Por Norberto Chadad*

Sócrates – o filósofo grego, não o jogador de futebol – dizia há mais de 2.000 anos uma frase sábia: “Conhece-te a ti mesmo”. A recomendação vale para os dias de hoje. Antes de tomar qualquer decisão, você precisa compreender as suas próprias motivações, características, competências e habilidades.

Vou dar um exemplo. Alguém diz para você: “Puxa, gostei do seu atendimento. Já pensou em ser vendedor?”. E você para e pensa: “É mesmo… Como nunca pensei nisso antes?”

É um sinal de que você não refletiu sobre si mesmo, não se descobriu de verdade.

Esse autoconhecimento ocorre em diferentes estágios da vida, dependendo da pessoa e das circunstâncias que ela enfrenta. O trabalhador que escolhe o caminho do funcionalismo público aos 18 anos em busca de estabilidade e salário fixo possivelmente não será desafiado a perscrutar seu íntimo e verificar que outro caminho poderia ter tomado na vida. A tendência é que ele permaneça mergulhado na rotina – cômoda ou incômoda – das suas obrigações.

Por outro lado, o mesmo jovem de 18 anos munido de ‘rebeldia’ e disposto a se entender, avaliar os sonhos e correr atrás deles antes de tomar uma decisão profissional possivelmente poderia encontrar um emprego mais instigante e motivador, para o qual tivesse vocação.

Vocação é a palavra-chave. O trabalhador mais feliz é aquele que faz o que gosta.

Como eu disse, o autoconhecimento pode ocorrer com alguém num estágio mais maduro da vida profissional. Pode surgir de uma ruptura emocional, da falência da empresa onde trabalhava, de uma reforma estrutural da instituição onde atua, de um acidente, uma doença, ou até um insight que o faça ver que está desperdiçando a vida num trabalho rotineiro e chato.

O que fazer, então? Sair correndo e pedir demissão para buscar outro emprego que ofereça mais realização? Tem gente que faz isso, mas não é recomendável. Precisamos ter cuidado com os impulsos. É importante avaliar primeiro as próprias motivações, refletir sobre os possíveis obstáculos e então decidir o que se quer fazer da vida. Aí pesquisa-se o mercado, traça-se uma meta e prepara-se um plano.

Portanto, a resposta para o título deste artigo é esta: existe um momento certo para cada pessoa quando se trata de trocar de carreira. E, pode acreditar, nunca é tarde.

Há dezenas de exemplos. Lembro-me de uma reportagem publicada pela revista Exame (edição de 25 de fevereiro de 2016), que mostra alguns casos. Um deles é Marcos Amaro, filho dos fundadores da TAM, o comandante Rolim Amaro. Começou carreira trabalhando com o pai, mas em 2013 decidiu vender tudo o que tinha e virou artista plástico. Garante que está mais feliz agora. Bruno Minervino fez um trajeto quase inverso: interessado pela informática, evoluiu na área da publicidade digital e aos 24 anos era gerente de operações online em diversas empresas. Foi a partir de um telefonema-convite que resolveu largar tudo e se tornar piloto de avião.

Mas um dos casos mais emblemáticos, para demonstrar que não existe época e nem idade certa para trocar de carreira, é o da Juliane Marinho. Depois de atuar como advogada por 18 anos, tendo chegado a ocupar o cargo de diretora jurídica e diretora de investimento na Odebrecht, abandonou tudo para criar uma empresa virtual que, entre outras coisas, ajuda pessoas a promoverem sua transição profissional.

Aí está. É possível mudar de profissão aos 24 ou aos 44. Basta se conhecer bem, respeitar a própria vocação e trabalhar para encontrar o lugar mais adequado para a sua satisfação profissional e pessoal.

*Norberto Chadad é Engenheiro Metalurgista pela Universidade Mackenzie, Mestre em Alumínio pela Escola Politécnica, Economista pela FGV, Master em Business Administration pela Los Angeles University e CEO da Thomas Case & Associados, consultoria de soluções em gestão de pessoas e de carreiras com 40 anos de atuação. www.thomascase.com.br

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