ritalina é indicada.
Até mesmo pessoas com diagnóstico positivo para TDAH podem sofrer com alguns efeitos colaterais, tais como: insônia, falta de apetite, irritabilidade e perda de peso. Há casos em que as crianças ficam ainda mais agitadas e propensas a desenvolver quadros psicóticos. Para quem usa o medicamento, além desse quadro, há ainda o risco de desenvolver dependência de ritalina.
Embora os psicoestimulantes tenham baixo potencial de dependência, o seu uso de maneira abusiva e sem prescrição e acompanhamento médico podem causar a necessidade de uso frequente. “A longo prazo, a ritalina pode levar a um quadro de dependência, bem como outros sintomas como supressão total do apetite, pressão alta, distúrbios de sono, ansiedade e depressão”, revela o médico psiquiatra.
Dependência de ritalina: como procurar ajuda
A dependência de ritalina acontece quando o usuário não tem mais controle sobre a sua vontade ao utilizar o medicamento. Assim, por vezes algo que começa como uma ajuda para concentrar nos estudos se torna uma necessidade, sem o qual a pessoa já não consegue ficar mais sem. A dependência pode causar ainda crise de pânico e ansiedade.
“A grande questão da dependência é que além da repercussão clínica, ela também causa um efeito social. Então, além dos efeitos colaterais na saúde, a pessoa ainda tem que lidar com a incapacidade de trabalhar, estudar, manter os compromissos e a agressividade, o que causa um grande efeito no meio social”, completa dr. Marcel.
No entanto, é válido ressaltar que não é apenas o uso sem prescrição médica que pode causar a dependência de ritalina. Até mesmo pessoas que recebem a orientação de um profissional podem desenvolver uma compulsão pelo medicamento se o utilizarem de maneira abusiva.
Também é importante entender que existem dois tipos básicos de formulação da ritalina. Uma tem liberação imediata no organismo e a outra prolongada. A primeira, é a mais comumente utilizada como droga recreativa, por isso o seu uso deve ser restringido apenas a casos especiais. Já a segunda, não causa o “barato” que muita gente procura, por isso tem sido mais prescrita, como forma de diminuir o consumo indevido.
O tratamento para dependência de ritalina é no igual ao utilizado para tratar outras dependências. O paciente passa por um processo de desintoxicação e acompanhamento psicológico para que consiga ficar limpo da medicação de forma saudável e duradoura. Durante, esse período também é comum que as clínicas e hospitais trabalhem um plano de conscientização para diminuir os riscos de recaídas.
A dependência de ritalina é uma dependência química como qualquer outra, por isso é muito importante que ela seja identificada e tratada o quanto antes. Porém, fazendo uso correto da medicação, ela é benéfica para os casos em que é indicada, como o TDAH. No entanto, é importante que o consumo desse remédio seja acompanhado por um médico psiquiatra.