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Questionamentos sobre a indicação de botox para controle do bruxismo

postado em 2 outubro, 2019

Entre modismos e literatura científica abre-se um campo de discussão na indicação de toxina botulínica para controle do bruxismo, a pergunta é: por que indicar?

Com o “boom” da utilização de toxina botulínica (o popular botox) por cirurgiões-dentistas nos últimos tempos, vemos abrir, entre modismos e literatura científica, um campo de discussão entre classes na mesma profissão, além, claro, entre profissionais de diferentes áreas da saúde. Como profissional apaixonada pela área de DTM e Dor Orofacial costumo acompanhar os embates, ano após ano, sobre proibição ou autorização da prática, limites e áreas anatômicas em que a atuação é permitida, mas me fogem as discussões que pontuem os motivos pelos quais indicar este procedimento. Nós, cirurgiões-dentistas, estamos aptos e conquistamos a possibilidade de oferecer a toxina botulínica como um tratamento para os pacientes, mas a questão seria: tratar o quê?

Levando em conta se o incômodo do paciente são rugas e linhas de expressões a especialidade é a harmonização orofacial, estamos aqui hoje para levantar 3 questões sobre as indicações para controle de bruxismo (deixaremos para outro – longo – texto quando o assunto for dor de cabeça):

1 – A primeira delas é sobre a crescente queixa de jovens que chegam diariamente ao consultório em busca de restaurações estéticas por conta do desgaste dentário provocado pelo bruxismo. Mas, antes, é preciso investigar a causa, a fisiopatologia, ou seja, os mecanismos que originam o bruxismo, assim como a classificação e diagnóstico para então realizar um planejamento odontológico adequado. Desconfie de soluções simples, e principalmente de palavras como “tratamento”, afinal, não sei se sabem, mas o bruxismo não tem cura.

2 – Segundo é prestar atenção na fase em que ocorre a atividade de mastigação (o bruxismo). Ao longo do período de 24h, ou como chamamos: o ciclo circadiano; podem haver episódios da atividade de forma distinta, sendo o bruxismo em vigília a atividade durante o dia, ou bruxismo do sono quando à noite. Neste último caso, a atividade é involuntária, ou seja, ela acontecerá com a aplicação de toxina botulínica ou não.

3 – Durante o dia, sua mandíbula precisa se movimentar para atividades como mastigar, triturar alimentos, deglutir a saliva, bocejar; mas, há maneiras mais eficazes de controlar a atividade dos músculos da mastigação neste período. Aqui, a toxina botulínica auxilia na diminuição da força empregada da contração por um período de tempo curto, porém não vai impedir que essa musculatura realize os movimentos funcionais necessários. Na clínica Ki Conceito, por exemplo, aparelhos de eletromiografia nos auxiliam a medir e mostrar a força da contração muscular individualmente, o que torna o controle do bruxismo em vigília mais duradouro e eficaz.

São vários os efeitos prejudiciais decorrentes do bruxismo, e através de um deles, o desgaste dentário, conseguimos acompanhar ao longo dos anos a eficácia do planejamento, por meio do scanner intra-oral, com escaneamento das arcadas dentárias e acompanhamento do arquivo digital. Em tempos de modismo, questionamentos são imprescindíveis. O desgaste é apenas um dos efeitos deletérios do bruxismo dentre tantos outros como disfunção temporomandibular (DTM), dores na face, ao mastigar e movimentar a mandíbula, dor de cabeça, dores próximas ao ouvido. Dessa forma, permanece a dúvida: por que indicar a toxina botulínica?