Pé dormente, choquinhos, formigamento, pontadas, fisgadas, agulhadas e até mesmo alfinetadas: cada paciente relata de uma forma

Eu costumo chamar também de “sintomas elétricos”, que são todos os epônimos de um sintoma não tão comum, mas preocupante que, por vezes, se desenvolve durante a atividade esportiva.

O formigamento é uma sensação irritante na pele, mas introduz o medo em alguns atletas durante uma corrida ou atividade esportiva, geralmente de impacto. Os dedos do pé do corredor começam a formigar e ficar dormentes, e essa dormência pode progredir ao longo da parte superior ou inferior do pé e, ocasionalmente, para o tornozelo e perna.

Pé dormente na maioria das vezes implica numa compressão do nervo. A área específica do pé dormente indicará o local de compressão mais provável.

Dedos
Dormência para os lados adjacentes de dois dedos sugere um problema entre os dedos dos pés. O local mais afetado nestes casos é o lado de fora do terceiro e do interior do quarto dedo do pé. Conhecido como neuroma de Morton, o nervo desenvolve lentamente uma camada mais espessa de tecido gerando uma tumoração benigna que leva a alteração de sensibilidade local.

Dormência durante a corrida se desenvolve a partir da atividade esportiva de impacto, batendo o pé contra superfície rígida como o asfalto ou calçada, ou quando se usa um sapato estreito, principalmente no ante pé, ou até mesmo meias grossas que geram compressão em determinado ponto gerando um edema quase imperceptível.

O corredor pode tentar medidas simples para reduzir a pressão. Estes incluem a escolha de um sapato com um amplo espaço principalmente anterior da caixa de dedos (ante pé). Aconselhamos também usar uma almofada ou palmilha amortecedora. Isto pode espalhar/separar suavemente os ossos gerando conforto. Medicamentos apenas prescritos pelo ortopedista, portanto embora o corredor não precise parar, sempre aconselhamos procurar um médico para avaliação.

Se todos os esforços conservadores falham, a cirurgia alivia a dor que muitas vezes acompanha a dormência, geralmente faz- se a descompressão das síndromes compressivas ou retira-se o fator que causa a compressão como nos casos dos neuromas. Os dedos dos pés, no entanto, podem ficar permanentemente anestesiados ou levemente com a sensibilidade alterada nos casos crônicos.

Tornozelo
Dormência de todo o pé ou apenas da metade da parte inferior ocorre quando um nervo é comprimido ao nível tornozelo. O interior do tornozelo é conhecido como o túnel do tarso. Correndo por este túnel temos três tendões, uma artéria, uma veia e nervo tibial. Semelhante à síndrome do túnel do carpo mais conhecido no punho, o nervo pode ficar comprimido, causando a síndrome do túnel do tarso.

A dormência, e às vezes dor, inicialmente é agravada pela corrida e atividades que suportam peso. Eventualmente, os sintomas podem evoluir para dor de repouso ou dormência. Devemos investigar também lesões expansivas que comprimem também a região como um pequeno cisto, esporão ósseo, até mesmo concentração de gordura local ou hérnia muscular.

Mais comumente, a compressão mecânica simples causada por um sapato ou movimentos excessivos do pé estreita o espaço do túnel e irrita o nervo. Mais uma vez, os esforços não cirúrgicos incluem um período de descanso para reduzir o inchaço, as tentativas de controlar o movimento excessivo com órteses e bandagens.

A liberação cirúrgica é limitada aos casos recidivados e crônicos sem melhora com o tratamento conservador. Felizmente, a cirurgia é necessária com muito menos frequência do que como a síndrome do túnel do carpo. Esta síndrome pode ocorrer em um pé ou pode afetar ambos os pés simultaneamente.

A compressão dos nervos que atravessam a frente do tornozelo, ou parte superior do pé provoca dormência na parte superior do pé. Na maioria das vezes isso é causado por aperto excessivo dos cadarços. Pessoas com arcos elevados são particularmente vulneráveis a este problema. Basta soltar os cordões dos tênis usando uma técnica “lacing” modificado ou aplicar algum estofamento debaixo da língua sapato pode ajudar a reduzir esses sintomas.

Finalmente, a dormência no pé pode indicar uma condição médica. Consulte o seu ortopedista caso a dormência persista sem melhora com essas manobras simples.

Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. www.anapaulasimoes.com.br

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